Pesquisar este blog

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Antes Morrer de Pé do que Viver de Joelhos

     Me recuso a acreditar que a vida se resume a isso...
     Me recuso a crer que estamos aqui para servir, me recuso a compreender como você pode aceitar isso...
     Não estou aqui para servir... se a vida dádiva, como ela como ela pode ser desperdiçada, como pode ser arrancada e maculada, como?
     Não aceito a exploração do homem pelo homem.
     Por quê insistem em subjugar minha alma e meu corpo a padrões e leis que não me fazem sentido?
     Apenas pelo seu conforto?
     Ou pela preguiça de alguns, que riem enquanto o povo explorado chora lagrimas de sangue?
     De poucos que comem caviar enquanto lucram com seu trabalho escravo e suas guerras?
     Esses não são humanos, são animais que gozam da morte de crianças e mulheres, com os estupros, os massacres, a violência e ignorância que trabalham noite e dia para manter...
     Este são os sustentáculos do Estado, são os seus cúmplices e donos da mentira chamada democracia...
     Pois eu juro
     Jamais servirei a qualquer estado!
     Jamais servirei aos detentores da força, monopólio da violência, aos que fogem da razão e aniquilam nossa liberdade...
     Sem Deus, sem pátria, sem estado, sem amos ou senhores!
     Nascemos para ser livres, e viveremos essa ânsia até nossos últimos dia...
     Antes morrer de pé que viver de joelhos!

Extraído:

Banda: Phobia Punk Rockers
Álbum: Antes morrer de pé que viver de joelhos
Faixa: 1
Gravado: Janeiro 2003

sábado, 28 de novembro de 2015

Por estranho que pareça...

Por estranho que pareça,
quem não se governa, governa.
quem não tem ambição de se deter,
detém,
quem não se conhece, ensina.
Por estranho que pareça.

Parece estranho
que o estranho seja tão conhecido
e o conhecido tão estranho.

E eles estão lá, brigando
para ver quem vai mandar.
Estranho: alguns olham e levam a sério.

E eles estão lá, mandando
para ver quem vai e obedecem
Estranho: alguns ouvem e obedecem.

E eles vão para lá, prometendo,
para ver quem vai cobrar
Estranho: alguns esperam.

Alguns querem mandar.
Alguns esperam o mando.
Estranho: são alguns,

A maioria vivendo livremente.
Estranho: para a minoria a maioria
parece minoria.

Extraído:
Livro: Sem Bandeiras
Autor: Teotonio Simões
Editora: Semente
Paginas: 34 á 35

domingo, 22 de novembro de 2015

Formas de socialismo

     O socialismo foi e é um pensamento politico e social que mais ramificações proporcionou aos políticos profissionais e aos oportunistas até nossos dias.
     Há quem se intitule socialista e defende teses anti-socialista; são, como mais afirmou com muita propriedade José Prat, "defensores de um socialismo que tanto pode ser aceito pelo papa, como por um presidente de republica".
     Poucos são hoje, os socialistas que aceitam a doutrina na fiel definição. Cada um ajeita a seu modo e conveniências os "socialismo".
     Por um lado, há quem separa o socialismo do comunismo, do coletivismo, do anarquismo e do sindicalismo revolucionário ou anarco-sindicalismo.
     Há ainda, os que acreditam e defendem cegamente o "socialismo" sendo criação de Karl Marx, ignorando tudo mais que e depois dele se disse e se fez. E finamente, os sectários, os que só admitem como válido e verdadeiro o socialismo implantado na URSS ( União das Republicas Socialistas Soviéticas) por Lenin e Stalin.
     Fechar os olhos á realidade e pensar que hastear uma bandeira vermelha seja o suficiente para funcionar o verdadeiro socialismo é de um infantilidade monstruosa. O socialismo é algo é algo mais profundo e humano. Suas raízes são tão antigas quanto o ser humano; tem suas bases nas aldeias comunitárias e desde então recebeu enxertos e ampliações nem sempre benéficos.
     Não somos nós que vamos, nesta pequena brochura, aclarar todos os pontos divergentes, negativos, apresentados em nome do socialismo. Isto precisaria de alguns volumes. Tampouco vamos defender cegamente umas das escolas, atacando as demais; vamos tentar nesta síntese, contribuir para que os menos avisados de dêem conta da existência das diversas correntes socialistas, e aguçar-lhes o desejo da pesquisa da verdade histórica e suas origens.

     Socialismo - Sistema de sociedade na qual - doutrina social segundo a qual - os meios de produção estão socializados. Entende-se por meios de produção: o solo, o subsolo, as águas, os imóveis, os maquinismos, os utensílios de trabalho em geral.

     Coletivismo - Variante do socialismo: Sistema de sociedade na qual - doutrinas sociedade segundo qual - os meios de produção são possuídos coletivamente; a produção será distrubúida proporcionalmente ao esforço de cada componente.

     Comunismo - Variante do socialismo: Sistema de sociedade na qual - doutrina social segundo a qual - os meios e os objetos de consumo, isto é, todas as coisas apropriáveis pelo homem são posse comum. A diferença entre coletivismo e comunismo reside apenas na partilha dos produtos de trabalho. O coletivismo determina "A cada um segundo suas obras", enquanto o comunismo aconselha: "A cada um segundo suas necessidades". Em ambos os casos, a propriedade é comum e os meios de produção coletivos.

     Anarquismo - Filosofia de vida socialista: Sistema, doutrina ou teoria - ou conjunto de sistema e doutrinas ou teorias - relativo às sociedades em estado de anarquia.

     Anarquia - É um sistema de sociedade onde todos os seres humanos gozam da liberdade plena, instrução e educação; são racionalistas e cada componente é aceito de conformidade com seus peculiaridades. Os bens são propriedade comum, a produção de acordo com suas capacidades e a distribuição a cada um de acordo com suas necessidades.

     Bolchevismo - Variante do socialismo: Doutrina politica dos socialistas russos que lhe desejavam a ampliação integral do programa máximo de Lenin; é também empregado como sinônimo de comunismo marxismo.

     Existe ainda o socialismo de Estado, que pretende harmonizar o capital e o trabalho através de leis "protetora dos mais fracos" e preconiza a ocupação de cargos políticos pelos seus membros a fim de se "apoderar do governo menos oportuno" e modificar-lo. Esta corrente saiu da 2º Internacional e parte do princípio de que o governo já existe, e o que se precisa fazer é apenas modificar a sua maquina burocrática.
     "Há o socialismo católico - afirma Saverio Merlino - o ateu, o protestante, o sunita; o anti-sunita, o materialista e o darwinista; o idealista e o cético; o econômico-politico, o jurídico, o ético, o cientifico e o libertário; o operário e o meio burguês, o patronal e o cesarino; o autoritário, o anarquista, o coletivista e o individualista". Aqui poderíamos acrescentar o nazista que se chamou "Nacional Socialismo".
     Socialismo tem que ser igualdade social, amor livre, substituir o templo pela escola racional, o quartel e suas armas por casas sociais, os conventos por bibliotecas, centros de estudos sociais e pesquisas cientificas, os cárceres por casas de saúde e recuperação, dando ao comerciantes, aos magistrado, ao padre, ao advogado, ao policial, ao militar, ao politico e ao burocrata uma profissão produtiva e útil à coletividade, para que cada homem com direitos se torne um produtor com deveres, substituindo as palavras "o meu", "o teu", por "o nosso". Isto é socialismo! O resto é pura mistificação.
     Socialismo é humanismo no sentido puro, é a universalização do saber, da ciência, da cultura, por se tratar do resultado, do somatório do esforço, de muitas gerações ao longo do séculos!

Extraído:
Livro: Socialismo síntese das origens e doutrinas 3º edição revista e aumentada
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: Achiamé
Pagina: 19 á 21
Ano: 2006

domingo, 25 de outubro de 2015

Aos homens de coração e talento

     Professores: educais as crianças com delicadeza de sentimentos, inspirando-lhes nobres ideias, para que no dia de amanhã não sofram as conseqüências dos princípios ás vezes errôneos que lhes gravastes nas suas mentes inexperientes; fazei, enfim, com que essas flores desabrochem com a sua candura e propriedades naturais.

     Poetas Músicos: façais com que os vossos cantos percorram o mundo todo em rítmicas belezas, entoados à terra de todos. Que as vossas produções tenham o poder de entusiasmar as multidões e despertar-lhes as nais nobres aspirações.

     Escritores e romancistas: ao escrevestes vossos livros, fazei, em primeiro lugar, a análise das causas que motivam todos os crimes na sociedade atual; descreve-a tal qual ela é. Se tendes coragem, indicai o modo e a forma de de sair deste evitamento, mostrando ao mundo a organização de uma sociedade baseada no amor e na justiça.

     É a obra que realizam os íntegros de inteligência e de sentimentos.

     Advogados e juízes: useis da máxima franqueza, e dizei qual é o papel que desempenhais na sociedade, de que cor é a justiça que aplicais e se estais convencidos dos defeitos de que adoece, mostrai-os aos homens.

     Com isto, ilustrareis as massas da inutilidade das leis e a sua substituição pelo mutuo acordo.

     Pintores e Escultores: sedes os gladiadores pela arte e que os vossos instrumentos sejam ao mesmo tempo como espadas de aço bem temperadas, desafiando todas as tiranias, causas do mal-estar.

     Que as vossas concepções inspirem o bem e o amor entre os homens.

     Médicos e higienistas: tendes a ousadia de mostrar perante o mundo as causas dos males físicos e mentais e quais são os remédios eficientes à cura da humanidade que tomba diariamente ao peso da má organização social.

     Engenheiros 
e inventores: pergunteis aos açambarcadores, aos egoístas, qual é o uso que fazem dos vossos engenhos, pois que antes os meros lucros sacrificam o resto da humanidade, substituindo o braço pela máquina e lançando os milhares de indivíduos nas incertezas do amanhã. E se protestam, ai estão os carceres para impedir que se movam e gritem, atirando à face dos tiranos os seus crimes.

     Capitalistas, proprietários: convencidos de que o ouro acumulado reside a vossa felicidade, entregai-vos à exploração do próximo, o que constitui um furto... legal, fazendo-os proveito exclusivo da vossa família, desprezando aos mesmos que criam a vossa riqueza.

     Homens de Estado: saídos da burguesia, sois solidários com vossa classe em prejuízo das classes dos produtores. Quisermos nos dissésseis por que causas as riquezas extraídas à terra pertencem exclusivamente a um certo número de indivíduos, a possuidora, em detrimento da classe produtora.

     Militares profissionais: educados desde a mais tenra idade na arte de assassinar coletivamente, nãos vos percebeis que existe um sentimento que domina o amor e que o apoio mútuo, em vez da luta, deve ser à base das relações entre os homens?

