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terça-feira, 26 de junho de 2012

A FARSA ELEITORAL

Emprega-se hoje< geralmente, esta expressão para designar, em sentido restrito, a ação classe operaria, sem interpostas, pessoas, com os meios que lhe são próprios (greve, boicotagem, sabotagem, etc.).
Mas analisando a ideia, vê-se facilmente que a ação sem interpostas pessoas, isto é, sem delegação de poder, tem aplicação em todos os campos, no econômico e no politico, tanto contra patrões como contra as autoridades; abrange várias formas de atividade e resistência e não é senão o anarquismo considerado como método.
E o método é o mais importante par um partido ou movimento, o que, sobretudo o distingue, pois não basta boas intenções: é preciso saber o meio de as pôr em prática, de lhes dar realidade, A máxima: Todos os caminhos vão dar em Roma – não tem senso comum. Há os que vão dar a um abismo. A ação direta, no sentido mais largo, pode ser violenta ou pacífica, individual ou coletiva, mas deve sobretudo ser contínua, de cada dia, em qualquer das suas formas, e em todas as duas fases, propaganda, organização, realização.
Agindo-se, praticam-se erros, dão-se passos falsos, golpes incertos. Quem caminha arrisca-se tropeçar; sobretudo quando se começa a falta à experiência, a musculatura e elasticidade. Mas todos esses erros, incertezas, inabilidades, tropeços, são corrigidos pelo exercício, pela própria pratica da ação, pela critica serena e acertada. Pensamento e ação.
O que é necessário ter bem presente é que a ação não pode ser substituída. Só a ação produz o fato, só ela mantém, Até os conservadores inteligentes o reconhecem (exemplo: Jean Cruet, A vida do direito e a impotência das leis).
Ainda suponho que a lei não fosse a expressão das classes dominantes, pelo monopólio da riqueza, do poder e da influencia, ela seria pelo menos inútil, pois viria reduzir a fórmulas estreitas e incompletas, permanentes de cada individuo e das coletividades interessadas origina e alimenta, em cada minuto e em cada metro quadrado de território. Todos os dias vemos direitos, escritos nas leis, desprezados por falta de resistência, E a lei é a mesma!
E é ainda necessário evitar o que pode contradizer desviar, diminuir a ação direta, a emancipação por suas próprias mãos. Nos queremos uma revolução social, isto é, não “emancipar o povo”, mais que ele se emancipe, tome conta dos seus direitos, não se deixe roubar e mandar, não delegue poderes, organize e administre diretamente a produção.
Ora, nada ataca mais esta obra de emancipação própria, de esforço pessoal, do que o parlamentarismo e o eleitoralismo, desvio de energias e de organização, portas abertas a todas as corrupções, a toda infiltrações de ideias e interesses estranhos.

Não Vote! Se for pra voltar, Vote NULO e não se iluda, Vote NULO e vai pra LUTA!
“A nossa classe nada tem nada o que perder, a não ser as algemas!”

domingo, 10 de junho de 2012

A EXPLORAÇÃO DA CRIANÇA COMO UNIDADE INDUSTRIAL: E’ A OBRA DA ESCOLA.

A análise histórica da Escola, feita por Ferrer, é uma pagina admirável de psicologia da organização social.
Não há nenhum interesse pela evolução mental ou pela sensibilidade estética dos indivíduos considerados em si mesmos.
A instrução faz parte da técnica comercial moderna sob o aspecto da concorrência internacional.
Ferrer o sabia e o dizia com a coragem de convicções que sempre o caracterizou.
Prejudicados se fechava cada vez mais na Espanha inquisitorial contra essa consciência livre, incorruptível e heroica.
E, na vida como na obra educacional, Ferrer monstrou-se à altura dos seus sonhos. E repetia: “todo aperfeiçoamento significa a supressão de uma violência”, ou afirmava: “a violência é a razão da ignorância”, postulado que poderia ser invertido: a ignorância é a razão da violência, e então, chegaríamos às conclusões de Gandhi...

Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 69 á 70
Ano: 1934

A EDUCAÇÃO BURGUESA-CLERICAL-CAPITALISTA NECESSITA APENAS E TARTUFOS.

Dento do largo aspecto educacional sonhado por Ferrer não pedia ele, com Froebel: “Vivamos para as crianças. ”
Aproximou-se mais de Ellen Key na sua beleza livre espontânea, quando dizia: “Deixemos que as crianças vivam por si mesmas.”
Sentia que a disciplina vem de dentro para fora e que todo constrangimento moral ou toda afirmação ou negação categórica provoca no espírito da criança uma reação capaz de a prejudicar na sua evolução mental e sentimental influindo de modo deprimente na formação de seu caráter.
Demais, a falta de caráter, a fraqueza de convicções e a covardia de não pensar em voz alta vem dos choques de afirmações e negações categóricas em torno da criança, entre as pessoas respeitáveis das suas relações e que, indiferentemente, inconscientemente, vão plasmando a sua mentalidade covarde ou a tartufismo da sua atitude servil, ao sabor ambiente.
Mais tarde, torcerá o raciocínio, empregará sofismas – simplesmente para estar bem com todos, para agradar todas as convicções farisaicas dos senhores respeitáveis.
Assim é na sociedade.
Pouquíssimos indivíduos que reagem por si mesmos contra essa educação que desviriliza o caráter e corrompe a consciência.

Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 67 á 68
Ano: 1934

A RAZÃO NÃO TEM O DIREITO DE SUFOCAR O SONHO

Nunca ninguém conseguiu matar no cérebro e no sentimento humano a tendência às metafísicas. De onde Viemos? Para onde vamos? O que significa o universo? Por que razão relam os mundos em orbita matemáticas através do espaço? Porque razão os astros é perfeitamente idêntico ao átomo da célula no meu sangue? Porque razão o meu Plexus Solar ou cérebro abdominal é a antena poderosa de um radio vivo que recebe do Cosmos as impressões e as transmite ao Cérebro através de glândula que é toda luz?
São incógnitas que hão de sempre acicatar as novas inquietações de insatisfeitos.
E é essa uma das facetas maravilhosas do nosso complexo psíquico.
Reduzir a inquietude a preconceito religioso é um crime e um preconceito mais vulgar. Metafísica não é religião.
A religião é uma muleta para os fracos e ignorantes, Não basta, não satisfaz à curiosidade dos que escalaram mais alto.
Também a ciência oficial nada pode explicar das coisas transcendentais. Paira à superfície. Cultiva o preconceito do saber absoluto. E não e não responde às nossas interrogações, à inquietação do nosso espírito insatisfeito.
A metafísica livre de peias religiosas, a metafísica que nada afirma é o poema e a terra da promissão dos nossos sonhos de cavaleiros andantes do infinito. A duvida, a incerteza, o anseio de saber mais, a esperança de decifrar o indecifrável, a nostalgia através de tempo e para além do espaço, um poema de luz interior iluminando a consciência, a lei de causa e efeito no mundo moral, sonhar que a vida é eterna, fugir do hoje, aqui e agora é deslumbramento de liberdade – para escalar o espaço e saltar por cima das misérias sociais.
O próprio Comte, Sébastien Faure, todos os sinceros não poderão libertar-se das cogitações metafísicas. O homem é um animal que sonha fora a terra. E’ a característica mesma do seu anseio de liberdade.
A utopia anárquica, o poema da libertação absoluta de todos os detetives sociais – não passa de um magnífico sonho metafísico – a que os verdadeiros revolucionários, no sentido filosófico que mais se aproxima das nossas verdades interiores, deram a aparência de realidade no mundo das realidades...
Sufocar, matar essa tendência do espírito humano é impossível. O que se pode conseguir é o charlatanismo – ou a petulância das negativas sistemáticas dos presunçosos ou a afirmativa sectarista dos ignorantes de espírito estreito.
Negar como afirmar é erro lamentável e prova cabal de tendência autoritária e mandonismo.
Nesse erro doloso estão caindo revolucionários de todos os matizes evanguardistas. A critica a esses iconoclastas e criadores de religiões novas é digna da pena de Max Stirner (“O Único e sua propriedade”,) embora até ele não tenha escapado, criando a religião do Único... nos seus excessos de demolição.
A Deusa Razão – já ocupou os altares religiosos do misticismo do materialismo histórico...
E a Deusa Razão é bem ignorante e pouco modesta...
Mudam-se apenas os nomes dos deuses: os crimes de lesa-liberdade de consciência continuam a ser perpetrados diante de outros altares.
A mim, não me satisfaz a esterilidade do materialismo econômico.

