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quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Lanterna e o Padre Faustino de Campos

O clero era, então um dos mais terríveis inimigos da ciência, da arte, do bem-estar social para todos e da liberdade. Tudo para a Igreja tinha que ser violado, deturpado e, para conseguir tais coisas, ludibriava os menos avisados chefes de família e estes eram tantos que lhes proporcionavam uma força e um prestigio sem limites.

Desde os primórdios do seu aparecimento sobre a face da terra, o clero se organiza no poderoso quartel general de Roma e ali alabora planos e expede-os para as suas sucursais espalhadas pelo universo.
No ano 120, inventaram a água-benta; no ano 157, a penitência; no ano 325, a páscoa da ressurreição; no ano 375, o culto dos santos; no ano 391, a missa; no ano 400, as encomendações dos mortos; no ano 550, o óleo santo; no ano 593, o purgatório; no ano 600, o primado do papa; no ano 699, o culto da cruz e das relíquias; no ano 800, o beijo na sandália do papa; no ano 933, a beatificação dos beatos; no ano 1000, a canonização dos santos; no ano 1015, o celibato dos padres; no ano 1066, a infalibilidade da igreja; no ano 1090, o rosário; no ano 1119, a indulgência; no ano 1160, os sete sacramentos; no ano 1200, a consagração da hóstia; no ano 1204, inquisição e, por ai foram criando e inventando formas e processos de dificultar a culturas dos povos, vedando-lhe, por todos os meios e modos, a verdade e a liberdade.