     Religiões e castas sacerdotais: cada uma das religiões, que são numerosas, diz ser possuidora dos textos revelados.

     Todas se acusam, mutuamente, de blasfema e, portanto, qual é a verdadeira?

     Seria edificante que nessa época blasfema, demonstrásseis em que ponto do cosmo está o vosso Deus, a que sexo pertence e que idade tem; onde acharam os materiais para criar o universo se antes da criação era o caos, o nada...

     Aos proletários: gigante onipotente que tudo forma; força formidável que a natureza arrancas a vida, organismo que irradias a beleza por sobre a terra, porque vives curvados sobre ela e a compreendes; homens que viveis na vossa dor e na esperança de dias melhores, vossas forças que esgotam no drama que em redor se desenrolam dia após dia; os vossos inimigos tramam novos crimes contra vossa existência e na inconsciência não percebeis os novos grilhões que os tiranos forjam? E por serdes bons confiados não advertis que tudo vos arrebatam, até a saúde, a honra, os bens e vosso futuro, os parasitas que na abundancia vivem de vosso esforço?

     Mas a piedade de sonhadores nobres está alerta e lança no teu cérebro sementes novas de amor e rebeldia; procura nortear-lhe para a Revolução que no horizonte se desenha, poupando o sangue de culpados e inconscientes e iluminando a sua mente das idéias que hão de mudar este mundo ruim em uma sociedade futura de amor, de bem estar e de justiça.

Extraído:

Livro: Anarquismo e Anarquia
Autor: Florentino de Carvalho
Editora: Imprensa Marginal
Paginas: 129 á 131
Ano: 2010

PARE PARA PENSAR!!!

     Os governantes só querem nos roubar
     Os políticos só sabem enganam
     Falam na TV que as coisam vão melhorar
     Mas na hora só pensam em roubar!
     Até quando você vai acreditar
     Nas farsas que os políticos te falar?
     Até quando você vai acreditar?
     Que um politico vai te ajudar?
     Pare para pensar!!!
     Não seja um parasita
     Presa fácil de enganar
     Vote nulo e não se iluda!
     Vote nulo e vá pra luta!
     Até quanto você vai acreditar?
     Pare Para Pensar

     Nós devemos nos organizar
     No trabalho e na escola
     Pro sistema destruir
     Nós devemos nos unir
     No trabalho e na escola
     E também no lugar onde a gente mora
     Pro sistema destruir
     ...
     Vote nulo e não se iluda!
     Vote nulo e vá pra luta!
     Vote nulo e não se iluda!
     Não vote em filho da puta!
     Pare pra pensar!!!...

     (de: The Pendents)

Extraído:
Jornal: A Plebe
Edição Nº 38 Setembro de 2004
Órgão de divulgação do núcleo pró-Federação Operaria de São Paulo\Confederação Operaria Brasileira (Fundada em 1915)

sábado, 27 de junho de 2015

Do que é composta a Câmara?

   Eleitor, teria a ingenuidade de crer que o Parlamento reúne a elite da nação? Pensas que a Câmera reúne as glorias da Ciência e da Arte, as ilustrações do pensamento, as competências da Industria, do comércio e da Agricultura, as probidades da Finança? Estimas que o temível poder de governar um povo de quarenta milhões de habitantes é atribuído ao mais honestos e aos mais merecedores?
     Se sim, desengana-te. Passeia teus olhares pela Câmera e vê por que tipo de gente ela é ocupada: advogados sem causas, médicos sem clientela, comerciantes suspeitos, industriais sem conhecimentos especiais, jornalistas sem talento, financistas sem escrúpulos, desocupados e ricos sem ocupações definidas.
     Todo esse mundo intriga tagarela, barganha, faz agiotagem, faz negócios, debate-se, empurra-se e corre em busca dos prazeres, da riqueza e das sinecuras fartamente retribuídas. Isso te surpreende, cândido eleitor? Um minuto de reflexão dissipará tua surpresa. Pergunta-te como se faz que X, Y ou Z sejam deputados.
     Seus cargos são recompensas pelos méritos manifestos, pelas ações de impacto, pelo bem realizado, pelos serviços prestados, que os recomendaram à estima e à confiança públicas?
     Recebem o salários justos pelos conhecimentos especiais que adquiriram, pelos altos estudos com os quais percorreram o brilhante ciclo da experiência que lhe vele toda uma experiência de trabalho?
     Foi exigido deles, como exige dos professores, farmacêuticos, engenheiros, exames, diplomas, a admissão em certas escolas, o estágios regulamentar?
     Observa: este deve seu mandato ao dinheiro; aquele à intriga; o terceiro a uma candidatura oficial; o quarto ao apoio de um jornal do qual ele engordou o caixa; aquele outro ao vinho, à cidra, à cerveja ou ao álcool do qual encheu a goela de seus mandantes; esse velho coquetismos complacentes de sua jovem esposas; esse jovem ás promessas ofuscantes que ele prodigalizou de palmas, tabacarias, cargos e recomendações; todos a procedimentos mais o menos ilícitos que não têm qualquer relação com méritos ou o talento; todos, de todas as maneiras, no total de sufrágios que eles obtiveram.
     E o numero nada tem a ver com o mérito, a coragem, a probidade, o caráter, a inteligência, o saber, os serviços prestados, as ações de impacto. A maioria dos sufrágios não consagra nem o valor moral, nem a superioridade intelectual, nem a justiça, nem a Razão.
     Estamos autorizados a dizer que é bem o contrário.
     Sejamos justos: alguns homens superiores, de tempos em tempos, desgarraram-se nesses locais mal-afamados, mas é o reduzidíssimo número; não tardaram a se encontrar desnorteados e incomodados e, a menos que não tenham insensivelmente condescendido em desempenhar seu papel nas cabalas, inspirar-se nas paixões dos partidos, manter seu lugar nas intrigas de corredor, eles foram rapidamente postos em quarentena e reduzidos à impotência.

Extraído:
Livro: Eleitor, escuta! \ A podridão parlamentar
Autor: Sébastien Faure
Editora: IEL Instituto de Estudos Libertários
Paginas:24 á 26
Ano: 2006

sexta-feira, 19 de junho de 2015

A CIÊNCIA A SERVIÇO DA DEGENERECENCIA HUMANA (Maria Lacerda de Moura)