Para além da Neutralidade

A Escola Moderna de Ferrer vai além do ensino laico, além da neutralidade.
Definiu-a Soledad Villafranca, nas seguintes expressões:
“Ensino racionalista, quer dizer o ensino que tem como meio a razão e como guia a ciência; como guia a ciência; como ainda não disse a ultima palavra sobre qualquer assunto, resulta que o ensino racionalista não tem programa fixo. Pelo contrario.”
“Ao ensinar todos os dias is fenômenos físicos do universo e sociais da humanidade, fá-lo com a especial reserva de que só tem mérito os sentidos admitem e a experiência sanciona.”
E os nossos sentidos, deturpados pela civilização, nos enganam todos os dias...
No período seguinte a contradição é flagrante. Diz ela:
“O ensino racionalista tem por fim ensinar todas as verdades experimentais, por contrarias que sejam às ideias admitidas anteriormente.”
Há verdades experimentais, fatos comprovados e cujas causas, cuja simples explicação a ciência não descobriu. E não se podem negar fatos comprovados, nem mesmo compreendidos, embora não tenham sido decifrados, nem mesmo compreendidos pelos luminares da ciência humana oficial. Nega-los sistematicamente ou procurar esconde-los ou não querer ver, é absurdo igual às afirmações dogmáticas das revelações religiosas.
Como é mais nobre confessar o estado mental a ignorância diante dos fatos e colocar o ponto de interrogação inquieto e torturante, curioso diante de tais incógnitas!
Essa é a neutralidade que eu compreendo na Escola Nova. Não a neutralidade entre erro dogmático e a verdade cientifica.
Essa não é possível.
E Ferrer achava mesmo que os livros escolares devem tratar de todos esses problemas, falar de assuntos religiosos ou de dogmas sociais. O ensino racionalista pode e deve discutir tais problemas com o fim de desembaraçar o cérebro da criança de rotinas ou superstições, do tradicionalismo no erro e dos ídolos das organizações sociais.
Assim também compreendeu Naquet, falando de Ferrer, no prefacio ao livro de Ferrer, no prefacio ao livro de Wollian Heaford: O professor não pode ser neutro. Não poderia oscilar entre a verdade e o erro. O seu dever absoluto quando ensina as verdades cientificas, consiste em ensiná-las como a observação, a experiência e o raciocínio que concatena os fatos, as revelaram, sem se importar si fere ou não os detentores do desenvolvimento intelectual que se curvam sob o peso dos dogmas de há muito condenados. ”
Vê-se bem claramente que a neutralidade condenada é a que se refere à tolerância excessiva para com os dogmas e o sectarismo religioso do Cristianismo, cujas religiões e seitas predominam no Ocidente.
Nada tem que ver essa atitude necessária de independência e liberdade de pensar e dizer, contra o erro que escraviza a mente humana – com a atitude filosófica de dúvida e inquietação diante das maravilhas dos complexos psíquicos, diante do infinito da ignorância humana ou em face da multiplicidade assombrosa de fenômenos que se desenrolam na fantasmagoria da Natureza, através das leis universais de atração.
E uma infinidade de sonhos de sonhos há de povoar a mente dos homens que alçaram muito alto as suas inquietações, perscrutando os abismos de luz e sombra das almas ou penetrando o pensamento no labirinto fantástico dos mundos que vão rolando infinito além.

Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 57 á 65
Ano: 1934

A MAGIA DAS PALAVRAS

De uma parte o sim dogmático querendo impor o erro renascendo todos os crimes de lesa-felicidade humana. De outra parte o não dogmático querendo destruir no coração dos homens a beleza maravilhosa do “sorriso de duvida e da musica dos sonhos...”
Duas forças que se vão se chocar ferozmente na reivindicação dos seus supostos direitos de conservar estupidamente ou se destruir impiedosamente.
E os homens e as mulheres não encontrarão a paz, não saberão o que é felicidade em nenhuma das duas facções que se degladiam, cada qual defendendo a sua verdade, uma verdade falsa, que esta sendo “organizada” em altares disfarçados, onde pontificam ídolos vorazes a devorarem, sangrentos, as energias morais dos utopistas ou sectários “escultores de montanhas...”
E Ferrer, intuitivo, pressentiu que o não dogmático tem a mesma força destruidora do sim dogmático.
Era apenas o apostolo do livre exame, da escola cientifica, racionalista.
Ferrer sabia que “todo valor da educação reside no respeito da vontade física e intelectual da criança. Assim como em ciência não há demonstração possível, senão por meio do fato, assim também não é verdade a educação, senão a que está isenta de todo o dogmatismo, a que deixa à própria criança a direção de seu esforço e que não se propõe senão a ajudá-la na sua manifestação. O educador impõe, obriga, violenta sempre. O verdadeiro educador é o que, contra as suas próprias ideias e os seus desejos, pode defender o aluno, apelando, em maior grau, para as próprias energias do educado.”
Ferrer acreditava no poder da educação, porque estava convencido de que “todo aperfeiçoamento significa a supressão de uma violência”. Por isso, esperava da ciência a libertação da criança.
Si não viu o problema em toda a sua espantosa complexidade, bem viu muitas das suas faces.
Afastar de junto da criança quaisquer paixões partidárias, as quais despertam o ódio, o sectarismo pró ou contra, o exclusivismo, o espírito de autoridade e a violência – esse é o caráter da Escola Moderna e que não tem sido realmente compreendido pelos revolucionários extremados.
Ferrer confessou mesmo evitar as palavras “anarquia”, “comunismo anárquico” ou “ideias libertárias” nos seus tratados de educação.
O que ele pretendia era libertar a própria criança de todas as cadeias, inclusive da cadeia mais forte do preconceito de estar de posse da verdade única...
E’ a feita mais nobre, mais alta do seu apostolado, e daí a dificuldade do ensino verdadeiramente desprendido do sectário do sim dogmático – dos religiosos de todos os matizes e do não dogmático dos não menos religiosos – que pontificam como sacerdotes infalíveis no altar da Deusa Razão...

Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 53 á 56
Ano: 1934

FERRER ACREDITAVA NA RAZÃO E NA CIÊNCIA...