O Brasil foi uma das suas grandes presas. País rico e com uma fabula extensão territorial fértil e pouco povoado, abriu de tal maneira os apetites do clero, que logo aportaram, invadindo seu território e montaram sucursais de Roma, por toda a parte. No começo, humildes e insinuantes, mas logo agressivos, vingativos e traiçoeiros até à medula. Confessores dos reis, dos imperadores, dos ministros, dos políticos, capelões de fazendas, dos presídios e muito especialmente, confessores de mulheres e educadores de crianças (1), conseguiram penetrar nos segredos familiares e, de posse destes, roubar terras, prostituir mulheres e meninas. Tudo se fazia em nome de Deus e da Virgem Maria, e graças à terrível, mas sutil habilidade, o clero é ainda hoje o maior latifundiário, depois do Estado. Tornou-se tão escabrosa a conquista e o roubo de Terras por certas facções da Igreja de Roma, que também o padre Cepeda, num documento célebre, diz o seguinte: “Os insignes ladrões do colégio dos jesuítas do Rio de Janeiro” e continua: “principalmente o padre Luiz de Albuquerque foi durante vinte e quadro anos, procurador da causas e tantas terras furou para a Religião e nunca perdia uma demanda porque via alguma mal parada, furtava os autos, custasse o que custasse”. (2). O roubo campeava nas hostes clericais, e para que tudo desse certo organizaram-se seitas aparentemente de escolas deferentes, mas na realidade com fins exatamente iguais: o roubo em favor da igreja.
Frades organizavam “trust” do comercio, na agricultura e no contrabando. Tornou-se famoso o “trust” da carne, em Minas Gerais, dirigido pelo Frade Francisco de Meneses da Santíssima Trindade, chegando a “dominar todo o mercado, graças ao suborno dos homens do governo. Foi o Homem da proa de uma das mais grossas negociatas que ainda se organizaram no Brasil”. (3). No setor do ensino, foi a sua fonte de influencia, o meio de penetrar e dominar a juventude através de métodos bem planejados, criando para isso, orfanatos e colégios, onde internavam e catequizavam suas presas. Frei Teodoro da “Divina Providência” foi denunciado pelo “Jornal do Recife”, de 22-4-1859, e censurado pelos seus comparsas, por raptar uma menina, deixando à mostra as bandeiras de sua grei. Segundo os seus censores, aquêle Frei quebrou a disciplina imposta pela palmatória _ a famosa santa Luzia _ e pela catequização conseguida por muitas gerações. Os jesuítas e demais seitas religiosas “conseguiam dos índios que lhe dessem seus culumins, dos colonos brancos, que lhes confiassem seus filhos, para educarem a todos nos seus internatos, no temor do Senhor e da Madre Igreja, lançando depois assim os meninos educados, contra os próprios pais. Tornando-os mais filhos deles padres e dela Igreja, do que dos caciques e das mães caboclas, dos senhores e das senhoras do engenho e do sobrado” (4). Esses métodos de educação, “terríveis e sutis”, vieram produzir os “carneiros e carneirinhos” calados, olhos tristes, sem “vontade própria”, como eram chamados os alunos do colégio “São Joaquim” do Rio de Janeiro. As gerações educadas como “carneirinhos”, precisavam ser combatidas e esclarecidas, e foi para isso que, em 1901, apareceu o jornal anti-clerical “A Lanterna”, que defendeu heroicamente a liberdade de pensamento, denunciou os crimes e as mistificações da Igreja e satirizou os “monstros” da batina. Já, na sua segunda fase, denunciou o crime da menina Idalina de Oliveira, praticado pelo padre Faustino no Orfanato Cristóvão Colombo, no Ipiranga (5).
Trava-se, então, uma luta sustentada de um lado pela “A Lanterna”, que logo recebeu o apoio da Classe operaria organizada, e do lado oposto, um grupo do clero e seu Exército de crentes. Idália de Oliveira fora internada no orfanato, pelo tutor Stamoto, e logo estrangula e enterrada no quintal do colégio, por não aceitar passivamente as tentativas do tarado sexual, padre Faustino. O algoz de Idalina lagrou vencer-lhe a pouca resistência física e como esta, mesmo assim não cedia aos intentos bestiais, matou-a. Toda via, os homens da “A Lanterna”, logo descobriram o crime, levando-o para os conhecimentos de seus leitores, tendo os anarquistas e o movimento operário promovido estridentes comícios, onde se manifestarão publicamente e através da imprensa, os pensadores liberais de então. A Igreja revida a denúncia e o padre Gastão de Morais _ na cidade de Santos _ agride com o seu guarda-chuva o velho militante anarquista Krup que esperava no Largo do Rosário, hoje Praça Rui Barbosa, o inicio do comício, onde pretendia responder as perguntas que o pairava em todas as mentes: “Onde está Idalina?” O conflito generalizou-se quando o povo tentou punir o padre que se refugiou na igreja para dar lugar à intervenção policial que impediu a realização de manifestações de protesto. Idalina de Oliveira morreu assassinada fria e covardemente, mais o seu sacrifício permitiu levantar a Opinião publica contra a “intencional negra”, representada pelo anormal padre Faustino de Campos.