     A humanidade, considerada na especie, conserva a mentalidade rotineira, atrasada, impirica, de todos os tempos, de todos os rebanhos. Ainda mais: a civilização sufoca o instinto animal de defesa.
     A evolução é individual, e o conservantismo das massas é assegurado pela influencia ancestral fossilizada no subconsciente coletivo e pela educação, domesticadora até o servilismo.
     Mas, si o rebanho humano é sempre o mesmo, faminto de pão e divertimentos, guerras ou circo, politica ou cinema, sedentos de prazeres brutais e gargalhadas sensuais, essa vaga imensa ondulando ao sabor de um Alexandre, um Amilcar Barca, um Anibal, um Xerxes, um Cesar, Napoleão, Mussoline, Papa, Dempsey, Tunney, um Chico Boia, um Rodolfo Valentino, – em compensação a ciência progrediu tanto que deu origem a fantástico desequilíbrio na vida social, posta imediatamente a serviço das perversidades inomináveis, de toda a imbecilidade humana.
     Descobertas, investigação, os métodos científicos atestam o esforço da elites intelectual. Por outo lado, cientistas se vendem cinicamente ao poder, ao capital, á vaidade das exibições.
     E o capitalismo industrializado se apoderá de todo essa afan científico, mesmo ainda em embrião, de maneira que canaliza as energias humanas em uma direção única — a luta de competições, a concorrência econômica,  o assalto às posições já ocupadas, o nacionalismo e, consequentemente, as guerras.
     Todo o gênero humano vive para a cumplicidade brutal da prostituição sob todos os aspectos, pois que a organização social capitalista não passa de um bordel em que se compram e vendem todos os sentimentos e as mais nobres aspirações, o Amor e a Consciência, as mais altas manifestações da Vida humana.
     E toda a humanidade, em tempo de paz como em tempo de guerra, vive, luta pela cumplicidade que leva os humanos a se estraçalharem ferozmente nos campos de batalha.
     E, enquanto nas Igrejas se prega o "Amai-vos uns aos ao outros", e se lembra o "Não matarás", sacerdotes patriotas abençoam aviões, couraçados e bandeiras, na França contra a Alemanha, na Alemanha contra a frança, na Italia, na Belgica ou na Austria, em nome do mesmo Jeová terrível, em nome do Deus sanguinário de todos os exércitos, das pátrias exclusivistas e do chauvinismo cristão.
     Dá-se ainda um fenômeno digno de nota: os próprios cientistas não se subtraem á influencia das massas. Enquanto nos seus gabinetes, em meio de retortas e maquinas, experimentam, pesquisam, atordoam-se na inquietação absorvente de resolver problemas ou aproximar-se de determinada verdade, são admiráveis, superiores, grandes na sua perseverança; logo que atingem a uma pequena realização e veem para o cenário social aplicar o resultado de suas experimentações, caem no nível das massas, descem á domesticada, servil e perversa das Pátrias e dos partidos.
     Acorda-se o nacionalista, o religioso a serviço da superstição e da ignorância, o cidadão a serviço dos governos e das bandeiras, contra outros governos, outros cidadãos e outras bandeiras.
     E toda a sua ciência se prostra aos pés do capital e sua industria.
     O esforço superior do homem livre é deturpado, é prostituído.
     Todas as descobertas, sem exceção alguma, todas as pesquisas da ciência são açambarcadas pelos interesses industriais e para as conquistas da guerra, consequentemente.
     A aviação é instrumento nacionalista e as façanhas aviatórias, ainda que um Amundsen, um Charcot, um Nansen delas se sirvam para descobrimentos científicos, são manejos da embriagues patriótica ou da maroteira politica - para açular os "cidadãos" á defesa sagrada da pátria gloriosa... E até as palavras tem o seu prestigio no despertar das emoções ou das paixões capazes de acordar o sentimento do dever nacional.
     mas, quem move os cordéis da diplomacia e do Estado são os banqueiros, os famosos industrias de aviões, submarinos, couraçados, torpedos e metralhadoras - todos os canibais que se nutrem dos campos de batalha.
     E o rebanho humano continua a defender e a respeitar, patriótica e religiosamente, a todos os interesses legislativos e nacionalistas, a toda autoridade constituída para afiar o cutelo que ha de cortar, piedosamente, o pescoço e abrir o ventre dos que vão, entoando hinos, alimentar a boca escancarada dos canhões, das maquinas de guerra que recebem e trituram a carne humana e a transformam em moeda corrente com que os grandes industriais e os políticos, seus cúmplices, compram o poder, a gloria e as cortezas.
     Até mesmo a bondade imensa de Mme. Curie está trabalhando para a destruição do gênero humano.
     Santos Dumont o sente, profundamente arrependido de haver contribuído para a carnificina gloriosa dos milhões de vitimas da ferocidade civilizadora iniciada em 1914.
     O cinematografo cultiva a imbecilidade, o preconceito da força bruta, o prejuízo patriota, a superstição religiosa, a moral farisaica da sociedade filistéa, o mundanismo parasita, todas as tolices seculares e todos os crimes de lesa-felicidade humana.
     Rara película de tese social elevada. tão rara que a assistência, no seu conjunto, a repudia...
     Descoberta feliz, sonhada talvez pela escola moderna, para o cultivo da inteligência, caiu imediatamente nas malhas do industrialismo absorvente e foi colocada ao sabor e ao alcance das massas, em vez de servir para elevar a mentalidade humana ao nível do ideal cientifico puro e das aspirações de renovação social pela educação.
     Mas, ha tanta impudência e tanta cupidez na civilização de industria que um film como o livro de Remarque consegue atravessar as malhas da reação burguesa.
     Dá que pensar: a civilização do dollar será engolida por si mesma, morrerá de apoplexia.
     O que se verifica com o cinematógrafo a serviço da imbecilidade e da ignorância sentimentalista, dá-se também com o rádio.
     Já a radiotelefonia é instrumento da polícia, e uma agência de anúncios de todas as drogas literária acadêmica, a droga historico-patriotica, a droga das caravanas políticas e a droga dos encontros de pugilato e dos concursos comercias de beleza.
     Santos Dumont, Edison, Marconi, Mne. Curie – instrumentos de progresso material para  a conquista do poder, do dinheiro, para a conquista do poder, do dinheiro, para o alargamento dos fronteiras nacionais contra outros capitais, outras bandeiras e outros nacionalismos.
     Marconi já vendeu a própria consciência: fascista, marquês, senador, presidente nomeado da Academia de Letras italiana...
     Cada descoberta científica é nova fonte de conflitos internacionais, tudo correndo para liquidar mais depressa o gênero humano.
     Neste momento, todos os grandes laboratórios químicos estão ocupados no fabrico de gazes sempre a cada vez mais tóxicos, para a próxima guerra.
     Sabe-se mesmo que será também aproveitado o trabalho dos cientistas ocupados hoje em cultivar e exasperar a virulência dos micróbios das mais terríveis moléstias.
     Até mesmo o mundo proletariado, embora o protesto contra a civilização burguesa-capitalista, cava a degenerecia da espécie e coopera para essa luta dantesta, ora imprimindo as imbecilidades escritas pela burguesia acadêmica, patriótica e mundana, ora fabricando munições e armas de guerra, mesmo porque todas as conquistas do progresso material constituem armas de guerra para o sustentáculo do domínio de uns e do servilismo e domesticidade da maioria.
     Seria bem preferível que o operário amputasse ambas as mãos si se resolve a trabalhar em arsenaes de guerra, de hidroplanos e metralhadoras, couraçados e torpedos. Deveria ter vergonha de si mesmo ao reivindicar os seus direitos de liberdade, após 8 horas de trabalho em estaleiros de navios de guerra ou em um arsenal de idiotices perversas ou de brigas de comadres, como por exemplo, as redações de imprensas oficiais.
     De qualquer modo, dentro da civilização, todos nós concorremos para o canibalismo patriótico das trincheiras e das pilhagens militares.
     Entretanto, o trabalho intelectual não exclui o trabalho manual e vise-versa; pelo contrário, a harmonia de todo a ser vem da energia física em ação e do prazer de pensar e agir e criar mentalmente.
     O único homem que não contribui diretamente para a guerra, para a destruição, para a fome, para a peste, para a miséria física e moral e o pequeno agricultor.
     Não o capataz que dirige, governa e explora, de rebenque em punho, que humilha o semelhante, enriquecendo a custa do suor alheio, mas, o humilde lavrador que cava a terra e semeia a nutrição, a vida , a força, a alegria da fartura e da fecundidade sadia, porem, que não exige o intermediário para as suas transações comerciais.
     A volta ao trabalho rude da terra será, portanto, a consciência tranquila, para além de toda cumplicidade com a organização social, baseada na exploração do homem pelo homem?
     Nem sempre. Parece-se que ainda não.
     E' justamente na produção da terra e mesmo na propriedade da terra em si, que se alicerça todo o formidável edifício da exploração social.
     Si ninguém plantasse senão o estritamente necessário para si e para os seus filhos menores, para os velhos e para as mães e as crianças e os inválidos da sua família, ao menos tempo praticando o auxilio mutuo, - não se formariam "trusts" de café, de açúcar, de algodão, de arroz, de trigo, de mate, de todos os gêneros de primeira necessidade, para fortuna dos reis da agricultura industrializada - que não plantam e se enriquecem á custa do suor dos que plantam.
     Daí a concorrência aberta para as lutas comerciais de competição, origem das guerras modernas.
     E' o excesso da produção, sob todos os aspectos, na lavoura como nas industrias, causa de todos os conflitos na sociedade atual. O nosso mal não vem da falta e sim do excesso de produção. A miséria do mundo moderno ainda vem da fartura e do excesso de riqueza e de progresso material. Da má distribuição dos gêneros alimentícios. Por ora, a terra daria bem para a sua população.
     E o operário verdadeiramente consciente, operário manual ou cientista manipulando o pensamento no fundo das retortas ou nos cálculos e problemas, á procura das leis naturais, em busca da razão de ser da vida - não fabrica armas para abrir ventre dos seus próprios filhos em holocausto no altar da pátria, esse ídolo sanguinário de fauces escancaradas a absorver as energias de todos os assalariados do trabalho.
     Si houvesse verdadeira compreensão do dever humano, os indivíduos livres, homens e mulheres conscientes, se recusariam a pactual com essa civilização de vampirismo social, voltariam ao trabalho duro da terra, á vida simples e natural, porem cheia de compensações, de liberdade, para deixar sentir a alegria da consciência que não desce á cumplicidade de lutar em favor do esmagamento de toda a humanidade.

Extraído:

Livro: Civilização Trancos de Escravos
Autor: Maria Lacerda de Moura
Editora: Civilização Brasileira
Paginas: 9 á 19
Ano: 1931
     

terça-feira, 9 de junho de 2015

A NOSSA JUSTIÇA

     Não entendemos por justiça, quando dela falamos, aqueles que ditam os códigos e a jurisprudência romana, fundados em grande parte sobre os fatos violentos impostos pela força, consagrados pelo tempo e pelas bênção de uma igreja qualquer, cristã ou pagã, e como tais aceites como princípios absolutos, cujas deduções nada mais são que princípios muitos lógicos; não falamos também da justiça que se funda unicamente na consciência dos homens que encontreis em todos e até na consciência das crianças e que se traduz em simples "equação". Esta justiça universal que, graças às imposições da força e às influências religiosas, nunca prevaleceu na esfera política, nem na jurídica nem na econômica; deve servir de base no novo mundo. Sem ela, nada de liberdade, nada de república, nada de propriedade, nada de paz! Ela deve presidir a todas as nossas resoluções para que possamos contribuir eficazmente para o estabelecimento da paz.
     Esta justiça obriga-nos a tomar por nossa conta a causa do povo até hoje tão terrivelmente maltratada e a reivindicar para ele, com liberdade política, a emancipação econômica e social. O que vos pedimos é proclamar de novo este grande princípio da Revolução Francesa: que todo homem deve possuir os meios materiais e morais de desenvolver toda a sua humanidade, princípio que se traduz segundo nós. No problema seguinte:
     Organizar a sociedade de tal modo que todos os indivíduos, homens ou mulheres, ao começar a sua existência, encontrem iguais para o desenvolvimento de suas diferentes faculdades e de utilizar o seu trabalho; organizar uma sociedade que, tomando impossível a cada indivíduo explorar a outro, seja quem for, não lhe impeça de gozar as riquezas social que na realidade contribuiu diretamente a produzir co. O seu trabalho.

Mikhail Bakunin¹

¹ – Anarquista dos mais vigorosos. Nasceu na Rússia (1814 - 1876). Ignorou títulos e pátrias.

Extraido:
Livro: Um século de história Político-social em social em documentos
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: Achiamé
Página: 105
Ano: 2005

terça-feira, 26 de maio de 2015

A MULHER INTELECTUAL E O AMOR

     Marañon não focalizou o problema da mulher intelectual como soube focalizar o conceito clássico da maternidade.
     O fato de George Sand ter tido muitos amantes não quer mesmo dizer vida passional rica.
     George Sand, Isadora Duncan, a Duce – todas infelizes, justamente procurando o amor e se desiludindo, incapazes de compreender, diante do máximo problema da tragédia de ser dois... Talvez a Duce tivesse amado. As outras não encontrarão o amor.
     Duas grandes raças sociais – homens e mulheres – buscam-se e não encontram, justamente porque a luta dos sexos chegou a fazer de ambos duas especies, duas raças sociais com caráter específicos e... "imbecilidade também especificas"... Nem um dos dois chegou a compreender que cada qual deve aceitar o companheiro tal como é, com as suas qualidades "especificas" e os seus defeitos "específicos".
     O homem tem receio da mulher superior, mas a deseja apaixonadamente.
     Uma castidade da consciência a afasta das experiências vulgares. As vezes, erra, quase sempre, na escolha do que lhe parece superior.
     Mas, encontra de novo o caminho, que é retroceder... Seria imperdoável permanecer no erro, e, seria inútil insistir: é-lhe repugnante.
     Em todas as classes sociais, o homem (permitam-se a expressão grosseira mas, unica:) "fareja" na mulher superior uma presa original.
     E nem um deles, desde o operário mais bronco até o intelectual mais fino, nem compreende o direito de escolha a que deve ter direito uma mulher mulher emancipada. Postam-se á nossa frente, quase gritando que ali estão para serem  os "escolhidos"... Que preciosidade são as exceções!...
     Ha tantas mulheres "generosa", que em uma mulher excepcional, por qualquer característica especifica, pode bem se abster de o ser com os homens comuns - que são, sob todos os rótulos, os que atravessam no nosso caminho.
     Compreendo, entretanto, que george sand se tenha dado a Chopin, a Bakounine, a Flaubert... Mas, infelizmente, os Bakounune, os Flaubert e os Chopin, são únicos... e nem sempre se encontram no mesmo seculo e ao nosso alcance... E os artistas, e os homens celebres – é melhor conhece-los só pelas suas obras de arte ou de pensamento...
     Amo profundamente a Wagnar, a Han Rynar, a Romain Rolland e Beethowen, a Einstein.
     Mas, o homem mais culto e mais sábio dessa ciência a que dão o nome de sabedoria e o mais grosseiro camponês ou caboclo – são perfeitamente iguais em ralação á mulher.
     A cultura, a ciência, a intelectualidade pura sem essa alta espiritualidade que vem do coração – não bastam, não satisfazem ás aspirações da mulher superior.
     Todas as mulheres intelectuais encontram em seu caminho muito amor, muito entusiasmo, muita admiração dos homens, e, por mais simples ou mais modestas, podem exacerbar muito desejo.
     E deviam dizer dessas coisas – como subsidio psicológico de umas paginas femininas e mais no grande livro da vida.
     Não é verdade que as mulheres intelectuais tiveram sempre uma vida passional pobre. Pelo contrario.
     E as que subiram muito alto e tiraram das coisas a lição correspondente, procurarão conservar a liberdade por amor ao amor...
     E prezar imenso a castidade ou a austeridade sexual – porque se deveriam envergonhar da preocupação absorvente do sexo nas experiencias vulgares das criaturas comuns, que pensam encontrar no contacto sexual apenas – a suprema felicidade e que borboleteiam inutilmente atrás do impossível. Porque – amor não é contacto de epidermes...
     Tem razão Marañan, quando discute a tése de que esses "corredores" de mulheres, esses Don Juan da variedade são indivíduos de sexualidade ambígua, equivocada, em vez de protótipo da virilidade...
     Para mim, o amor completo, integral, sentimental, tem de realizar a afinidade mental, espiritual, sentimental. Mas, cada um com as suas características de sexo, as suas qualidades especificas, sem que tente modelar ao outro pelo seu temperamento ou pelos seus tributos pessoais e pelo sua individualidade.
     Cada qual, sendo o que é, verdadeiramente, e com coragem heroica de se apresentar tal qual é.
     Demais, queremos o impossível, queremos a felicidade a dois. A felicidade não existe a dois: só ha momentos de felicidade, instantes de harmonia a dois.
     E é o suficiente para alcançamos o paraíso. Compreendendo isso, sentindo-o, conseguimos realizar o milagre do Amor.

