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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Hino da Liberdade



No Rio Grande do Sul, uma das regiões menos atingidas pelo ciclone bernardista, o grupo ácrata, editor de “O Nosso Verbo”, fazia circular pelas entidades afins, de mão em mão, o “Hino da Liberdade”, com música do hino Brasileiro:






Hino da liberdade




Unamo-nos escravos da: política,


Na justa aspiração da liberdade


Pois temos que exercer severa crítica


Contra a desordem secular da sociedade


A quem os filhos.


Oh! Produtores.


A quem os filhos,


Hoje mirrados na pobreza os consomem,


Lançai por terra


Os empecilhos


Que é o mais justo dever de todo o homem!


Que as nossas dores nos inspirem, sempre! Sempre!




O gozo é para nós um sonho místico


Que zomba da miséria dissolvente;


Esteios, que se perdem no reverso;


Baluartes, que a desgraça vos levaram,


Só vós sois os obreiros do Universo!


****


Oh! Produtores


Que o vosso sangue derramais


Aos opressores,


Clamai justiça para os punir!


Anarquia! Porvir!




2




Esta vil sociedade tão despótica


Desprezêmo-la de vez, filhos do povo,


E de toda esta amizade patriótica


Façamos renascer um mundo novo.


Operários,


Que assim nasceram,


Tanto padecem nesta vil sociedade?


Sejamos fortes


E sempre bravos


Combatemos sem descanso a iniqüidade!


Que nossas dores nos inspirem sempre e sempre!


A dor restou em nós força titânica


Para grande combate a burguesia,


E seja a nossa cólera vulcânica


A vida dos princípios da Anarquia!


Mas, na verdade erguendo os seus escombros


Mostremos o valor da sã Justiça!


Não mais fatigue o peso os nossos ombros!




Oh! Produtores


Que o vosso sangue derramais


Aos opressores,


Clamai justiça para os punir!


Anarquia! Povir!

domingo, 9 de dezembro de 2012

A defesa de um terrorista ( Emile Henry)