Revidando com bestialidade as greves desencadeadas na Argentina, Em maio de1910, o governo de Alcoorta deporta e expulsa muitos anarquistas daquele país, alguns dos quais pretendiam ficar no Brasil. Todavia, o governo de Nilo Peçanha, temendo a ação dos “perigosos anarquistas” não o permitiu, salvo em Santos, onde o Movimento Operário conseguiu “ficar” com Florentino de Carvalho, alegando de sua condição de ex-soldado da Força Publica Paulista.
Por essa época, agitavam-se as correntes liberais em muitos países e nascia a primeira republica portuguesa, depois de alguns tiros trocados em Lisboa. Assim, enquanto na Argentina o governo de Alcoorta expulsava os anarquistas, o governo republicano português expulsava jesuítas, frades e freiras. Nilo Peçanha, que havia negado entrada aos anarquistas, escorraçados da Argentina, viu-se, desde logo, sujeito à pressão clericais para aceitar os frades que a jovem Republica Portuguesa não mais queria em solo lusitano. A princípio, houve leve resistência à entrada dos agentes da Internacional Negra, mas logo um mandato do Superior Tribunal legalizou a permanência do clero expulso, alguns dos quais implicados crimes comuns. Ao se positivar as duas faces da lei – a que negava o direito de asilo aos anarquistas expulsos por delito de idéias, e a que permitia a entrada franca e permanência a jesuítas, frades e freiras responsáveis pela pratica de orgias e bacanais nos conventos, e titulares de fortunas “herdadas” através de adulterações e falsificações de testamentos, e até alguns que a haviam pegado na mão dos moribundos milionários, fazendo-os assinar folhas de papel em branco _ desponta um movimento de protesto que, em seu tempo, foi de muita importância. As duas “faces” da lei sempre existiram, mas só se revelava quando estava em jogo “altas” figuras do mundo burguês e do clero, e os frades representavam as riquezas do clero, enquanto os anarquistas, significavam (para os governantes) a ralé, os párias da sociedade, o proletário sem tostão, e esses não tinham porque ganhar amparo constitucional, a esses tudo lhes era negado, mesmo tratando-se de direito consignado nas constituições de muitos países. Muito compreensível a vitoria dos jesuítas e frades... A Igreja marcou outras vitórias como o crime praticado no Orfanato Cristóvão Colombo, tendo como vitima a menina Idalina de Oliveira e o seu criminoso o padre Faustino; vitória que terminou com muitas prisões, entre as quais o diretor de “A Lanterna”, Edgard Leuenroth, do diretor de “La Battaglia”, Oresti Ristori, jornais então publicados em São Paulo, o primeiro em português e o segundo em Italiano.

(1) Num brilhante artigo “A Rebelião”, publicado em “A Terra Livre”, de 22 de março de 1990, o militante anarquista João Gonçalves afirmava com muito acerto, que das “crenças que sorvemos da infância, embora delas nos divorciemos, ferem-nos constantemente os ouvidos, ás vezes, parecendo mais risonhas, mais suaves, mais amoráveis que a dura e sã realidade, acodem-nos de quando em quando à mente, como a despertar a idéia de representarmos as coisas de maneira diversa do que são, sacodem amiudamente as nossas convicções, impelindo a ver o que não é e a não ver o que é”.

(2) Do livro “Sobrados e mocambos”, de Gilberto Freire. José Olimpio, Editor.

(3) Idem,idem.

(4)Idem,idem

(5)Esta denúncia levou ao banco dos réus os anarquistas Oresti Ristori, diretor de “La Battaglia”, Edgard Leuenroth, de “A Lanterna” e livre-pensador Passos Cunha.

Extraído:

Livro: Socialismo e Sindicalismo no Brasil
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: Laemmert
Pagina: 295 á 299
Ano: 1969

O CONGRESSO ANARQUISTA DE AMSTERDAM

Não nos consta que o Movimento Anarquista do Brasil enviasse delegação ao Congresso de Amsterdam, realizado em 25 a 31 de agosto de 1907. Todavia, o grupo “Terra Livre” dirigiu àquele conclave uma proposta que se resumia na “fundação de um Boletim Internacional” que servisse de órgão de informação e divulgação do ideal ácrata. Por outro lado, a ordem do dia do Congresso foi largamente divulgada no Brasil, onde encontrou grande receptividade, pelos temas a debater:

1.°- “O Anarquismo e o Sindicalismo”; relatores: Pedro Monatto (Paris) e João Turner (Londres);
2.°- “”Greve Geral e Greve política”; relatores: R. Friedeberg (Berlim) e H. Malatesta (Itália);
3.°- “Anarquismo e Organização”; relatores: Jorge Thonar (Liége) e Amadeu Dunois (Paris) ;
4.°- “O Anti-Militarismo como Tática do Anarquismo”; relatores: R. de Marmande (Paris) e Pedro Ramus (longres);
5.°- “A Associação Produtora e o Anarquismo”; relatores: Gustavo Landauer (Alemanha), F. Van Eder (Holanda), E. Chapelier (Bélgica) e I. I. Samson (Holanda);
6.°- “A Revolução na Rússia”; relatores: a designar pelos grupos russos;

7.°- “Alcoolismo e Anarquismo”; relatores: Dr. J. Van Rees (Holanda);
8.°- “A Literatura Moderna e o Anarquismo”; relator: Pedro Ramus (Longres).