Extraído:

Livro: Amai e... não vos multipliqueis
Autor: Maria Lacerda de Moura
Editora: Civilização Brasileira
Paginas: 194 á 197
Ano: 1932   

sábado, 23 de maio de 2015

A INICIAÇÃO SEXUAL PARA AMBOS OS SEXOS

     E é lógico: "haveremos de morrer de fome, si não encontramos o prato que mais apreciamos?"
     Porque não tentar nova experiência amorosa, si a primeira falhou, matando algumas ilusões mais caras?
     Ninguém pergunta ao homem pela sua vida sexual antes do casamento (e pela existência a fora...); pelo contrário, é ridicularizada a virgindade masculina e todos são unânimes em achar necessário o tirocínio na questão e é mais que razoável e ha toda condescendência para os "pecados" da juventude masculina.
     Na sociedades dos países escandinavos, como na Alemanha, na Rússia, no norte da Europa geralmente, nos Estados  Unidos ou das experiências amorosas anteriores – quando procura realizar uma nova experiências ou a felicidade dentro da liberdade no amor.
     Aliás, todos os "casos" se devem resolver segundo as possibilidades individuais
     Que cada qual solucione o seu problema, como puder ou como entender.
     Mas, para encontrar o "homem", " esse homem " que todo o nosso ser deseja através de um sonho delicioso e prometedor de integração, é preciso formular um ideal de amor, procura-lo, "saber distingui-lo"; do contrário, corremos o risco de estiolar o nosso organismo, de adormecer a sensibilidade, de mutilar o nosso corpo e esmagar o nosso sonho, de matar as aspirações, de embotar as faculdades mentais e sentimentais no tipo " solteirona ", fazendo de nós criaturas fora das leis biológicas, fora da natureza, uma nota desafinada no concerto universal.
    Não tem nenhuma criatura humana que passe pela vida sem sentir ou sem provocar atração de um individuo do sexo diferente.
     A lei de atração e repulsão, a lei da gravitação universal é generalizada, abarca os mundos, os seres microcosmo.
     Si, sob o ponto de vista afetivo psicológico, a escolha é difícil e o gosto feminino, talvez mais exigente, si o nosso sonho, sonha a perfeição, tanto quanto possível, ou a harmonia paralela Á nossa harmonia interior, a natureza, por sua vez, serve-se do instinto, das criptas subconscientes para as suas leis de atração e repulsão, em prol da multiplicação da especie.
     e nos obriga a pagar tributo caro, sei a desrespeitamos, cometendo nós os "pecados fisiológicos", os crimes de lesa-natureza que os animais, que os animais, os chamados irracionais estão longe de perpetrar.
     E, sob o ponto de vista ético, por razão a mulher não pode ou não deve colher das experiências amorosas o mesmo poema, o esforço, a luta, uma batalha, o cinzelar da estatua interior e uma vitoria dentro de si mesma?
     Porque a mulher em busca do grande Amor, em busca da verdadeira "afinidade eletiva" integral, que, para mim, é o poder de combinação, é atração sob todos os aspectos, é a harmonia e o equilíbrio, é a independência mutua através da interdependência efetiva de todos os complexos psicológicos, é a atração eletro-magnética, sentimental e mental de dois polos que se buscam e de duas linhas de evolução paralela que se encontram e se completam, – por que a mulher, buscando esse milagre de felicidade, não tenta a experiência amorosa através das leis da atração universal, colhendo o que lhe parece mais superior, mais perfeito, mas belo, mais harmonioso?
 *
*    *

     É erro sob o ponto de vista fisiológico, a ideia de que a castidade absoluta conserva toda a energia vital do individuo – para que possa entregar-se de corpo e alma á atividade mental, e que toda soma de poupadas na continência sexual forçada pode ser aproveitada na vida intelectual.
     A vida sexual não exclui a castidade.
     Si os excessos de qualquer natureza são sempre prejudiciais, também o repouso absoluto de um órgão ou o não funcionamento traz os mesmos inconvenientes, quiçá mais graves.
     A preocupação constante, a ideia fixa, o poder da vontade aplicado a vencer a natureza, desrespeitando-a – produz "fobias", doenças imaginarias, desordens orgânicas e é consequentemente, empecilho á atividade intelectual prolongada.
      Todos nós conhecemos a historia soa monges da Tebaida, os escândalos dos conventos, a histeria, os estigmatismo e a exaltação mistica doentia ou anormal dos santos da santa Igreja.
     Explique-se como quiser, quer se entre no domínio da psico-patologia, das forças do chamado inconsciente ou da metafisica, o que é certo é que o álcool ou entorpecentes ou venenos e até a sugestão podem produzir exaltações do mesmo gênero.
     A abstinência forçada parece agir no organismo de certos temperamentos, como esses entorpecentes momentanios e fatais.
     Encontramos, por vezes, nomes de grandes artistas e eminentes cientistas como sendo celibatários, ingenuidade que não vem ao caso: celibato não quer dizer castidade perpetua...
     Assim, é difícil, é quase impossível que a mulher ou o homem conserve toda a integridade física e mental, toda a seriedade de espirito para as investigações cientificas e éticas – si vive só, sem um afeto mais intimo, sem satisfazer as necessidades fisiológicas inerentes ao sexo, para a mulher, principalmente, as necessidades de ordem afetiva-sexual.
     Agora, satisfazer as necessidades sexuais não é cair no extremo oposto, viciando-se – tal como se dá com a maioria do gênero humano, transformando uma função orgânica em atos repetidos e multiplicados de libertinagem ou luxuria, sem nenhum domínio sobre os sentidos.
     Mas, a ansiedade contra a qual impossível lutar, uma inquietação absorvente, o desassossego de quem espera indefinidamente, o "surmenege", a melancolia, a misantropia, as desordens do aparelho digestivo – eis a estrada larga e angustiosa percorrida pelo intelectual que tenta fugir de exercer todas as suas funções orgânicas ou que está impedido, por qualquer motivo, de viver a vida em toda a plenitude orgânica, afetiva e mental.
     Para a mulher superior é, de fato, complexa, difícil a solução do problema, no meio latino de protetores e senhores, cavaleiros andantes, moraliteistas farisaicos, cristãos manogamos a representar a comedia do tartufismo da civilização unissexual.
     Si não encontra esse grande amor, essa "afinidade eletiva" que é todo o seu sonho de cada instante?
     Mas, e a integridade da sua saúde, para qual urge tomar providência imediata, conforme o seu temperamento?
     E a luta interior, a luta contra o preconceito enraizado, contra o que nos ensinaram, o que herdamos, contra tudo o que é artificial em nós, contra a timidez aprendida e milenar e que não passa de requintada hipocrisia através da educação dos "bons costumes"?
     E a rotina, a moral dos escribas desta sociedade que sabe de tudo isso, porem, prefere o que é feito ás escondidas, e exige, publicamente, o "recato" da mulher e a mimoseia com epítetos os mais deprimentes, os mais humilhantes, si ela não espera que a colham, "como uma flor" para enfeite de lapela... e si dá ao eleito, procurando viver a vida e evitando assim, a consequência desastrosas para a sua saúde física e psíquica? Demais, quantos milhares de mulheres baixam á sepultura, envelhecidas de esperar em vão que as colhessem "como uma flor"?...
     É perfeitamente inútil esse sacrifício contra a natureza, esse "pecado fisiológico" imperdoável, não mais condizendo a moral dos nossos dias com os conhecimentos biológicos, com a psiquiatria, com a psicanalise, com os esforços ingentes que vem fazendo a mulher para se libertar de todos os "detetives morais" que a prendem, brutalmente, á geena das convenções sociais.
     Si é difícil entre nós, latinos, a solução do problema feminino, si é amargura e tormenta interior o drama da emancipação da mulher, si as precursoras se sacrificam anatematizadas por uma civilização de caftismo oficializado, não é desesperador olhando o problema na sua verdadeira face que é o prisma individual, porque ha individualidades masculinas de grande valor ético e de admirável sensibilidade que procuram a solução para o problema afetivo, alarmada de não encontrar o tipo mental feminino que as complete para a harmonia dos dois. Ha uma quase tragedia nesse desencontro...
     São mais raras: o homem se contenta mas facilmente. A natureza os fez apenas para fecundar no plano físico... e tal exigência fecha-lhes o cérebros na apreciação da mulher. Só os sentidos amam no homem. Embora o seu protesto veemente diante da mulher superior pela elevação ou pela cultura, o homem, si se entusiasma pela mulher intelectual, ainda é a exigência dos sentidos a prever um "caso" original, uma emoção mais requintada, um prazer diferente, a vaidade dos casos singulares... A exceção masculina é quase a divindade...
     Está sempre de pé a tragedia dos sexos, o drama de ser dois: a mulher ama com o coração, com a sensibilidade afetiva.

