Pesquisar este blog

terça-feira, 26 de maio de 2015

A MULHER INTELECTUAL E O AMOR

     Marañon não focalizou o problema da mulher intelectual como soube focalizar o conceito clássico da maternidade.
     O fato de George Sand ter tido muitos amantes não quer mesmo dizer vida passional rica.
     George Sand, Isadora Duncan, a Duce – todas infelizes, justamente procurando o amor e se desiludindo, incapazes de compreender, diante do máximo problema da tragédia de ser dois... Talvez a Duce tivesse amado. As outras não encontrarão o amor.
     Duas grandes raças sociais – homens e mulheres – buscam-se e não encontram, justamente porque a luta dos sexos chegou a fazer de ambos duas especies, duas raças sociais com caráter específicos e... "imbecilidade também especificas"... Nem um dos dois chegou a compreender que cada qual deve aceitar o companheiro tal como é, com as suas qualidades "especificas" e os seus defeitos "específicos".
     O homem tem receio da mulher superior, mas a deseja apaixonadamente.
     Uma castidade da consciência a afasta das experiências vulgares. As vezes, erra, quase sempre, na escolha do que lhe parece superior.
     Mas, encontra de novo o caminho, que é retroceder... Seria imperdoável permanecer no erro, e, seria inútil insistir: é-lhe repugnante.
     Em todas as classes sociais, o homem (permitam-se a expressão grosseira mas, unica:) "fareja" na mulher superior uma presa original.
     E nem um deles, desde o operário mais bronco até o intelectual mais fino, nem compreende o direito de escolha a que deve ter direito uma mulher mulher emancipada. Postam-se á nossa frente, quase gritando que ali estão para serem  os "escolhidos"... Que preciosidade são as exceções!...
     Ha tantas mulheres "generosa", que em uma mulher excepcional, por qualquer característica especifica, pode bem se abster de o ser com os homens comuns - que são, sob todos os rótulos, os que atravessam no nosso caminho.
     Compreendo, entretanto, que george sand se tenha dado a Chopin, a Bakounine, a Flaubert... Mas, infelizmente, os Bakounune, os Flaubert e os Chopin, são únicos... e nem sempre se encontram no mesmo seculo e ao nosso alcance... E os artistas, e os homens celebres – é melhor conhece-los só pelas suas obras de arte ou de pensamento...
     Amo profundamente a Wagnar, a Han Rynar, a Romain Rolland e Beethowen, a Einstein.
     Mas, o homem mais culto e mais sábio dessa ciência a que dão o nome de sabedoria e o mais grosseiro camponês ou caboclo – são perfeitamente iguais em ralação á mulher.
     A cultura, a ciência, a intelectualidade pura sem essa alta espiritualidade que vem do coração – não bastam, não satisfazem ás aspirações da mulher superior.
     Todas as mulheres intelectuais encontram em seu caminho muito amor, muito entusiasmo, muita admiração dos homens, e, por mais simples ou mais modestas, podem exacerbar muito desejo.
     E deviam dizer dessas coisas – como subsidio psicológico de umas paginas femininas e mais no grande livro da vida.
     Não é verdade que as mulheres intelectuais tiveram sempre uma vida passional pobre. Pelo contrario.
     E as que subiram muito alto e tiraram das coisas a lição correspondente, procurarão conservar a liberdade por amor ao amor...
     E prezar imenso a castidade ou a austeridade sexual – porque se deveriam envergonhar da preocupação absorvente do sexo nas experiencias vulgares das criaturas comuns, que pensam encontrar no contacto sexual apenas – a suprema felicidade e que borboleteiam inutilmente atrás do impossível. Porque – amor não é contacto de epidermes...
     Tem razão Marañan, quando discute a tése de que esses "corredores" de mulheres, esses Don Juan da variedade são indivíduos de sexualidade ambígua, equivocada, em vez de protótipo da virilidade...
     Para mim, o amor completo, integral, sentimental, tem de realizar a afinidade mental, espiritual, sentimental. Mas, cada um com as suas características de sexo, as suas qualidades especificas, sem que tente modelar ao outro pelo seu temperamento ou pelos seus tributos pessoais e pelo sua individualidade.
     Cada qual, sendo o que é, verdadeiramente, e com coragem heroica de se apresentar tal qual é.
     Demais, queremos o impossível, queremos a felicidade a dois. A felicidade não existe a dois: só ha momentos de felicidade, instantes de harmonia a dois.
     E é o suficiente para alcançamos o paraíso. Compreendendo isso, sentindo-o, conseguimos realizar o milagre do Amor.