Para Ferrer, o ensino racionalista cientifico há de persuadir aos futuros homens e mulheres que nada devem esperar de nenhum ser privilegiados (fictício ou real); e que tudo quanto é racional devem esperar de si mesmos e da solidariedade livremente aceita e organizada.
O seu engano está em acreditar na “organização”do amor e da bondade...
Ferrer tinha a convicção de que “sem uma absoluta reforma dos meios educacionais, não será possível orientar a humanidade para porvir.”
E, em síntese, o grande educador formulava o programa:
“A Escola Moderna pretende combater quantos prejuízos dificultem a emancipação total do individuo, e, para isso adora o racionalismo humanitário que consiste em inculcar na infância o órfã de conhecer a origem de todas as injustiças sociais para que, reconhecendo-as por si mesma, possa logo combate-las e se lhes opor.
“O ensino racionalista e cientifico da Escola Moderna há de quanto seja favorável à liberdade do indivíduo e à harmonia da coletividade, mediante um redimem de paz, amor e bem estar para todos, sem distinção de classes nem de sexos.”
Neste trecho está contida toda a ingenuidade santa do apostolo e do precursor.
Ferrer esperava o advento do Eden na terra. A sua fé se devotava ente o racionalismo puro e ante a ciência pura.
Si há uma aparência ou uma nesga de Verdade nas suas convicções sinceras, os fatos vão demonstrando o contrario.
A ciência é o Molóc moderno.
A civilização do bezerro de ouro vai morrer de apoplexia cientifica.
As guerras de hoje obedecem a uma técnica absolutamente cientifica. E duas ou três mais que se repitam, dirigidas como foi a ultima, pelos sábios dos laboratórios de química, física, bacteriologia – não ficará do gênero humano senão ruínas e escombros, destroços e esqueletos de maquinas e de homens.
E, si a guerra ainda não estalou – é de medo de tanta ciência...
O santo precursor da Escola Nova morreu sem conhecer o Molóc da Civilização.
Viu que a sociedade e a sua santa célula – os governos – têm medo do cultivo intelectual, são contra o desenvolvimento cultural das massas e se esforçam por conservar na ignorância as multidões, afim de que, através das crenças religiosas organizadas, um “freio” domestique o rebanho humano.
E, de tal modo, que possam exercer impunemente a tirania e o despotismo do espírito de autoridade contra o direito à Liberdade.
Mas, por outro lado, de certo viu também que o comercio, a industria, os meios rápidos de comunicação obrigam os povos a se prepararem para o assalto à concorrência comercial.
E os governos têm necessidade de melhores operários para melhor posição no mercado de oferta e procura da organização social capitalista.
Daí o desequilíbrio das sociedades modernas – o espírito de autoridade dos dominadores – contra o anseio de liberdade das massas populares oprimidas, de um lado dirigidas pelas consciência livres ou enganadas pelo tartufismo farisaico dos políticos profissionais – à cata posição espetaculosas no cenário do mandonismo, conseguidas à custa de ludibriar as massas com a demagogia da oratória retumbante de palavras e vazia de sinceridade.
E como contra choque, a necessidade econômica e a conquista de mercados a exigir de cada país a formação de um exercito inteligente de operários para suplantar a produção e a industria das outras nações.
Do choque entre a necessidade absoluta da autoridade política e policial para a manutenção do Estado e da necessidade de formação de um proletário capaz e produzir inteligentemente – surgiu a crise moderna e o nacionalismo absolutista.
E’ esse choque terrível que fará ruir a civilização do bezerro de ouro.
Não se pode conceber proletariado inteligente, consciente e escravizado. São duas coisas que se chocam.
Daí a reação tremenda dos tempos modernos: de uma parte o fascismo com todos os horrores da perversidade organizada, a deitar as garras por sobre o gênero humano, dentro do espírito medieval, buscando impor de novo os Autos de Fé e a Santa Inquisição de Igreja.
De outra parte as reivindicações proletárias eivadas de excessos racionalistas para opor um dique à crendice, à ignorância e à superstição.

Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 47 á 52
Ano: 1934

FERRER – PEDAGOGO E EDUCADOR INDESEJÁVEL...