Extraído:

Livro: Amai e... não vos multipliqueis
Autor: Maria Lacerda de Moura
Editora: Civilização Brasileira
Paginas: 155 á 161
Ano: 1932

domingo, 17 de maio de 2015

Catecismo Anarquista

- És anarquista?
- Sim, porque sou trabalhador consciente.
- Que é ser trabalhador?
- É viver do esforço do seu trabalho.
- Quando se pode dizer que o trabalhador é consciente?
- Quando conhece as causas de sua miséria e as combate.
- Que é trabalho?
- É o esforço para produzir?
- Que é produzir?
- É criar riqueza.
- É tudo que pode ser útil ao homem.
- Então o sol é uma riqueza?
- Sim, como o ar, a água, os peixes etc.
- Mas o sol não é produzido pelo homem.
- Não, por isso se chama riqueza gratuita.
- Há outras riquezas gratuitas?
- Há, o ar, a chuva, os rios, os mares etc.
- A terra será uma riqueza gratuita?
- Deveria sê-lo, porque é a matéria natural da produção das riquezas minerais e orgânicas; mas não o é.
- Por que não o é?
- Porque é possuída por alguns homens em prejuízo da maioria dos homens.
- Isso é Justo?
- Não, Isso é a causa da maioria parte da desgraças humanas, Que dirias de um indivíduo que pudesse apropriar-se da luz e do calor solar e o fizesse para vendê-los depois aos outros homens?
- Que seria um infame!
- Que dirias dos homens que se apropriam de toda a terra e não permitam que os outros a cultivam?
- Que são infames.
- Que dizes de uma sociedade que mantém esse regime?
- Que é uma sociedade de prejudicial ao homem e portanto precisa ser reformada pela extensão do direito de propriedade particular.
- Quem mantém essa propriedade particular?
- O governo, isto é, alguns alguns homens que pretendem dirigir os outros homens.
- Qual é o meio de que lançam mão para tal fim?
- A lei, e para garantir a lei o soldado.
- Que é lei?
- O conjunto de regras impostas pelos reis, conquistadores, capitalistas etc... às classes trabalhadoras com o fim exclusivo de manter a propriedade particular, isto é, a posse das riquezas, e regular a sua transmissão.
- O que é soldado?
- É o trabalhador inconsciente que se sujeita aos possuidores da terra para manter essa posse a troco de um miserável pagamento.
- Como se sujeita a ele?
- Sujeita pela disciplina.
- Que é disciplina?
- É a escravidão da vontade do soldado ao seu superior. O soldado obedece ao que lhe mandem sem como nem porquê.
- Qual é o oficio do soldado?
- Matar.
- Mas a lei não proíbe matar?
- Proíbe, mais se o soldado matar um trabalhador que protesta contra o governo, a lei declara que o soldado é virtuoso.
- O papel do soldado é digno?
- Não. É o mais vil possível.
- E como trabalhadores se fazem soldados?
- São iludidos pelos governantes e arrastados pela miséria.
- Como conseguem iludi-los?
- Com fardamentos vistosos e inflamados neles o preceito do amor à pátria?
- É um sentimento mesquinho que leva o individuo a supor que os que nasceram no seu território são superiores aos outros homens.
- Esses sentimentos leva a más conseqüências?
- É o elemento principal que arrasta as massas humanas à "Guerra".
- Que é guerra?
- É o processo de dominação pela morte.
- Como se explica?
- A história monstra que os "grandes" de uma nação armavam soldados, adestravam-nos e subjugavam pela força os homens de outras terras, ou pera escravizá-los, ou para se apossarem da lavoura, suas minas, de suas riquezas até mesmo de suas mulheres. Os diretores dessas guerras, um Cambyses, um Alexandre Magno, um César, um Napoleão. Eram simples bandidos que procuravam justificar suas invasões com pretextos fúteis de "honra, vingança, amor à Pátria". Hoje as guerras são as mesma coisa, luta por causas de colônias, de comércio, de capitais comprometidos.
- Que faz a guerra?
- São os capitalistas, por intermédios dos diplomatas e pelos canhões movidos pelos soldados.
- Que fazem os soldados da policia?
- Mantêm a chamada ordem ou "hierarquia", isto é o regime de autoridade pelo qual os inferiores se subordinam aos superiores. Desde que alguns trabalhadores procuram levantar-se contra os exploradores a policia intervém para "manter a ordem" isto é obrigar os trabalhadores a se submeteram à exploração.
- Como reformar isso?
- Extinguindo a propriedade particular e tomando posse da terra coletiva.
- Mas fará essa reforma?
- Os dirigentes capitalistas não farão porque seria contrários dos seus interesses; logo essa reforma só pode ser feita pelos trabalhadores.
- Como se chamará o regime da propriedade coletiva?
- Chamar-se-á Anarquia.
- Que significa esse nome?
- Significa "não-comando", isto é, exclusão dos superiores e portanto "igualdade, não autoridade".
- A anarquia existe ordem?
- É o único meio de obter ordem e verdadeira ordem, que hoje é mantida apenas pela compreensão. Basta que por um dia suprimam a polícia e o exército para a "desordem" atual se manifeste em desmando de toda a espécie¹.

¹. Rio de janeiro, 1918

Extraído:

Livro: Um século de história politico-social em documentos
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: Achiamé
Pagina: 150 á 152
Ano; 2005

sexta-feira, 1 de maio de 2015

A letra mais importante (Eduardo Galeano)

     O menino uruguaio Joaquín de Souza está aprendendo a ler e pratica com os cartazes que vê. Ele acredita que a letra P é a mais importante, pois tudo começa com ela:
     Proibido entrar
     Proibido fumar
     Proibido cuspir
     Proibido estacionar
     Proibido colar cartazes
     Proibido jogar lixo
     Proibido fazer fogo
     Proibido fazer ruído
     Proibido...

Extraído:
livro: O teatro do bem e do mal
Autor: Eduardo Galeano
Edtora: L&PM Pocket
Pagina:42
Ano: 2014

Pedagogia da violência (Eduardo Galeano)

     Segundo o general Marshall, somente dois de cada dez soldados de seu exército utilizavam os fuzis durante a Segunda Guerra mundial. Outros oito portavam de armas como adorno. Anos depois, na guerra do Vietnã, a realidade era bem outra: nove de cada dez soldados das tropas invasoras faziam fogo, e atiravam para matar.
     A diferença estava na educação que havia recebido. O tenente-coronel David Grossman, especialista em pedagogia militar, sustentava que o homem não está naturalmente inclinado à violência. Ao contrário do que supõe, não é nada fácil ensinar a matar o próximo. A educação para a violência exige um intenso e prolongado adestramento, destinado a brutalizar o soldados e a desmantelar sistematicamente sua sensibilidade humana. Segundo Grossman, esse ensino começa, nos quartéis, aos dezoito anos de idade, mas fora dos quartéis começa aos dezoito meses: a televisão dita esses cursos a domicílio.
     -Foi como na tevé - disse um menino de seis anos que assassinou uma companheirinha de sua idade, em Michigan, no inverno neste ano.

Extraído:
livro: O teatro do bem e do mal
Autor: Eduardo Galeano
Edtora: L&PM Pocket
Pagina: 113 á 114
Ano: 2014

A felicidade (Eduardo Galeano)

     Já se sabe que o dinheiro não produz a felicidade, mas também se sabe que produz algo tão parecido que a diferencia é assunto para especialistas.
     Contudo, a peste da tristeza está fazendo estragos nos países mais ricos. As estatísticas da Organização Mundial de Saúde informam que, agora, a depressão nervosa é dez vezes mais frequente do que há cinquenta anos nos Estados Unidos e na Europa Ocidental.
     As estatística revelam as vertiginosas mudanças ocorridas, no último meio século, nos prósperos países que todos querem imitar. Ansiedade de comprar e ser comprado, angústia de perder e ser descartado: nos centros do privilégio, as pessoas duram mais, ganham mais e têm mais, mas se deprimem mais, enlouquecem mais, embriagam-se mais, drogam-se mais, suicidam-se mais e matam mais.

Extraído:
livro: O teatro do bem e do mal
Autor: Eduardo Galeano
Edtora: L&PM Pocket
Pagina: 113
Ano: 2014

sexta-feira, 24 de abril de 2015

AS MULHERES NA TRAGÉDIA DE CHICAGO (01-05-1886 \ 11-11-1887)