Outros pontos foram postos em discussão tais como: “Organização da Internacional Libertaria” e a “Redação duma declaração de princípios comunista-anarquista”.
Os anarquistas estão preocupados em acoimar as tendências autoritárias que, desde a Associação Internacional dos Trabalhadores (A.I.T.), vinham influindo e provocando polemicas no seio das suas agrupações e nos meios sindicais, principiavam a traçar rumos de divulgação do anarquismo dentro e fora dos sindicatos. No Brasil, a influencia anarquista no sindicalismo foi mais eficiente em Santos. Todavia, São Paulo, Rio de Janeiro e outros Estados sofrerão a sua orientação ideológica. A greve geral para oitos horas de trabalho, deflagrada no dia 1.° de maio de 1907, na capital paulista, teve a orientação dos anarquistas e, embora seus objetivos fossem puramente de redução da jornada de trabalho, os próprios governantes perceberam a ação firme e convicta dos libertários, motivo porque passaram a difamar os trabalhadores, a denegrir o movimento.
O proletariado paulista lançava-se então numa luta desigual para reduzir as horas de trabalho, enfrentando as mais revoltantes perseguições, espancamentos e, não raro, a prisão por muitos meses. Tão gritantes se tornaram as torturas e a caça ao trabalhador que o governo paulista viu-se forçado a enviar à Câmara Estadual uma _falsa _ mas uma explicação que principiava com estes termos: “GREVE – nos princípios de maio último,, os operários de diversos misteres declaram-se em parede, desejando muitos aumento de salário e todos os estabelecimento das oito horas de trabalho. Funcionava na capital, à travessa da Sé, n.° 2, a chamada Federação Operaria, composta, segundo se dizia de representantes das diversas profissões, com existência legal, mais com assistência numerosa que deliberava imposições e enviava ultimatos aos patrões, dirigindo, enfim, o movimento paredista em São Paulo, que logo se propagou a Santos, Campinas e Ribeirão Preto.
A princípio calma e dentro da lei, logo a parede (greve) começou a se manifestar por ameaças e violências. Teve então a polícia a intervir, fazendo dissolver esses ajuntamentos de operários, que se tornaram ilícitos, dos quais partiam movimentos que com ameaças e violências matérias, perturbavam a ordem pública, e mandando recolher à prisão preventiva diversos cabeças, que foram depois postos em liberdade. A ordem pública se restabeleceu imediatamente, sem haver necessidade da força armada, que esteve aquartelada durante o tempo da agitação”.
Desta vez, sem falar dos anarquistas, o governo estadual afirma “heroicamente” ter mantido a “ordem publica “ e salvando a pátria. Só não diz que a ordem pública era essa que autorizava a polícia a roubar livros e prender operários indefesos, só porque reivindicavam a redução do horário de trabalho.

Extraído:

Livro: Socialismo e Sindicalismo no Brasil
Editora: Laemmert
Autor: Edgar Rodrigues
Paginas: 208 á 210
Ano:1969

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A INTERNACIONAL

Letra de E. Pottier. Música de Degeyter
Tradução de Neno Vasco

De pé! Ó vítima da fome!
De pé! Famélicos da Terra!
Da Idéia a chama já consome
a crosta bruta que a soterra.
Cortai o mal bem pelo fundo!
A pé, a pé! Não mais senhores!
Se nada somos em tal mundo,
sejamos tudo, ó produtores!

Bem unidos, façamos,
nesta luta final,
duma Terra sem amos
a Internacional!

Messias, deus, chefes-supremos,
nada esperamos de nenhum!
Unamos foscas e tornemos
a terra-mãe livre e comum!
Para não ter protestos vãos,
para sair deste antro estreito,
façamos nós por nossas mãos
tudo o que a nós nos diz respeito.

Bem unidos, etc.