Ferrer não foi integrado ainda no lugar a que tem direito, como criador da Escola Nova. Compreende-se: luta de classe...luta de poderes. Ferrer é um desertor da burguesia. E’ o crime que a burguesia não pode perdoar.
Nunca Ferrer distinguiu burguesia de proletários, ricos ou plebeus, homens ou mulheres: era humano, sentiu a dor universal, lutou contra a mediocridade cultivada pela educação.
E os pedagogo de laboratório, de experimentações cientificas ou educacionais na cobaia humana... Ressentem-se, quais todos, da diátese burguesa...
E Ferrer é afastado cuidadosamente do quadro social dos educadores modernos. Está por de mais próximo de nós para que o Estado ou a escola oficial o passa prestigiar, prestando-lhe as homenagens do estilo.
Aliás, a Nova Republica Espanhola, por engano (porque é muito criança e quer fazer garbo do seu liberalismo...) já se penitenciou perante o apostolo e mártir do ensino racionalista. E está na regra: homenageia a Ferrer porque esta morto, e persegue os vivos coerentes com ideias do mártir e apostolo de Escola Nova.
Demais, o Estado, filho das organizações sociais, defendido, protegido, mantido pelas quatro castas da civilização moderna – o capitalista, o militar, o sacerdote e o político – dos quais, o capitalistas e o padre exercem predomínio absoluto, movendo os cordéis do imenso “guignol” social, o Estado obedece e acata as deliberações e a atitude farisaica da Igreja Romana – a mais admiravelmente organizada de todas as organizações sociais do mundo hodierno.
Ferrer é filho espúrio e moral social. Porque, defender os interesses do proletariado ou pretender colocar em igualdade de condições sociais, em igualdade de direitos com a burguesia, é quase ofensa aos brios invertidos das classes parasitarias, as quais vivem á custa do trabalhador, certas de que gozam de um direito divino...
Ferrer praticou mãos um crime inominável de ser absolutamente sincero e defensor, incondicionalmente, a criança – contra a escola religiosa e contra a escola oficial.
Derrubou dois altares... Iconoclasta, quebrou dois ídolos ferozes, desencadeando a tormenta por sobre o seu destino heroico.
“Nem Dogmas, Nem velhos usos, porque uns e outros representam formulas que prendem a vitalidade mental dentro dos limites impostos pelas exigências das fases transitórias da evolução social.”
“O cérebro do individuo deve ser o instrumento da sua vontade”
“Querendo que as verdades da ciência brilhem com o seu próprio brilho e ilumine cada inteligência por tal modo que, postas em prática, possam trazer felicidade ao gênero humano, sem exclusões indignas, nem exclusivismos repugnantes.”
Esse é o verbo de Ferrer.
Ser humano assim é ser ingênuo.
E a ingenuidade santa é o apanágio dos apóstolos e dos precursores e anunciadores.
Que diferencia, por Exemplo, entre Ferrer e Emile Durkheim, cujos livros de sociologia e educação constituem o breviário da Escola Nova! Tome-se um dos seus livros, por acaso, Educação e Sociologia e, em duas palavras, é doloroso verificar como os expoentes máximos da pedagogia moderna estão a serviço da reação, da sociedade e do estado.
Diz Emile Durkheim: “A educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança, certo numero de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança particularmente destina.” Em resumo: “a educação á a socialização da criança.”
E’ lamentável simplesmente. E Durkheim não observa apenas o fato geral de cada sociedade ou cada Estado se aproveitar da sua autoridade para se aproveitar da sua autoridade para fazer a criança instrumento das suas ambições políticas ou sociais, Durkheim aplaude e acoroçoa essa atitude. Defende a sociologia burguesa dos acomodados...
O Prof. Paul Fauconnet, da Sorbonne (!) estudando, elogiando a obra de Durkheim, defendendo-a da critica séria, conclui, com um sofisma: “Si preparar uma pessoa é atualmente o fim da educação, e si educar é socializar, concluamos que . E’ esse precisamente o seu pensamento,”
Jogo de palavras...
O que a malicia de todos esses “sociólogos” e “professores” deseja é a socialização das massas e a individualização deles, a exceção para os tipos do escol... Parasitário. São os super-homens, os super- elefantes da cultura e dos privilégios.
Durkheim é muito claro:
“Não é admissível que a função de educador possa ser preenchida as garantias de que o Estado, e só ele, pode ser juiz. Não se compreende uma escola que possa reclamar o direito de dar uma educação antissocial”
Pena não poder dispor de tempo para analisar, neste momento, mais profundamente, o pensamento de Durkheim.
Para mim, nestes dois períodos o sociólogo prestou-nos um auxilio inestimável: A sua lógica simples fez ver que todo ensino contrario ao Estado é o filho dileto da sociedade...
Assim, qualquer Estado aproveita-se da sua autoridade, da força para defender a sociedade ou o partido político que tem o poder nas mãos. Ir contra a prepotência do Estado que faz da escola o meio de assegurar a sua hegemonia ou de um partido – é o dever dos verdadeiros revolucionários, de todos os seres humanos que amam a liberdade e respeitam os direitos da criança.
Dukheim diz ainda:
“E’ forçoso escolher: si se dá alguma importância à existência da sociedade – e nós acabamos de ver o que ela representa para o individuo – é preciso que a educação assegure, entre os cidadãos, suficiente comunidade de ideias e de sentimentos, sem o quê nenhuma sociedade subsiste; e, para que a educação possa produzir esse resultado, claro está que não pode ser inteiramente abandonada ao arbítrio dos particulares”.
Pois bem, meus camaradas, foi esse espírito burguês, estreito, de Durkheim – um dos mais notáveis pedagogos modernos – foi esse espírito estreito que matou Ferrer!