Extraído:

Livro: Amai e... não vos multipliqueis
Autor: Maria Lacerda de Moura
Editora: Civilização Brasileira
Paginas: 194 á 197
Ano: 1932   

sábado, 23 de maio de 2015

A INICIAÇÃO SEXUAL PARA AMBOS OS SEXOS

     E é lógico: "haveremos de morrer de fome, si não encontramos o prato que mais apreciamos?"
     Porque não tentar nova experiência amorosa, si a primeira falhou, matando algumas ilusões mais caras?
     Ninguém pergunta ao homem pela sua vida sexual antes do casamento (e pela existência a fora...); pelo contrário, é ridicularizada a virgindade masculina e todos são unânimes em achar necessário o tirocínio na questão e é mais que razoável e ha toda condescendência para os "pecados" da juventude masculina.
     Na sociedades dos países escandinavos, como na Alemanha, na Rússia, no norte da Europa geralmente, nos Estados  Unidos ou das experiências amorosas anteriores – quando procura realizar uma nova experiências ou a felicidade dentro da liberdade no amor.
     Aliás, todos os "casos" se devem resolver segundo as possibilidades individuais
     Que cada qual solucione o seu problema, como puder ou como entender.
     Mas, para encontrar o "homem", " esse homem " que todo o nosso ser deseja através de um sonho delicioso e prometedor de integração, é preciso formular um ideal de amor, procura-lo, "saber distingui-lo"; do contrário, corremos o risco de estiolar o nosso organismo, de adormecer a sensibilidade, de mutilar o nosso corpo e esmagar o nosso sonho, de matar as aspirações, de embotar as faculdades mentais e sentimentais no tipo " solteirona ", fazendo de nós criaturas fora das leis biológicas, fora da natureza, uma nota desafinada no concerto universal.
    Não tem nenhuma criatura humana que passe pela vida sem sentir ou sem provocar atração de um individuo do sexo diferente.
     A lei de atração e repulsão, a lei da gravitação universal é generalizada, abarca os mundos, os seres microcosmo.
     Si, sob o ponto de vista afetivo psicológico, a escolha é difícil e o gosto feminino, talvez mais exigente, si o nosso sonho, sonha a perfeição, tanto quanto possível, ou a harmonia paralela Á nossa harmonia interior, a natureza, por sua vez, serve-se do instinto, das criptas subconscientes para as suas leis de atração e repulsão, em prol da multiplicação da especie.
     e nos obriga a pagar tributo caro, sei a desrespeitamos, cometendo nós os "pecados fisiológicos", os crimes de lesa-natureza que os animais, que os animais, os chamados irracionais estão longe de perpetrar.
     E, sob o ponto de vista ético, por razão a mulher não pode ou não deve colher das experiências amorosas o mesmo poema, o esforço, a luta, uma batalha, o cinzelar da estatua interior e uma vitoria dentro de si mesma?
     Porque a mulher em busca do grande Amor, em busca da verdadeira "afinidade eletiva" integral, que, para mim, é o poder de combinação, é atração sob todos os aspectos, é a harmonia e o equilíbrio, é a independência mutua através da interdependência efetiva de todos os complexos psicológicos, é a atração eletro-magnética, sentimental e mental de dois polos que se buscam e de duas linhas de evolução paralela que se encontram e se completam, – por que a mulher, buscando esse milagre de felicidade, não tenta a experiência amorosa através das leis da atração universal, colhendo o que lhe parece mais superior, mais perfeito, mas belo, mais harmonioso?
 *
*    *