Crime de rico a lei o cobre,
o Estado oprime o desgraçado:
não há direitos para o pobre,
ao rico tudo é tolerado.
à opressão não mais sujeitos!
Somos iguais todos os seres.
Não mais deveres sem direitos,
não mais direitos sem deveres!

Bem unidos, etc.

Abomináveis na grandeza,
os reis da minha e da fornalha
edificaram tal riqueza
sobre o suor de quem trabalha.
Todo o produto de quem sua
a corja rica o recebeu:
querendo que ela o restitua,
reclama o povo que é bem seu.

Bem unidos, etc.

Fomos de fumo embriagados:
Paz entre nós, guerra aos senhores!
Façamos greve de soldados:
somos irmãos, trabalhadores!
Se a raça vil, cheia de galas,
nos quer à força canibais,
logo verá que as nossas balas
são para os nossos generais.

Bem unidos, etc.

Somos o povo dos ativos,
trabalhador, forte aos produtivos.
ó parasita deixe o mundo!
ó parasita que te nutres
do nosso sangue a gotejar,
se nos faltarem os abutres,
não deixa o sol de fulgurar.

Bem unidos, façamos,
nesta lua final,
duma Terra sem amos
a internacional



Extraídos:
Livro: ABC do sindicalismo revolucionário
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: Achiamé
Pagina: 71
Ano: 1987

Contestação Anarquista

Os anarquistas contestam os 10 mandamentos cívicos, lidos pelo Sr. Coelho Neto, na Liga da Defesa Nacional, com 10 mandamentos Internacionalistas:

1°- Ama tua família mais do que a ti mesmo, aos teus companheiros como tua família, a humanidade como grande família de todos os trabalhadores. Não creias em nenhum Deus benfeitor e aprende que a felicidade na Terra depende dos próprios homens. Sê homem antes de ser pátria ou indivíduo.
2°- Considera sentimento mesquinho que vê um brasileiro ser um superior e preferível ao estrangeiro: considera vileza de alma colocar acima de um estrangeiro sério um brasileiro desonesto. Aprende a estimar o homem pelo que ele vale e não pelo idioma que fala ou pela terra em que nasceu. Mas merece um estrangeiro bem que um brasileiro menos bom ou mau.
3°- Considera crime fazeres do Brasil parte da Terra, pomo de discórdia entre brasileiros e estrangeiros. Sabe que o culto à bandeira é um processo indecoroso de Cultivar o egoísmo das massas ignorantes em proveito dos exploradores industriais, banqueiros e políticos, aproveitadores de guerras e profissionais militantes. Repele esse culto com todas as tuas forças.
4°- Não matarás, nem aprenderás a matar, quer dizer, não serás saldado. Só haveria desculpa em matar os homens maus: deverias então começar pelos brasileiros maus. Lembra-te, porém, que os homens são geralmente maus porque é ruim a organização social em que vivem.

5°- Não furtarás, quer dizer, não viverás do trabalho alheio, não defenderás os exploradores, opor-te-ás, sempre, aos exploradores do trabalho alheio. Entre um brasileiro explorador e um estrangeiro trabalhador, ficarás ao lado do estrangeiro.
6°- Considera a lei como um processo antigo dos proprietários para obrigar a massa dos não proprietários a trabalhares como escravos. Lembra-te que o processo humano tem sido feito pelas revoltas constantes contra as leis escravizadoras. A lei não mantém a ordem, mais a opressão. Trabalhe para a extinção de todas as leis e para firmar entre os homens o acordo mútuo entre trabalhadores iguais.
7°- Aprende a não considerar ninguém como seu superior. Aceitar apenas a periodicidade natural da inteligência, da beleza, da capacidade técnica. Rejeitar, porém, dignamente, qualquer superioridade artificial, inventada pelos que te querem dominar.
8°- Não economizes para a velhice ou para garantir o futuro dos filhos. Considera detestável a sociedade em que tal preocupação é necessária e aspira a uma sociedade onde a velhice, a infância, a doença, estejam naturalmente amparadas. Economiza para a coletividade, para os homens, e não faças como os capitalistas, que arrancam da boca dos pobres o recurso e desperdiçam em banquetes e vestuários.