Quais de nós deseja que subsista esta sociedade de vampiros?
Quem de nós aplaude o Estado moderno, a ressurreição do nacionalismo fascista ou qualquer ditadura implacável na defesa incondicional de um partido político dominante?
A socialização da criança como postulado de educação é um crime bárbaro que a humanidade terá que pela lei de causa e efeito.
Quantos séculos ainda de erros e crimes de lesa-humanidade terão de viver nos filhos, espoliados hoje na escola da fosca e da brutalidade?!
Ferrer morreu com a consciência Iluminada porque não cometeu tais crimes.
Ferrer acreditava no avento de uma sociedade melhor, pó isso – respeitou a alma da criança.
Como todos os anarquistas sinceros, apontava o Estado como o maior responsável pela ignorância humana.
Não via claramente que à Sociedade é que deveria culpar dos desmandados e da mediocracia Estatal.
Porque o estado não é mais do que o rebento querido da Sociedade.
“Não tememos dize-lo: queremos homens capazes de evolucionar incessantemente; capazes de destruir, de renovar constantemente os meios e de renovar-se a si mesmos; homens cuja a independência intelectual seja a força suprema, que se não sujeitem jamais a ninguém; disposto sempre a aceitar o melhor, ditosos pelo triunfo das ideias novas e que espirem a viver vidas múltiplas em uma só vida.”
“A sociedade teme tais homens: não se pode, pois, esperar que queira jamais uma educação capaz de os produzir.”
Aí, viu Ferrer a sociedade como mãe do Estado...
Mau grado, a sua consciência tentou ir contra a corrente social. Esse é o verdadeiro educador.
Mais, Duekheim, cujos os livros andam por aí a fora traduzidos como obras notáveis de pedagogia, defendendo a sociedade rotineira e cheia de privilégios odiosos, chega a dizer que “nem basedow, nem Pestalozzi, nem Froebel eram grandes psicolagos. O que ha de comum e saliente nas doutrinas desses pedagogos, é o respeito à liberdade interior, - esse horror por toda e qualquer compressão, esse amor ao homem e por consequência à criança, em que se funda o moderno individualismo”. Durkheim os censura!...
Sim, porque Durkheim prega uma educação fascista na qual o Estado, a serviço de um ditador qualquer, decreta a escola-comunidade e prepara a juventude na selvajaria e na brutalidade para o assalto ao poder e ao do ministro. Durkheim aproxima-se tanto do fascismo como do bolchevismo na sua doutrina a sociologia – para a socialização ou do coletivismo até mesmo na consciência... na defesa da sociedade formada pelo mais forte grupo que souber se defender...
A sua pedagogia se presta a todos os partidos... E’ a pedagogia de vencer pela força bruta...
E nega o senso psicológico em Basedow, em Froebel e em Pestalozzi, justamente porque sua pedagogia é anti-natual e criminosa . Vejamos por exemplo, esse postulado de Durkheim :
“O homem que a educação deve realizar, em cada um de nós, não é o homem que a natureza fez, mas o homem que a sociedade quer que ele seja; e ela o quer conforme reclama a sua economia interna. (Educação e Sociologia, tradução de Lourenço Filho,p.102).
Essa educação do Estado e da Sociedade é o maior atentado, o mais inominável contra a dignidade do ser humano.
E’ simplesmente monstruoso afastar o homem da natureza e a natureza não se deixa enganar. Estamos justamente, no caos da civilização contra a natureza, pagando erros da lei de causa e efeito.
Justamente, todo educador que se presa, todo homem que vê e sente a degradação do nosso regime social – deve sonhar uma educação puramente antissocial em defesa da integridade da consciência livre.
Foi esse alto crime de traição de Ferrer... Respeitando a individualidade da criança, queria cada vez mais a libertação humana.
Cultivou a fé inquebrável na obra educacional – porque viveu pouco para ver o resultado imediato do seu esforço de educador. Não teve tempo de chegar à conclusão do que esperam em vão, após anos e anos de sacrifícios inauditos, os frutos da incorruptibilidade do caráter, depois de haverem semeado, na alma jovem dos estudantes, a semente sã e pura e generosa e fecunda da coragem heroica de ser algo além de um numero no rebanho social servil e domesticado.
Porque a imbecilidade e a covardia impedem a evolução em linha reta, sempre para frente.
Dão saltos de séculos à retaguarda... e encarceram a Liberdade e Sufocam a consciência humana.
A juventude promete. A idade madura se acovarda na apostasia do caráter, no abastardamento do respeito a si mesmo.
E a intelectualidade é a hetaira cínica do mundo moral.
Ferrer talvez o soubesse
Por isso, insurgiu-se contra a imoralidade dos prêmios e castigos, contra os rótulos e as Academias, contra as chapetas e os amuletos sociais:
“Encontramos na sociedade, homens de toda condição e de diferentes idades que não teriam dado um passo nem feito o menor esforço, si não tivessem a intima convicção de que todos os seus méritos lhes seriam contados e pagos, um dia, integralmente”.
“Os homens de governo sabem disso perfeitamente, já que obtêm tanto dos cidadãos, por meio das recompensas, adiantamentos, distinções e condecorações que outorgam. E’ isso um resto vivaz do cristianismo. O dogma da gloria eterna inspirou a Legião de Honra. A cada passo na vida encontramos prêmios, concursos, exames e prebendas: haverá algo mais triste, mais feio ou mais falso?”
Ferrer tinha confiança demais na educação racional. Não chegou a compreender que cada qual de nós só pode iluminar a si mesmo... E que todos os verdadeiros expoentes da alta cultura, da Sabedoria e da beleza, os granes Artistas, os grandes pensadores, os nobres instrutores da Humanidade foram todos autodidatas e tiveram de reagir, corajosamente, contra a educação que receberam da sociedade.
Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 27á 42
Ano: 1934

