Pesquisar este blog

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Origem das feiras livres

Os efeitos da guerra européia, ao raiar de 1916, são alarmantes. O trabalhador brasileiro enfrenta uma grande crise de trabalho, acompanhada do aumento do custo de vida. Operários percorrem as ruas dos grandes centros, em busca de quem lhes possa alugar os braços, e não encontram. As pequenas e médias indústrias fecham as portas ou trabalho. Todavia, as organizações operarias, desde que a guerra eclodira, vinham promovendo comícios públicos e, ao se desenhar claramente a falta de trabalho motivada pela paralisação das indústrias, reage contra os aspectos da fome, realizando passeatas, promovendo manifestações, fazendo sentir aos governantes de então, o drama da família trabalhadora.
Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, foram Palcos de grandes manifestações conduzidas e orientadas pelo elemento libertário. Em São Paulo, caravanas de trabalhadores vão de bairro em bairro, promovendo comícios, apesar da proibição das autoridades. Os governantes resolvem amenizar o grande drama através da criação e distribuição de sopas populares, refeições ligeiras, distribuídas nos bairros pobres.
Mais uma vez, o trabalhador sente até onde pesadas decisões governamentais a sua união, os seus protestos. Todavia, as sopas populares não era o resultado duma solidariedade de esforços, mas um gesto misericordioso das autoridades tinha o caráter de esmola; e o trabalhador consciente, o idealista, o sindicalista revolucionário, o anarquista – não aceitavam esmolas, eram por demais altivos para receberem o que consideravam uma humilhação. A esmola é, sempre, o retrato de duas necessidades: de quem precisa dar e de quem precisa receber.
Repudiando a esmola que se distribuía com o eufemismo de sopas populares, o militante libertário volta historia das lutas sociais, força os governantes a criarem as Feiras-Livres, que mediante facilidades do fisco, poderiam vender produtos de primeira necessidade, a preços bem mais modestos. Dir-se-ia que as Freiras-Livros de hoje, pouco ou quase nada atendem ao trabalhador. Tornou-se um meio de vida para muita gente, mas a sua criação deveu-se a uma iniciativa dos libertários do Brasil, e os objetivos iniciais foram cumpridos razoavelmente. Evidentemente que o governo atendeu ao clamor popular criando-as, mais os que a propuseram, os anarquistas, parte deles, foram deportados, expulsos e presos.
A campanha contra o aumento do custo de vida foi iniciada com publicação e distribuição de manifestos onde o trabalhador mostrava estatisticamente o absurdo dos preços dos gêneros de primeira necessidade. Trabalho cuidadoso, criterioso que mostrava o custo do produto desde a saída da fonte até a venda ao consumidor, fazendo, de forma contundente, uma verdadeira radiografia da maquina exploradora; mostravam que os lucros do redentor e do estado, através do imposto, faziam triplicar o custo do produto alimentar. Depois desta explicação, feita com extraordinário critério, chega o operariado até ao assalto armazéns. As associações operarias perderam o controle da onda humana que, na sua luta desesperada pela vida, recorre ao arrombamento de armazéns dos assambarcadores e fazem-no diante do olhar de espanto dos policiais. É, então, que o governo, com a ajuda de hábeis políticos, resolve “atender” ao proletariado, criando as Feiras-Livres, que venderam diretamente do produtor ao consumido, sem intermediários e sem impostos de qualquer espécie. Apesar do “atendimento” das autoridades, a polícia encarcera os mais destacados militantes anarco-sindicalistas, os considerados “chefes, os agitadores estrangeiros”. Entretanto, a obra elementos libertário, e essa se chamaria Feiras-Livres que assim tiveram sua origem.

Jean Richerpin Fala aos Famintos

O primeiro tem fome. O segundo tem fome.
O terceiro tem fome. E assim outros, milhares!
Mas em tantas legiões, que é melhor não cantares
Quantas são os que a dor da miséria consome!

Um idiota qualquer, de ilustre sobrenome,
Prova, serenamente, os mais finos manjares,
E ao ver a multidão, que uiva aos seus calcanhares
Faz um discurso a Homais, Tal qual Monsieur Prodhome

“Mendigos, se sofreis, conforme a nossa crença,
“Deus vos guarda no céu a doce recompensa,
“Prêmio ao vosso penar, bálsamo ao vosso choro”.

E os pobres, engulindo esta peta rançosa,
Sentem o ventre a impar de pastéis cor de rosa,
E deliciosos pães feitos de nuvens de ouro, (107)

(107) Poesia de Martins Fontes, mais tarde reunida no livro “Vulcão”, Tip. Do Instituto de Escolástica Rosa – Santos – 1926.

Extraído do livro: Nacionalismo e Cultura social
Editora: Laemmert
Ano:1972
Paginas:131 á 133
Autor: Edgar Rodrigues

Nenhum comentário:

Postar um comentário