9°- Não consideres ninguém teu hospede; olha para todos os homens como teus irmãos, sócios contigo em toda a terra e em tua própria casa. Repele qualquer sentimento de sobranceria para com qualquer homem; sê irmão e igual a todos.
10°- Não vendas a tua consciência, não defendes o milionário para auferir esmola; levanta-te contra todo explorador, brasileiro ou estrangeiro, incluindo-te no exercito dos oprimidos contra os opressores. Aproveita, a Grande Hora que passa e sê digno da humanidade que exige a tua colaboração.

(Os Anarquistas, distribuídos, Sem data, no Rio de Janeiro)

Nota: “O leitor que estiver de acordo com esses mandamentos, recorte-os, pregue-os num cartão e pendure-os na parede do seu quarto”.
Corajosos e destemidos, os libertários não hesitavam em manifesta-se. Contra nativistas como o escritor Coelho Neto e outros defensores da Guerra 1914-1918.


Extraído:
Livro: Um Século de historia político-social em documentos II
Autor
: Edgar Rodrigues
Editora: Achiamé
Paginas: 40 á 41
Ano: 2007

O comunismo na historia

O comunismo não é, para falar a verdade uma idéia nova. Já Platão (429.347 A.C), em sua obra intitulada “A República”, ao mesmo tempo que mantém a escravidão, proclama a necessidade de submeter os homens e as mulheres a uma mesma educação e iguais deveres, descrevendo, afinal, uma espécie de comunismo.
O célebre chanceler inglês Tomas Morus (1478-1535), em sua novela política e social “Utopia”, expõe também o desenvolvimento de um Estado de tendência comunista.
Um século mais tarde, o frade dominicano italiano, Tomás Campanella (1568-1639), um dos precursores do método experimental _ o que lhe custou vinte e sete anos de cárcere, publicou sua “Cidade do Sol”, baseada ao mesmo tempo na teocracia e no comunismo.
Por sua vez, Babeuf ( 1760-1797), durante a Revolução francesa, publicou um diário “A Tribuna do Povo”, uma doutrina comunista. Após a queda de Robespierre, tentou levar à prática sua teoria com a conspiração chamada dos iguais que, descoberta, abortou; tendo sido ele condenado à morte.
Cabet (1788-1856), esboçava ainda em sua “Viagem por Icáris”, outro sistema comunista.
Todas essas formas de comunismo que até essa data é manifestaram, tinham o defeito de ser muito autoritárias, isto explica e justifica os ataques de que foram objetos por parte de Proudhon, Bakunine e outros escritores de tendência anarquista.
Os anarquistas começaram a denominar-se comunistas com a primeira Internacional, precisando bem claramente desde essa época, o caráter profundamente libertário do seu comunismo.

Muito ao contrario, Marx, que em seu “Manifesto Comunista”, publicado em 1874, condenava furibundamente todas as escolas socialistas, viu seus discípulos da Alemanha e de outros lugares, abolirem o rótulo de comunistas, para colocaram-se como social-democratas, permitindo essa incongruência ser crer que deveria protestar. Tratava-se, por certo, de partidos políticos que nada tinham de comunistas. Apesar desta falta de seriedade e de conseqüência, Max continua sendo para grande numero de pessoas, exceção dos anarquistas, o maior comunista do século XIX.

Extraído:
Livro: Novos Rumos
Autor: Edgar Rodrigues
Edtora: Mundo Livre
Paginas:38 é 39

quinta-feira, 16 de junho de 2011

E a escravidão Sexual?

Parece incrível que os órgãos sexuais da mulher é que determinam a sua exploração, sob a tutela e a proteção do homem.
Entretanto, afirma à medida que nada é mais difícil do que verificar a virgindade autentica.