     É erro sob o ponto de vista fisiológico, a ideia de que a castidade absoluta conserva toda a energia vital do individuo – para que possa entregar-se de corpo e alma á atividade mental, e que toda soma de poupadas na continência sexual forçada pode ser aproveitada na vida intelectual.
     A vida sexual não exclui a castidade.
     Si os excessos de qualquer natureza são sempre prejudiciais, também o repouso absoluto de um órgão ou o não funcionamento traz os mesmos inconvenientes, quiçá mais graves.
     A preocupação constante, a ideia fixa, o poder da vontade aplicado a vencer a natureza, desrespeitando-a – produz "fobias", doenças imaginarias, desordens orgânicas e é consequentemente, empecilho á atividade intelectual prolongada.
      Todos nós conhecemos a historia soa monges da Tebaida, os escândalos dos conventos, a histeria, os estigmatismo e a exaltação mistica doentia ou anormal dos santos da santa Igreja.
     Explique-se como quiser, quer se entre no domínio da psico-patologia, das forças do chamado inconsciente ou da metafisica, o que é certo é que o álcool ou entorpecentes ou venenos e até a sugestão podem produzir exaltações do mesmo gênero.
     A abstinência forçada parece agir no organismo de certos temperamentos, como esses entorpecentes momentanios e fatais.
     Encontramos, por vezes, nomes de grandes artistas e eminentes cientistas como sendo celibatários, ingenuidade que não vem ao caso: celibato não quer dizer castidade perpetua...
     Assim, é difícil, é quase impossível que a mulher ou o homem conserve toda a integridade física e mental, toda a seriedade de espirito para as investigações cientificas e éticas – si vive só, sem um afeto mais intimo, sem satisfazer as necessidades fisiológicas inerentes ao sexo, para a mulher, principalmente, as necessidades de ordem afetiva-sexual.
     Agora, satisfazer as necessidades sexuais não é cair no extremo oposto, viciando-se – tal como se dá com a maioria do gênero humano, transformando uma função orgânica em atos repetidos e multiplicados de libertinagem ou luxuria, sem nenhum domínio sobre os sentidos.
     Mas, a ansiedade contra a qual impossível lutar, uma inquietação absorvente, o desassossego de quem espera indefinidamente, o "surmenege", a melancolia, a misantropia, as desordens do aparelho digestivo – eis a estrada larga e angustiosa percorrida pelo intelectual que tenta fugir de exercer todas as suas funções orgânicas ou que está impedido, por qualquer motivo, de viver a vida em toda a plenitude orgânica, afetiva e mental.
     Para a mulher superior é, de fato, complexa, difícil a solução do problema, no meio latino de protetores e senhores, cavaleiros andantes, moraliteistas farisaicos, cristãos manogamos a representar a comedia do tartufismo da civilização unissexual.
     Si não encontra esse grande amor, essa "afinidade eletiva" que é todo o seu sonho de cada instante?
     Mas, e a integridade da sua saúde, para qual urge tomar providência imediata, conforme o seu temperamento?
     E a luta interior, a luta contra o preconceito enraizado, contra o que nos ensinaram, o que herdamos, contra tudo o que é artificial em nós, contra a timidez aprendida e milenar e que não passa de requintada hipocrisia através da educação dos "bons costumes"?
     E a rotina, a moral dos escribas desta sociedade que sabe de tudo isso, porem, prefere o que é feito ás escondidas, e exige, publicamente, o "recato" da mulher e a mimoseia com epítetos os mais deprimentes, os mais humilhantes, si ela não espera que a colham, "como uma flor" para enfeite de lapela... e si dá ao eleito, procurando viver a vida e evitando assim, a consequência desastrosas para a sua saúde física e psíquica? Demais, quantos milhares de mulheres baixam á sepultura, envelhecidas de esperar em vão que as colhessem "como uma flor"?...
     É perfeitamente inútil esse sacrifício contra a natureza, esse "pecado fisiológico" imperdoável, não mais condizendo a moral dos nossos dias com os conhecimentos biológicos, com a psiquiatria, com a psicanalise, com os esforços ingentes que vem fazendo a mulher para se libertar de todos os "detetives morais" que a prendem, brutalmente, á geena das convenções sociais.
     Si é difícil entre nós, latinos, a solução do problema feminino, si é amargura e tormenta interior o drama da emancipação da mulher, si as precursoras se sacrificam anatematizadas por uma civilização de caftismo oficializado, não é desesperador olhando o problema na sua verdadeira face que é o prisma individual, porque ha individualidades masculinas de grande valor ético e de admirável sensibilidade que procuram a solução para o problema afetivo, alarmada de não encontrar o tipo mental feminino que as complete para a harmonia dos dois. Ha uma quase tragedia nesse desencontro...
     São mais raras: o homem se contenta mas facilmente. A natureza os fez apenas para fecundar no plano físico... e tal exigência fecha-lhes o cérebros na apreciação da mulher. Só os sentidos amam no homem. Embora o seu protesto veemente diante da mulher superior pela elevação ou pela cultura, o homem, si se entusiasma pela mulher intelectual, ainda é a exigência dos sentidos a prever um "caso" original, uma emoção mais requintada, um prazer diferente, a vaidade dos casos singulares... A exceção masculina é quase a divindade...
     Está sempre de pé a tragedia dos sexos, o drama de ser dois: a mulher ama com o coração, com a sensibilidade afetiva.