     Faz em 11 de novembro do ano em curso 94 anos, quase um século, que o proletariado sofreu um dos maiores duros golpes de sua historia.
     A tragédia começou na Praça Haymarket, América do Norte, quando elementos libertários discursavão perante uma multidão de cerca de 340 mil trabalhadores que pretendiam co horas de 8 horas de trabalho.
     O lema dos oradores do 1º de Maio de 1886, era:
     "Oito horas de Trabalho!"
     "Oito horas de Repouso!"
     "Oito horas de Educação!"
     Seu desfecho foi um saldo de 100 mortos e feridos e a coordenação à morde por enforcamento, Jorge Engel e Augusto Spies; 2 à prisão perpétua: Miguel Schwab e Samuel Fielden; e Oscar Neebe a 15 anos de prisão.
     Muita gente contribuiu para que a tragédia perpetrasse: O Chicago Time com sua campanha sórdida contra os operários; a polícia; o falso testemunho do Capitão John Bonfield e dos civis Setinger, Jassen e Shea; o questionamento dos 979 jurados; a crença reacionária do promotor publico Grinnell e do Juiz Gary, e a obdiência cega dos carrascos.
     O enforcamento deu-se às 11:50 horas do dia 11 de novembro de 1887 e a 25 de junho de 1893, o governador do estado de Illinois, Johan P. Altgeld anulou a condenação e ordenou a libertação de 3 prisioneiros, mas as vidas de Lingg, Parsons, Fischer, Engel e Spies não foram devolvidas.
     Muitas mulheres acompanharam esta tragédia emocionante, inclusive a esposa e os filhos de Parson e a mãe de Luiz Lingg.
     O próprio Oscar W.Neebe declarou perante o tribunal: "Não estive no Comício da Praça Haymarket."
     "Não nego que eu estive entre os padeiros e cervejeiros de Chicago, na luta pela conquista de melhores salários e redução da jornada de trabalho."
     "Tenho esposa e filhos; se souberem que seu pai esta morto, enterrá-lo-ão. Poderão ir até à cova e sentar-se a seu lado, mas não poderão sentar ir à penitenciaria ver seu pai, condenado por um crime que nada tinha."
     Mostrando-se a uma grandeza impressionante a mãe de Luiz Lingg escreveu-lhe: "Depois de tua morte continuarei tão orgulhosa de ti como estou hoje." Declarou mais: "se eu fosse homem, teria feito o mesmo que tu." E  sua tia declarou à imprensa: "Suceda o que suceder, não te mostre débil diante desses miseráveis."
     Por essa época (1886) chegava a Rochester, Estados Unidos, a jovem Emma Goldman, 17 anos de idade, nascida na província russa de Kovno. Tocada pela campanha das 8 horas de trabalho, impressionada com a oradora socialista Joana Grei, em defesa dos Mártires de Chicago, adere ao anarquismo. Tornou-se uma oradora vigorosa e como Joana Grei defende ardorosamente a inocência dos 5 libertários enforcados em novembro de 1887.
     Em 1893, exatamente no mesmo ano em que se reconhecia publicamente a inocência dos 8 condenados e punha-se em liberdade 3 deles, Emma Goldman era condenada em Nova Iorque a um ano de prisão por defender as idéias daqueles mártires.
     Morreu quando ia completar 71 anos de idade, a 14 de maio de 1940, em Toronto, Canadá, e os seus admiradores sepultaram-na ao lado do túmolo dos mártires de Chicago responsáveis pelas convicção libertárias da imigrante russa, transformada no curso dos anos, uma das mais combatidas propagandistas do anarquismo.
     Tocada emocionalmente pelos acontecimentos do 1° de Maio de 1886, outra jovem de 17 anos, Voltairine de Cleyre (1869-19912), nascida em Michigan, Estados Unidos, filha de pai francês, fez-se anarquista e começou a defender as idéias dos Mártires de Chicago.
     Morreu anarquista convicta e feminista como Emma Goldman.
     Por suas idéias, Voltarine de Cleyre conheceu os horrores das prisões americanas, mas nem os rigores dos cárceres nem as perseguições das autoridades lhe alteraram a conduta ou dobraram  a grandeza do seu caráter, forjado no calor das doutrinas libertárias defendidas e programadas pelos Mártires de Chicago em pleno tribunal, que tanto a impressionaram e fizeram dela uma idealista.
     Mas no caso mais polêmico ligado aos Mártires de Chicago é a da jovem aristocrática, Nina Stuart Van Zant, que no curso de processo se apaixonou pelo anarquista Augusto Spies, autor do pronunciamento gravado no Monumento erigido no Cemitério de Waldheine, Canadá, onde repousam os restos dos cinco libertários: "Não tardará o dia em que o nosso silêncio será mais eloqüente do que as nossas vozes que acabais de sufocar."
     Tão logo começou a caçada aos anarquistas pela policia americana, no dia 4 de maio de 1886 a imprensa burguesa redobrou a campanha de difamação contra os elementos da vanguarda proletária, acusando principalmente os anarquistas e os operários membros da Primeira Internacional dos Trabalhadores.
     Denúncias, acusações e calúnias postas a correr pela prensa de Chicago sacudiu e convidou o povo a tomar posições contra e a favor dos prisioneiros libertários.
     Indiferentes ao plano maquiavélico da burguesia e das autoridades, os anarquistas portavam-se com a maior dignidade,  à altura da ideologia que defendiam.
     Um dos gestos que impressionou profundamente as camaradas popular e liberal foi o de Albert Parsons. No dia da explosão (veja-se o livro A Bomba, de Frank Harris), conseguiu fugir para Wisconsin, onde ficou a salvo dos perseguidores, Mas quando soube das acusações contra os seus companheiros voltou voluntariamente para Chicago e foi entregar-se em pleno tribunal, juntando-se a eles e dizendo: "Se é necessário subir também ao cadafalso pelos direitos dos trabalhadores, pela causa da liberdade, e para melhorar a sorte dos oprimidos, aqui estou."
    A intensidade das denúncias burguesas e policiais, os debates em torno da greve de 1° de Maio e as declarações firmes, as convicções corajosas, serenas e conscientes dos anarquistas, levou a jovem aristocrática Nina Stuart Van Zantd a trocar cartas com Augusto Spies e a visitá-lo diariamente na prisão, apaixonando-se pelo homem e pelas  suas idéias.
     Muita gente começou então a visitar os prisioneiros e, uma massa de trabalhadores, por solidariedade.
     Diante da corrida inesperada, as autoridades baixaram ordem limitando as visitas ás esposas e ás mães dos presos.
     Nina ficou impedida e não hesitou um instante: propôs casamento a Augusto Spies para como esposa poder visitá-lo até ao último dia de sua vida. Casaram-se!
     E quando seus familiares e a gente do mundo social a criativa por se apaixonar e casar com um anarquista condenado a morte, a jovem Nina Stuart Van Zantd respondia: - "Prefiro a censura desta sociedade, cuja moral não lhe permite compreender um verdadeiro amor alimentado também pela afinidade de idéias e pela desgraça, a casar-me com algum velho vicioso e inválido, possuidor de grandes riquezas, merecendo desses 'moralistas' muitas felicitações."
(Gazeta do Sul - 14-11-1981)

Extraído:
Livro: O Homem em Busca da Terra Livre
Autor: Edgar Rodriguês
Editora: VJR Editores Associados
Paginas: 142 á 145

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Carta de Kropotkin em defesa dos Mártires de Chicago

Senhor editor do New York Herald.
    A sentença de Chicago indica que o conflito está tomando na América um rumo mais brutal que jamais teve na Europa. As primeiras páginas desta historia começam com um ato de represálias do pior gênero. Uma boa dose vinganças, mas nenhum fato concreto, é tudo o que se infere do processo de Chicago.
     Li com atenção os dados da causa; pensei detidamente os indícios e evidência, e não hesitou em assegurar que semelhante sentença só pode acha-se na Europa depois das represálias levadas a efeito pelos Conselhos de guerra a partir da derrota da Comuna de Paris, em 1871; o terror branco da restauração borbônica de 1815 fica muito atrás.
     Estou completamente de acordo com as mensagens dirigidas ao embaixador americano pelo Ajuntamento de Paris e Pelo Conselho Geral do Sena em favor dos anarquistas sentenciados. Porém o tribunal de Chicago não tem desculpa que tinham conselhos de guerra em Versalhes, a saber: a excitação das paixões produzidas por uma guerra civil depois de uma grande derrota nacional.
     É evidente, de imediato, que nenhum dos setes acusados atirou a bomba alguma. Está por demais provado que alguns não assistiram ao comício de Haymarket e que outros já se haviam retirados quando a policia atacou furiosamente a multidão. Ainda mais: o promotor não sustenta que a bomba foi atirada por qualquer dos sete acusados, posto desse fato acusa outra pessoa que não está sob a ação da justiça.
     Só Spies é acusado de haver entregue um pavio para pôr fogo à bomba, mas o único homem que dá testemunho disso é um tal de Gilmer,cuja má reputação é bem conhecida e cujo o habito de mentir afirmado por 10 pessoas que haviam vivido com ele. Além disso, o mesmo Gilmer declarava haver recebido dinheiro da policia.
     Depois dos acontecimentos de Haymarket, os corpos legislativos do estado de Illinois promulgaram uma lei contra os dinamitadores e estão agora a ponto de promulgar outra contra todo tipo de conspiradores. Segundo esta última lei, qualquer ato ilegal, mesmo que tenha fins legais, será considerado como criminoso. Acaba, pois, de ser destruído um dos principais artigos da Constituição. Segundo reza a futura lei, qualquer incidente que dê por resultado ilegal, será também considerado como delito.
     Não faz falta provar que a pessoa que comete um ato ilegal pode haver lido artigos ou escutado discurso que aconselhavam cometê-lo, e assim agora todos esses artigos e discursos serão responsáveis do dito ato. Fica virtualmente suprimida a liberdade de falar e de escrever. Do mesmo modo a lei francesa reconhece uma relação direta entre a excitação por meio da palavra, falada ou escrita, e o ato executado.
     A nova lei do estado de Illinois me interessa pouco em si mesma e só desejo que conste o seguinte: Sete anarquistas de Chicago foram condenados a morte graças a um simulacro da lei que ainda não o era em 1886, quando se cometeram os feitos de que são acusados. A referida lei foi proposta com o proposito de ser aplicada ao processo de Chicago, e seu primeiro efeito será matar sete anarquista.
Sou de você afetuosíssimo. - P. Kropotkin.

Extraído:
Livro: Primeiro de maio dia de luto e luta A Tragédia de Chicago
Autor: Ricardo Mella
Editora: Achiamé
Pagina: 93 á 94
Ano: 2005