E nada é tão frágil e tão ilusório.
E do homem nasce à exploração sexual.
A mulher não é dona de seu próprio corpo, e, ainda agora, não sabe ser, não quer ser.
A literatura, as religiões, a astucia masculina criou e a cretinice feminina aceitou e repete, gostosamente, as expressões: belo sexo, rainha, deusa, santa, anjo, sexo sentimental, tantas outras palavras criadas para afastar a razão feminina do verdadeiro sentido da vida.
Parece incrível que um homem de mediana inteligência possa ainda curvar-se, religioso, ante o altar da himonolatria.
As coisas aprendidas na alta missão social de imbecializar os indivíduos, nos escravizam até a cretinice. E o vocabulário da literatura enriqueceu com tal fetichismo.
Palavras doces, delicadas, diáfanas, envolventes, mas, a literatura e a religião se esquecerão de que essas expressões não conseguem extirpar a necessidade fisiológica que a natureza teve a preocupação de pôr nos órgãos da multiplicação da espécie.
Anjos, deusas de carne e osso, sem asas imponderáveis, porem, com órgãos exigentes como todos os outros animais.
E a natureza se vinga, quando é desrespeitada: histérica, beatice, amor-paixão aos animais e vícios – são provas inequívocas de que nos desviamos da vida natural.
Mutilaram a mulher, através dos preconceitos e das convenções sociais: fizeram dela um ser incompleto e desgraçado no tipo solteirona e resolveram e resolveram o problema sexual masculino, organizando o mercado das relações sexuais, a prostituição, os “cabatets” e cassinos, as casas de tolerância, os “recursos”, os “rendez-vous” e o caftismo.
E’ bárbaro e prejuízo da virgindade, da castidade forçada para o sexo feminino, castidade imposta pela lei e pela sociedade, como é Barbara a prostituição “necessária” para resguardar a “pureza” da carne das “jeunesfilles”- (como si a carne virgem contivesse a pureza da consciência, a pureza da alma) - e para saciar os esfomeados de todas as idades e de todas as idades e de todos os estados civis. Também é selvajaria a maternidade não desejada, a maternidade imposta pelos maridos comodistas ás mulheres ignorantes e duplamente sacrificadas.
E’ irrisória a idéia da emancipação feminina dentro da sociedade movida pela cupidez do ouro, pelo delírio erótico do progresso material.
Civilização de cafcismo do amor e das consciências, em que todos são cúmplices – vendedores e compradores, os que auferem lucros e os que gozam neste imenso mercado de escravos.

Extraído:
Livro: Amai e... não vos multipliqueis
Autor: Maria Lacerda de Moura
Editora: Civilização Brasileira
Pagina: 150 á 152

Ano: 1932

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ideal (Pietro Gori)

Ideal!... profundo
Céu, pelo qual se elevam as árduas audácias do mundo!...
Qual é a meta, o ápice? Quem sabe? Vamos caminhando
Por essa trilha infinita combatendo
Diante do sol, vencedores, sem se importar com a multidão
De gente que ri e não tem bandeira.
Nós venceremos. E quanto, do cimo dos montes,
Virmos o sol resplandecer sobre novos horizontes
E do gênero humano, não mais besta de carga,
Chegar até nós o alegre e elevado idioma
Enaltecendo o amor para além do ódio e da guerra,
Bendizendo a imensa pátria do homem: a terra,
E elevar-se-ão as estrofes das mentes e corações amigos,
E os contos das esposas, das mães felizes,
E dos velhos – sabedoria!... e das crianças – tesouro
De grandes olhos celestes e cabelos de ouro,
Oh, volto então o olhar para a trilha percorrida,
Obscuros mais fatídicos apóstolos da verdade,
Militantes infatigáveis de uma santa utopia,
Talvez cansados e desalentados cairemos pela via,
Mais diante do porvir lançado a grande saudação
Nos sentimos jovens, orgulhosos de ter vivido.

Pietro Gori

Extraído
livro: Nem Patria, Nem Patrão, vida operaria e cultura anarquista no brasil
Autor: Francisco Foot Hardman
Editora: bariliense
Anos: 1983
Paginas: 36 á 37