Extraído:

Livro: Amai e... não vos multipliqueis
Autor: Maria Lacerda de Moura
Editora: Civilização Brasileira
Paginas: 155 á 161
Ano: 1932

domingo, 17 de maio de 2015

Catecismo Anarquista

- És anarquista?
- Sim, porque sou trabalhador consciente.
- Que é ser trabalhador?
- É viver do esforço do seu trabalho.
- Quando se pode dizer que o trabalhador é consciente?
- Quando conhece as causas de sua miséria e as combate.
- Que é trabalho?
- É o esforço para produzir?
- Que é produzir?
- É criar riqueza.
- É tudo que pode ser útil ao homem.
- Então o sol é uma riqueza?
- Sim, como o ar, a água, os peixes etc.
- Mas o sol não é produzido pelo homem.
- Não, por isso se chama riqueza gratuita.
- Há outras riquezas gratuitas?
- Há, o ar, a chuva, os rios, os mares etc.
- A terra será uma riqueza gratuita?
- Deveria sê-lo, porque é a matéria natural da produção das riquezas minerais e orgânicas; mas não o é.
- Por que não o é?
- Porque é possuída por alguns homens em prejuízo da maioria dos homens.
- Isso é Justo?
- Não, Isso é a causa da maioria parte da desgraças humanas, Que dirias de um indivíduo que pudesse apropriar-se da luz e do calor solar e o fizesse para vendê-los depois aos outros homens?
- Que seria um infame!
- Que dirias dos homens que se apropriam de toda a terra e não permitam que os outros a cultivam?
- Que são infames.
- Que dizes de uma sociedade que mantém esse regime?
- Que é uma sociedade de prejudicial ao homem e portanto precisa ser reformada pela extensão do direito de propriedade particular.
- Quem mantém essa propriedade particular?
- O governo, isto é, alguns alguns homens que pretendem dirigir os outros homens.
- Qual é o meio de que lançam mão para tal fim?
- A lei, e para garantir a lei o soldado.
- Que é lei?
- O conjunto de regras impostas pelos reis, conquistadores, capitalistas etc... às classes trabalhadoras com o fim exclusivo de manter a propriedade particular, isto é, a posse das riquezas, e regular a sua transmissão.
- O que é soldado?
- É o trabalhador inconsciente que se sujeita aos possuidores da terra para manter essa posse a troco de um miserável pagamento.
- Como se sujeita a ele?
- Sujeita pela disciplina.
- Que é disciplina?
- É a escravidão da vontade do soldado ao seu superior. O soldado obedece ao que lhe mandem sem como nem porquê.
- Qual é o oficio do soldado?
- Matar.
- Mas a lei não proíbe matar?
- Proíbe, mais se o soldado matar um trabalhador que protesta contra o governo, a lei declara que o soldado é virtuoso.
- O papel do soldado é digno?
- Não. É o mais vil possível.
- E como trabalhadores se fazem soldados?
- São iludidos pelos governantes e arrastados pela miséria.
- Como conseguem iludi-los?
- Com fardamentos vistosos e inflamados neles o preceito do amor à pátria?
- É um sentimento mesquinho que leva o individuo a supor que os que nasceram no seu território são superiores aos outros homens.
- Esses sentimentos leva a más conseqüências?
- É o elemento principal que arrasta as massas humanas à "Guerra".
- Que é guerra?
- É o processo de dominação pela morte.
- Como se explica?
- A história monstra que os "grandes" de uma nação armavam soldados, adestravam-nos e subjugavam pela força os homens de outras terras, ou pera escravizá-los, ou para se apossarem da lavoura, suas minas, de suas riquezas até mesmo de suas mulheres. Os diretores dessas guerras, um Cambyses, um Alexandre Magno, um César, um Napoleão. Eram simples bandidos que procuravam justificar suas invasões com pretextos fúteis de "honra, vingança, amor à Pátria". Hoje as guerras são as mesma coisa, luta por causas de colônias, de comércio, de capitais comprometidos.
- Que faz a guerra?
- São os capitalistas, por intermédios dos diplomatas e pelos canhões movidos pelos soldados.
- Que fazem os soldados da policia?
- Mantêm a chamada ordem ou "hierarquia", isto é o regime de autoridade pelo qual os inferiores se subordinam aos superiores. Desde que alguns trabalhadores procuram levantar-se contra os exploradores a policia intervém para "manter a ordem" isto é obrigar os trabalhadores a se submeteram à exploração.
- Como reformar isso?
- Extinguindo a propriedade particular e tomando posse da terra coletiva.
- Mas fará essa reforma?
- Os dirigentes capitalistas não farão porque seria contrários dos seus interesses; logo essa reforma só pode ser feita pelos trabalhadores.
- Como se chamará o regime da propriedade coletiva?
- Chamar-se-á Anarquia.
- Que significa esse nome?
- Significa "não-comando", isto é, exclusão dos superiores e portanto "igualdade, não autoridade".
- A anarquia existe ordem?
- É o único meio de obter ordem e verdadeira ordem, que hoje é mantida apenas pela compreensão. Basta que por um dia suprimam a polícia e o exército para a "desordem" atual se manifeste em desmando de toda a espécie¹.