domingo, 19 de abril de 2015

Contradições do Século 20

     O século 20 vai chagando ao fim
     Sua história escrita com sangue humano de duas guerras mundiais, centenas de pequenas guerras, revoluções, revoltas, conflitos de raças, de cores, de religiões, de idéias politicas, sociais, de petróleo e de dólares.
     Soma-se ainda as lutas de classe e por melhor salários, a brutalidade das ditaduras, das prisões por delitos de opinião, as torturas, os assassinatos, fuzilamentos, sequestros por divergências religiosas, politicas e para cobrar resgastes em dinheiro; o empobrecimento de cerca de um bilhão de pessoas e o enriquecimento astronômico de alguns envenenadores da natureza, destruidores das florestas, poluidores dos mares e dos rios.
     A ambição cega gente que só pensa no hoje!
     O século 20 registra também a existência de grandes tiranos como Hitler, Mussolini, Salazar, Franco, Stalin, Fulgêncio Batista, Peres Gimenez, Pinochet, Fidel Castro, Vizela, Getúlio Vargas, Saddam Hussein, Aiatolá Khomeini e centenas de verdugos da pior espécie, na África, na Ásia, na Europa, "socialistas", nazi-fascistas e democratas, no mundo árabe, na América.
     Século de grande progresso tecnológico, eletrônico, ida à Lua, da descoberta da energia atômica e todo um acervo de armas que podem destruir o nosso planeta mais uma vez. Revelou especialistas em matanças coletivas, em genocídios, formação nas academias militares para desencadear guerras computadorizadas, trusts do comércio, da industria,dos bancos, do petróleo e grupos ricos e poderosos da Igreja Universal do Reino de Deus, de seitas evangélicas e muçulmanas que detém fortunas colossais com ajuda eletrônica, no Brasil, na América do Norte e no mundo árabe.
     E o Homem o que ganhou com tantos avanços tecnológicos?
     É menos pobre? Dispõe um mínimo de tranquilidade e de bem-estar?
     As mudanças do século 20 incluem proporcionar a felicidade humana?
     A tecnologia inventada e desenvolvida pelos cientistas e pelos técnicos lembra-se do seu criador? Da sua felicidade, da dos seus, da sociedade? Atende os interesses da Humanidade ou só as ambições de uns poucos magnatas desprezando o centro desse universo: O HOMEM?
     Não há sociedade feliz enquanto gente como nós dormir nas calçadas, de baixos dos viadutos, nos prédios em ruínas, em "casas de latas" e morrer aos poucos de fome.
     O século 20 revelou um outro progresso, filho do terror politico, da exploração desenfreada, do racismo, da religiosidade canibal, cujas "vitórias cantadas", afrontam a inteligência, os direitos humanos e a liberdade de pensar em voz alta, de populações imensas que dominam com mão de ferro.
     A Europa chegou a ser "governada pelo terror dos campos de extermínio nazi-fascistas. Antes do Pan-Germanismo e o Czarismo que apavorou as populações pacifistas, antiguerreiras. Rios de sangues correram na Europa, na América e na África até na implantação do Bolchevismo em 1917, na Rússia e seus satélites. Milhões de pessoas direcionaram sua fé e suas esperanças para esses países. Chegou-se acreditar que a igualdade econômica e social, felicidade humana para todos os habitantes do nosso planeta viria do Oriente. Foram mais de 70 anos de esperança e expectativas em vão... Agora todos os sonhos caíram por terra! Só a pobreza e a desolação dos oprimidos persistentes em doses assustadoras.
     Ao findar o século 20 a democracia usada pelo Tio Sam para invadir e explorar países na América Latina e os ingleses e franceses para saquear e colonizar povos no Ásia, na África e até na Europa, perdeu a sua cotação.
     O partido comunista inclusive os dois brasileiros, pensam em mudar de Rússia (das liberdades máximas, do socialismo real) é posto fora da lei, proibida a sua existência, exatamente como não faz a muito tempo os comunistas proibiam manifestações a organismos que não fossem os seus, principalmente depois que um grupo de marajás soviéticos tentaram depor do governo renovador(?).
     dispuseram-se a dar mais um golpe, desafiar o governo, fuzilar os "traidores" do comunismo e continuar explorando a boa fé do povo. Só que desta vez o POVO russo repetiu a "revolução popular espontânea de Fevereiro de 1917": saiu às ruas e derrotou o exército pondo para correr os golpistas! (Foi este POVO que derrubou a corja de bárbaros comandada pelos Romanoffs, destruiu uma dinastia seculares e expulsou o Czar, em fevereiro de 1917).
     Nesta ultima década do século 20 as esperanças parecem volta-se para o "socialismo democrático". No entanto as democracias empobreceram a América Latina e tal como a islâmica apoiava ditames do Corão, não avança com o propósito de reduzir as diferenças sociais, a miséria reinante nos regimes fortes e nos liberais, chegando para muito ser de fome absoluta. O socialismo em alguns países também é hoje apenas rótulos.
     E não se espere que o século 21 diminuam as disputas pela supremacias tecnológica, com os fortes ameaçando os fracos, para lhe vender armas enquanto milhões de pessoas morrem de fome.
     Se os poderosos não pararem para pensar e fizer reverter a volúpia do poder do homem e do Estado, será o século da catástrofe: a população e as substâncias químicas ajudarão as armas a destruição da Humanidade.
     Só uma EDUCAÇÃO NOVA, humanizada para todos, embutida num sistema redistribuidor de riquezas naturais e das produzidas pelo trabalho de todos e de cada um poderá salvar a Humanidade.
     Em síntese: o século 20 chega ao fim marcado pela ambição neurótica do homem, contrariando o conceito cristão de que somos todos irmãos.
(Flor do Tâmega - 02-10-1992).


Extraido:
Livro: O Homem em busca da terra livreAutor: Edgar Rodrigues
Paginas:236 á 238
Ano:1993

Editora: VJR - Editores Associados

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Bases para Reivindicações e construção de um sindicalismo revolucionário

CONHECE, ORGANIZA, EMANCIPA


Palavras Iniciais

     O sindicalismo revolucionário, as trabalhadoras não esmolam migalhas da mesa e nem pretende ser submissas eternamente!
     Exigimos um meio social/econômico mais digno e enquanto não tenhamos um mundo mais justo, libertário e igualitário em que possamos viver, e que as pessoas vivam, com real dignidade.
     Nossa história, é parte da história do movimento operário combativo, está cheia de desilusões, derrotas e momentos duros.

     Mas também podemos falar com orgulho de nossas conquistas sociais como a jornada de oito horas, as férias, o descanso semanal, conquistas que chegaram não faz tanto tempo e com o risco de serem descumpridas pelas forças empresáriais ou de ser suprimidas pelo Estado ao bel prazer de crises convenientes.
     As bases reapresentadas pela importância e relevância na luta das pessoas trabalhadoras, resumem-se nossas reivindicações, nossas aspirações mais imediatas, os direitos mínimos que cada pessoa deve desfrutar.
     Foi elaborada por trabalhadoras como você, com problemas como os seus.
     Nenhum dirigente partidário ou diretor sindical nos ajudou e nem nos guiou como fazê-la, nenhuma força empresarial influenciou para que diminuíssemos estas reivindicações e tão pouco nenhuma funcionária do Estado ou aspirante a ele, diga-se pessoas politicas e seus partidos (esquerda/direita), nos auxiliou. não. Não aspiramos a profissionalização sindical/politica/partidária, não buscamos o poder, mas a emancipação de todas as pessoas.
     É nossa base reivindicativa, pode fazê-la sua, usa-la, melhorá-la, ampliá-la e sobretudo, esforça dia-a-dia para que cada questão apresentada seja uma realidade em um futuro próximo.
     Negamos os meios autoritários porque só levam a práticas autoritárias e impositivas, não a emancipação social.
     Aspirar a liberdade é construir as condições para que essa liberdade aconteça!
     Trabalhadoras, operárias de qualquer ramo ou ofício, pessoas que sobrevivem com pequenos ordenados, pessoas que seguem adiante com um salário: aqui está nossa plataforma, una-se a nós se possuem aspirações sociais, se luta por um mundo melhor e digno.
     Tenha presente que o capital e o Estado não regulam nada e que cada pequena conquista necessita de uma grande luta.
     Ah! E não duvidem que para nós, é tão importante o que se consegue como a forma que se consegue.
     Saúde e anarcossindicalismo!

I)Aumento do emprego e melhorias nas condições de trabalho.

1)Medidas contra desemprego

     Para evitar o desemprego e evitar que este seja uma ameaça constante contra nossa classe trabalhadora, oprimida e explorada.
     Se faz imprescindível a distribuição igualitária do emprego entre todas as pessoas.
     Para conseguir esta meta, defendemos o seguinte:
     -Jornada máxima de 30 horas semanais, sem nenhum tipo de modificações por supostas necessidades da empresa. A redução de jornada não deve redundar em perdas salariais, assim o trabalho deixará de ser um privilégio para converter-se no direito real que as trabalhadoras tenham, gerando os empregos necessários para que se reduza a jornada de todas;
     -Eliminação de horas extras, banco de horas, vários empregos, jornadas duplas, triplas de trabalho, por serem modalidades da flexibilização do trabalho que tem objetivo de ampliar a exploração sobre as trabalhadoras e evitar a geração de mais empregos;
     -Férias de 30 dias corridos por ano;
     -Redução da idade de aposentadoria para 60 anos, ambos os sexos, com 100% do salário, independente dos fatores previdenciários.

2)Contratação e melhorias de emprego

     Reivindicamos a total eliminação do trabalho precário e escravo.
     Nessa luta, propomos o seguinte:
     -Contratação dos trabalhadores mediante contratos fixos, inclusive dos chamados “temporários” rurais (pessoas contratadas, geralmente em outros estados por uma temporada, visando precarizar as condições de trabalho e desorganizar as pessoas trabalhadoras nos campos);
     -Eliminação da contratação temporária e as terceirizações, que precariza as pessoas trabalhadoras;
     -Supressão de todas as pessoas em regime "temporário" e sua integração nas folhas de pagamentos das respectivas empresas;
     -Regionalização das funcionárias, evitando-se trabalhadoras de outras regiões, visar melhorias nas regiões de origem das pessoas;
     -Revisão dos novos grupos “profissionais” e a manutenção dos ramos profissionais atuais;
     -Denuncia e extinção dos cargos de confiança e das chefias/diretorias que dividem nossa classe, confundindo-a e a manipulando-a;
     -100% de abono aos acidentes de trabalho, invalides, excessos patronais e enfermidades;
     -Assegurar as pessoas as licenças por doenças diversas e que possam promover a saúde preventiva e integridade física;
     -Abolição de contratos por obras e serviços, das empresas de emprego temporário e o uso de “Pessoa Jurídica - PJ”;
     -Redução do trabalho noturno, mantendo-o onde é extremamente necessário e importante socialmente;
     -Inclusão destes tópicos em todas as convenções, dissídios e negociações coletivas, na busca do entendimento das formas de opressão/exploração sobre as pessoas e as busca de mecanismos de defesa.

3)Demissões

     O Sindicalismo Revolucionário está na defesa real dos postos de trabalho.
     Por isso, mostramos nosso absoluto repúdio as demissões coletivas, programas de demissão voluntária, férias compulsórias coletivas e outros expedientes de "crise", mas que não mexem em margem de lucros das forças poderosas etc. Total repúdio também as negociações entre patrões, Estado e “sindicatos oficiais” e que recebem muito para serem fantoches no teatro "legalista", onde as pessoas ficam sempre de fora.
     -Readmissão de todas as pessoas trabalhadoras vítimas dessas enganações patrono-estatal-sindicais;
     -Indenização a todas as pessoas trabalhadoras por estas demissões forjadas em manipulações legalistas institucionais.

4)Reajustes salariais

     Entendemos que as pessoas trabalhadoras, oprimidas e exploradas formam uma só classe social, nossas reivindicações devem ser orientadas para um salário único e justo para todas.
     A aplicação gradual de reajustes lineares que equiparam salários são uma solução de curto prazo, e que a solução definitiva das diferenças abismais entre profissões e coletivos só poderá resolver-se mediante a aplicação de reajustes inversamente proporcionais e que sejam vinculados ao trabalho, quem trabalha, recebe.
     Mas a proposta mais justa ainda é abolição total de todos os salários, através do controle direto das trabalhadoras dos meios de produção, distribuindo assim a produção na sociedade conforme suas necessidades.

5)Salário mínimo necessário

     Conforme as necessidades mensais (alimentação, transporte, lazer, remédios, residência, vestimenta etc) de uma família com duas pessoas adultas e duas pequenas, o que equivale aproximadamente R$ 3.200,00 estendidos as todas categorias e as menores de 21 anos.

6)Licenças e maternidade

     Propomos a cobertura de 100% do salário base desde o 1° dia da licença, independente dos dias abonados. (veja mais no item II-Melhorias na Prevenção Social no decorrer do texto).

7)Segurança e higiene no trabalho

     Ante os inúmeros acidentes de trabalho e a incontável cifra de pessoas mortas devido as omissões patronais e as condições insalubres e precária dos locais de trabalho, exigimos o comprimento das normas e leis referentes a higiene e segurança no trabalho, pelas forças patronais e empresáriais responsáveis.
     Em todo caso, deve-se priorizar a segurança no trabalho e não os benefícios econômicos. A eliminação da hora extra, banco de horas, vários empregos ... oferece também melhoras nas condições de segurança do trabalho.