Seu voto é uma arma!

Votem em mim!

As Prisões

Ao traduzir esse livreto, me surpreendeu a atualidade e profundidade que o companheiro anarquista Kropotkin nos proporciona. É assustador que se removermos as datas e referências históricas de mais de um
século, a imagem descrita é do nosso sistema prisional com todos os problemas morais. E isso causa um grande mal estar. Quem tem ou esteve preso entenderá toda a angustia e a exatidão com que Kropotkin discorre sobre um assunto que ele mesmo reconhece como um dos grandes problemas daquele século e desse.

http://anarkio.net/index.php/libr/120-prisoes-kropotkin

VOTO NULO é a SOLUÇÃO!

Que é um soldado?

"- Que é o soldado?

- É um trabalhador inconsciente que se sujeita aos possuidores da terra para manter essa posse a troco de um miserável pagamento.

- Como se sujeita ele?

- Sujeita-se pela disciplina.

- Que é a disciplina?

- É a escravização da vontade do soldado ao seu superior. O soldado obedece ao que lhe mandem sem saber como nem porquê.

- Qual é o ofício do soldado?

- Matar.

- Mas a lei não proíbe matar?

- Proíbe, mas se o soldado matar um trabalhador que protesta contra o governo, a lei declara que o soldado é um virtuoso.

- O papel do soldado é digno?

- Não. É o mais vil possível.

- E como há trabalhadores que se fazem soldados?

- São iludidos pelos governantes e arrastados pela miséria.

- Como conseguem iludi-los?

- Com fardamentos vistosos e insuflados neles o “amor” à pátria. Patriotismo é um sentimento mesquinho que leva o indivíduo a supor que os que nasceram no seu território são superiores aos outros homens."

Escrito por um anarquista desconhecido.