¹. Rio de janeiro, 1918

Extraído:

Livro: Um século de história politico-social em documentos
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: Achiamé
Pagina: 150 á 152
Ano; 2005

sexta-feira, 1 de maio de 2015

A letra mais importante (Eduardo Galeano)

     O menino uruguaio Joaquín de Souza está aprendendo a ler e pratica com os cartazes que vê. Ele acredita que a letra P é a mais importante, pois tudo começa com ela:
     Proibido entrar
     Proibido fumar
     Proibido cuspir
     Proibido estacionar
     Proibido colar cartazes
     Proibido jogar lixo
     Proibido fazer fogo
     Proibido fazer ruído
     Proibido...

Extraído:
livro: O teatro do bem e do mal
Autor: Eduardo Galeano
Edtora: L&PM Pocket
Pagina:42
Ano: 2014

Pedagogia da violência (Eduardo Galeano)

     Segundo o general Marshall, somente dois de cada dez soldados de seu exército utilizavam os fuzis durante a Segunda Guerra mundial. Outros oito portavam de armas como adorno. Anos depois, na guerra do Vietnã, a realidade era bem outra: nove de cada dez soldados das tropas invasoras faziam fogo, e atiravam para matar.
     A diferença estava na educação que havia recebido. O tenente-coronel David Grossman, especialista em pedagogia militar, sustentava que o homem não está naturalmente inclinado à violência. Ao contrário do que supõe, não é nada fácil ensinar a matar o próximo. A educação para a violência exige um intenso e prolongado adestramento, destinado a brutalizar o soldados e a desmantelar sistematicamente sua sensibilidade humana. Segundo Grossman, esse ensino começa, nos quartéis, aos dezoito anos de idade, mas fora dos quartéis começa aos dezoito meses: a televisão dita esses cursos a domicílio.
     -Foi como na tevé - disse um menino de seis anos que assassinou uma companheirinha de sua idade, em Michigan, no inverno neste ano.

Extraído:
livro: O teatro do bem e do mal
Autor: Eduardo Galeano
Edtora: L&PM Pocket
Pagina: 113 á 114
Ano: 2014

A felicidade (Eduardo Galeano)

     Já se sabe que o dinheiro não produz a felicidade, mas também se sabe que produz algo tão parecido que a diferencia é assunto para especialistas.
     Contudo, a peste da tristeza está fazendo estragos nos países mais ricos. As estatísticas da Organização Mundial de Saúde informam que, agora, a depressão nervosa é dez vezes mais frequente do que há cinquenta anos nos Estados Unidos e na Europa Ocidental.
     As estatística revelam as vertiginosas mudanças ocorridas, no último meio século, nos prósperos países que todos querem imitar. Ansiedade de comprar e ser comprado, angústia de perder e ser descartado: nos centros do privilégio, as pessoas duram mais, ganham mais e têm mais, mas se deprimem mais, enlouquecem mais, embriagam-se mais, drogam-se mais, suicidam-se mais e matam mais.

Extraído:
livro: O teatro do bem e do mal
Autor: Eduardo Galeano
Edtora: L&PM Pocket
Pagina: 113
Ano: 2014