II-Melhorias na Prevenção Social

1)Maternidade

     Consideramos a maternidade como um direito da mulher trabalhadora e não como uma enfermidade, nem como uma trava na hora de contratação ou desculpa para condições precarizantes ou que criem condições desiguais de tratamento ou recebimentos econômicos.
Portanto:
     -Deve ter cobertura total;
     -A mãe receber apoio das organizações autônomas, até que a criança alcance a idade de escolarização;
     -A mãe, o pai, ou pessoas cuidadoras devem ter direito a pedir um período de afastamento remunerado aos 3 primeiros anos de vida do bebê;
     -Devendo aumentar consideravelmente as creches coletivizadas/públicas.

2)Assistência médica e farmacêutica

     Entendemos que saúde pública é direito que as pessoas mantém com seu trabalho e não existem carências por isso e não devem existir.
     Portanto, a assistência social deve cobrir 100% de todos os serviços médicos e farmacêuticos.
     Devem, pois incluir atendimento as novas doenças, próteses, serviços odontológicos e tudo que diga respeito a uma boa saúde e sua promoção.
     O aborto e os sistemas contraceptivos deverão ser gratuitos e acessíveis a todas as pessoas.

3)Direitos sociais

     O serviço social são para todas as pessoas trabalhadoras desempregadas ou empregadas.
     As retribuições sociais se estipulam a partir do salário mínimo necessário.

III-Redistribuição da renda

     -Repúdio ao sistema vigente de imposição tributária onde as pessoas que menos recebem são as que mais pagam e que agrava o valor do trabalho frente as rendas, lucros (entenda roubos) do Capital;
     -Repúdio aos impostos indiretos que convertem a Classe Trabalhadora em contribuinte fundamental beneficiando as forças mais poderosas economicamente;
     -Aplicação de medidas destinadas a execução da divisão da riqueza, penalizando as desproporcionadas rendas e benefícios do Capital.
     Se trata, definitivamente, de implantar lentamente uma maior e ampla justiça social.

IV-Direitos de participação dos trabalhadores

1)Direitos dos trabalhadores

     Eliminação da legislação trabalhista fascista vigente anti-sindicato e anti-operário e a construção de uma carta coletiva direta das pessoas que realmente trabalham e são oprimidas e exploradas.
     Repúdio da Reforma Sindical e a incorporação dos Direitos Humanos no mundo do trabalho.
     Desenvolvimento de fórmulas de trabalho e de previdência social que eliminem as milhares de pessoas mortas por acidente de trabalho.

2)Direitos sindicais

     Aplicação de uma verdadeira liberdade sindical e e livre associação das trabalhadoras.
     Exigimos a igualdade sindical que termine com privilégios das burocracias e pessoas diretoras sindicais.
     Término do imposto sindical, um dreno das forças de luta das pessoas, abertura a filiação das trabalhadoras a qualquer entidade sindical.
     Fim da profissionalização sindical e dos aparelhamentos partidários e patronais nos sindicatos.
Ser sindicalista não é profissão e nem privilégio de um grupo, é união emancipadora de todas as pessoas trabalhadoras.

3)Negociação coletiva

     Por serem as pessoas trabalhadoras as maiores afetadas nos dissídios coletivos, entendemos que a participação delas é imprescindível nos processos de negociação, não mais feito as portas fechadas e com grupos alheios as trabalhadoras.
     O sindicalismo revolucionário defende que as negociações coletivas sejam feitas diretamente pelas pessoas trabalhadoras, sem mediadores políticos, chefes, burocratas ou diretores sindicais. A luta sindical deve ser feita de forma sempre de forma legitima e não apenas disfarçada de legal. A luta das pessoas trabalhadoras não se deve resumir a quem possua o melhor escritório de advocacia como atualmente convencionou-se através de anos de sindicalismo fascista/legalista/pelego.
     -Todos dissídios, deverão ser negociações propostas em assembleias diretas e aceitação devem ser aprovadas também pelas assembleias das trabalhadoras em qualquer momento que as trabalhadoras entenderem como necessário.
     -Fim dos dissídios pré-datados, sempre favoráveis as forças patronais. As pessoas trabalhadoras sabem o quanto suas contas sobem sem controle e como seus recebimentos são insuficientes para cobrir suas dívidas.

V-Direito a autonomia social

     As novas conquistas sociais e trabalhistas devem encaminhar-se para controle e gestão direta das pessoas trabalhadoras, das empresas, fábricas, campos, serviços ou seja, tudo que diga as relações sociais e sua vivência, sempre focando em formas coletivas, sem negar a cada pessoa a satisfação de suas necessidades básicas, o foco da produção e distribuição e não mais a ganância, lucro e acumulação de poucas pessoas e seus grupos excludentes.
     O direito a autogestão econômica e social é a mais digna aspiração da Classe Trabalhadora.
Toda nossa ação sindical, é edificada sobre associação, a organização, a ação direta e a solidariedade da Classe Trabalhadora.
     Estas constituem as ferramentas fundamentais do trabalho e luta.
     A transformação social para uma sociedade equilibrada, responsável e justa é o nosso grande objetivo.


Extraído:
Jornal: (((A)))Info
Abril 2015
Ano 4
Número 43
Pagina 5 á 9

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Quilombo. O início da Independência

     Creio que é a primeira vez que se dá ênfase a essa comemoração. Já era tempo, porque que se fazia antigamente, aquela que ensinava na escolas, era deformação completa do que foram os quilombos - que eram apresentados como redutores de escravos fugitivos, malandros, criminosos, vivendo na maior promiscuidade.
     A perseguição aos escravos fugitivos era glorificada e a figura do capitão-do-mato, exaltada. As gravuras da época, naturalmente feitas segundo essa tradição, apresentavam o perseguidor magnificamente trajado, montado em fogoso corcel, arrastando os negros esquálidos, com o faciem pior que podiam arranjar. A destruição dos quilombos teriam sido uma obra redentora, uma limpeza do terreno, destinada a restaurar o princípio da propriedade, a ordem, a moralidade.
     Pesquisadores do porte de um Edson carneiro, sociólogos como Gilberto Freire, escritores como Edgar Rodrigues desmentiram essa infância histórica. Daí, o conhecimento melhor e competente desse episódio, cuja grandeza ainda desta vez não esta sendo totalmente revelada.
     Porque não será exagero apontar a epopéia dos quilombos como o inicio da Independência do Brasil. Pois foi com esses negros que nasceu a luta pela liberdade. Basta citar, cronologicamente, a data do Primeiro quilombo e a primeira expedição punitiva: 1602.
     Como colonização portuguesa, inicia-se a historia das lutas sociais no Brasil. A agricultura dominava a economia brasileira. Portugal, em consequência de um tratado com a Inglaterra, não grandes fazendeiros permitia a instalação nem de industria rudimentares. As primeiras tentativas de siderurgia foram assim proibidas no Brasil, como em outras colônias. Havia um artesanato sem expressão, formado por pequenas oficinas interligadas, produzindo para os senhores do engenho e para o governo. A agricultura vivia de mão de obra escrava, alimentada pelo trafego de negros da África chamada portuguesa. Esses escravos, depois de uma viagem em miseras condições, eram desembarcados e vendidos aos grandes fazendeiros que dominavam vastas arias de terra.
     A má alimentação, os espancamentos, o rigor do cativeiro, os castigos,tornavam mais odiosa a sujeição. As torturas são, hoje, peças de museu. Mas eram essas peças que mantinham a escravidão, submetendo homens arrancados de suas aldeias e transportados para outras terras, onde a condição humana lhes era negada.
     O que o admirável e deve ser exaltado é a capacidade de resistência moral desses escravos, que souberam reagir contra a desigualdade social, começando a escrever, a um só tempo, as reivindicações sociais e a independência contra o colonizador-opressor.
     Foram esses negros que não se abateram pela tortura; que preferiram a liberdade, arriscando a própria vida, que que fundaram as primeiras coletividades livres no país, os núcleos  iniciais da independência. A epopéia que começaram a escrever, com bravura, heroísmo e espirito de organização, foi seguida por outros brasileiros, brancos, pretos ou mestiços, nas diferentes tentativas pela independência em Pernambuco, na Baia, em Minas Gerais, no Rio Grande do Sul.
     Confinados nas senzalas e supliciados, os escravos organizavam-se em associações clandestinas, para conseguir dinheiro. A rudeza do trato e as condições de um sistema imposto pelo colonizador obrigaram o trabalhador rural a declarar guerra a esse tipo de propriedade privada, às autoridades que prestigiavam o sistema e ao latifúndio que o obrigava.
     Essa é a origem dos quilombos. Não era possível a reivindicação dentro de um sistema que não comportava reivindicações. Daí, a fuga. E como a perseguição se fazia cruel, os fugitivos se agrupavam, estabelecendo a resistência.
     Formam-se os quilombos. As fuga do trabalhador rural passou a obedecer a um planejamento que se aperfeiçoou, pondo em xeque a economia feudal e desafiando os exércitos da monarquia portuguesa. Nada do banditismo do cangaceirismo dos negros, da heroicidade só reconhecida nos aguerridos exércitos que derrotaram e destruíram as rebeliões campesinas e as comunidades perfeitamente organizadas. Porque os quilombos foram mais do que simples agrupamentos de fugitivos, porque organizavam povoados, fizeram plantações, criaram comunidades, resistiram anos e anos a repetidas expedições punitivas. A relação dos quilombos, a descrição dos mais importantes como Rio Vermelho (1632); Itapicuru (1636); na Baia; Riu das Mortes (1751), em Minas Gerais; Malonguinho (1836) nas vizinhanças do recife; de Manuel Congo, em Pati do Alferes, Estado do Rio, revelaram um estilo de vida e uma sociedade que pôde servir de modelo.
     O Quilombo dos Palmares teve uma organização social digna de estudos. Era um regime comunitário, onde não circulava dinheiro. Mas foram necessários 18 expedições, comandadas por capitães-mor, por altas patentes militares e milhões de soldados, durante 92 anos, tomaram as terras, destruíram as plantações, mataram e venderam os negros que conseguiram aprisionar. A figura de Zumbi, assinalada como herói do quilombo, deve ser reverenciada como primeiro homem que lutou pela liberdade e pela independência do Brasil¹

¹ Diário de Noticiais, Rio de Janeiro, 20 de novembro de 1973. Depoimento do historiador Hélio Silva, embasado em nosso livro Socialismo e Sindicalismo no Brasil - 1675 -1913.
Extraido:

Livro: A NOVA AURORA LIBERTARIA (1945 -1940)Autor: Edgar Rodrigues
Paginas:226 Á 227
Ano:1992

Editora: Achiámé