    O que vou dizer-lhes não é uma defesa. Não estou tentando escapar do castigo imposto pela sociedade que ataquei. Além do mais, só reconheço um tribunal capaz de julgar-me - eu próprio - e o veredicto de qualquer outro não tem nenhuma importância para mim. Desejo apenas dar lhes uma explicação sobre os meus atos e dizer-lhes como fui levado a praticá-los.
    Faz pouco tempo que me tornei um anarquista. Foi só na metade de 1891 que ingressei no movimento revolucionário. Até então, frequentava ambientes inteiramente imbuídos da moral vigente. Tinha sido educado para respeitar e até mesmo amar os conceitos de pátria, família, autoridade e propriedade. Pois a verdade é que os professores dessa geração moderna esquecem muitas vezes de uma coisa importante: que a vida, com suas lutas e derrotas, suas injustiças e iniquidades, se encarrega de abrir indiscretamente os olhos daqueles que ainda ignoram a realidade. Isso aconteceu comigo, assim como acontece como todo mundo.
    Disseram-me que a vida era fácil, que estava aberta a todas as pessoas inteligentes e cheias de entusiasmo; a experiência me ensinou que só os cínicos e os servis conseguiam bons lugares no banquete. Disseram-me que as instituições sociais baseavam- se na justiça e na igualdade; eu observava a minha volta e só via mentiras e falsidade.
    Cada dia que passava me fazia perder as ilusões. Por onde quer que andasse, testemunhava sempre a mesma coisa: a miséria de alguns e as alegrias de outros. Não tardei a entender que as grandes palavras que haviam me ensinado a venerar - honra, dedicação, dever - eram apenas máscaras que escondiam a mais vergonhosa baixeza. O dono da fábrica, que amealhava uma fortuna colossal graças ao trabalho de operários que nada tinham, era um cavalheiro; os deputados e ministros, cujas mãos estavam sempre estendidas à espera do suborno, eram homens dedicados ao bem comum; o policial, que experimentava um novo tipo de rifle alvejando crianças de sete anos, cumprira seu dever e era cumprimentado publicamente no parlamento pelo presidente do conselho. Tudo isso me enojava e minha inteligência foi aos poucos atraída pelas críticas feitas à organização social vigente. essas críticas já foram tantas vezes repetidas que não vale a pena voltar a fazê-lo. Basta apenas dizer que logo me tornei um inimigo de uma sociedade que eu julgava criminosa.
    Atraído, no início, pelo socialismo não tardei a afastar-me desse partido. Amo demais a liberdade, tenho demasiado respeito pela iniciativa privada e demasiada repulsa pela organização militar para que pudesse me tornar apenas mais um número no exército ordenado do quarto estado. Além disso, cedo que o socialismo não chegava a modificar a ordem estabelecida pois mantinha o conceito da autoridade - e seja qual for a ideia que os livres pensadores autodidatas possam ter a respeito - tal conceito representa a sobrevivência de
uma crença antiquada num poder superior.
    Estudos científicos me fizeram ir percebendo o papel que as forças naturais desempenham no universo. Tornei-me materialista e ateu: entendi que a moderna ciência rejeita a hipótese da existência de deus porque não precisa dele. Da mesma maneira, a moral religiosa e autoritária baseada em falsas premissas, também deveria desaparecer. Perguntava a mim mesmo como harmonizar essa nova moral com as leis da natureza, capazes de regenerar o velho mundo, para que fosse possível tornar a humanidade mais feliz. Foi nesse momento que entrei em contato com um grupo de camaradas anarquistas que ainda hoje considero entre
os melhores que já conheci. O caráter desses homens me cativou de imediato. Percebi neles uma grande sinceridade, uma franqueza total, uma vigorosa desconfiança de todos os preconceitos e quis entender as idéias capazes de produzir homens tão diferentes daqueles que eu até então conhecera.
     Essas idéias, tal como consegui entendê-las, encontraram em minha mente um solo totalmente preparado - graças a observações e reflexões pessoais - para recebê-las. Elas vieram apenas dar objetividade ao que já existia de forma vaga e indecisa. E, por minha vez, eu também me tornei um anarquista.
     Não é necessário que eu desenvolva aqui toda a teoria dos anarquistas. Desejo apenas salientar seu lado revolucionário e os aspectos negativos e destrutivos que me trouxeram a sua presença. Neste momento de amargo e acirrado combate entre a classe média e seus inimigos, sou quase tentado a dizer, como Souvarine em Germinal: "Todas as discussões sobre o futuro são criminosas, já que impedem a destruição pura e simples e retardam a marcha da revolução".
     Como contribuição pessoal à luta, eu trouxe um ódio profundo e renovado a cada dia pelo espetáculo dessa sociedade onde tudo é baixo, equívoco e feio; onde tudo serve de impedimento ao fluxo das paixões humanas, aos impulsos generosos do coração, ao vôos livre do pensamento. Desejava golpeá-la com tanta força e tanta justiça quanto fosse possível.
     Comecemos com a primeira tentativa, a explosão na Rue des Carmaux. As primeiras notícias sobre a greve me encheram de alegria. Os mineiros pareciam enfim ter abandonado as inúteis greves pacíficas., nas quais o operário confiante espera pacientemente que seus poucos francos triunfem sobre os milhões da companhia. Pareciam ter finalmente escolhido o caminho da violência, que se manifestou decididamente no dia 15 de agosto de 1892. Os escritórios e prédios da mina foram invadidos por uma multidão de gente cansada de sofrer sem protestar; revoltados, os operários estavam prestes a justiçar o odiado engenheiro
quando os mais medrosos decidiram interferir.
     E quem eram esses homens? Os mesmos que fazem abortar todos os movimentos revolucionários porque temem que, uma vez livre, o povo não obedecerá mais ao seu comando. Os mesmos que convencem milhares de homens a suportar privações mês após mês para que, ao protestar contra essas privações, possam criar para si uma popularidade capaz de fazer com que se elejam. Tais homens - falo nos líderes socialistas assumiram de fato a liderança do movimento grevista. Imediatamente surgiu na região, uma nuvem de cavalheiros loquazes que se colocavam inteiramente à disposição dos operários, para organizar listas para arrecadação de fundos, arranjar conferências e buscar em todos os lugares possíveis. Os mineiros entregaram a eles toda a organização do movimento e todos sabem o que aconteceu.
     A greve continuou, estendeu-se durante dias e os mineiros estabeleceram relações muito íntimas com a fome, que se tornou sua mais fiel companheira. Logo esgotaram a pequena reserva de fundos de seu próprio sindicato e das outras organizações que tinham vindo em seu auxílio, então, ao fim do segundo mês de greve, cabisbaixos e humilhados, voltaram aos poços da mina mais miseráveis do que nunca. Teria sido tão simples no começo atacar a companhia no seu único ponto sensível - o financeiro - queimando os estoques de carvão, destruindo as máquinas e as bombas de recalque das minas. Se tivessem feito isso, a companhia certamente não tardaria a capitular. Mas os grandes pontífices do socialismo não permitiram a utilização desses métodos por serem típicos do anarquismo. Ao lançar mão deles estamos arriscados a levar um tiro e até quem sabe, a receber uma daquelas balas que deram resultados tão miraculosos em Fourmies. Essa não é, certamente, a melhor maneira de ganhar um lugar na câmara municipal ou na assembléia legislativa. Em resuma, após uma interrupção momentânea, a ordem voltou a reinar em Carmaux, uma vez eliminados alguns problemas passageiros. Mais poderosa do que nunca, a Companhia continuou a explorar o povo, e os cavalheiros acionistas cumprimentaram-se pelo feliz desfecho da greve, sentindo um redobrado prazer ao receber seus dividendos.
     Foi então que decidi introduzir naquele concerto de sons tão alegres uma voz que os burgueses já conheciam, mas que julgavam ter morrido em Ravaxhel: a voz da dinamite.Queria mostrar à burguesia que, partir daquele momento, seus prazeres já não seriam tão completos, que as vitórias insolentes seriam perturbadas, que o bezerro de ouro balançaria violentamente no pedestal até o golpe final, que o faria rolar em meio ao sangue e à imundice. Ao mesmo tempo, desejava fazer com que os mineiros entendessem que só há um tipo de homem capaz de se preocupar sinceramente com os seus sofrimentos e dispostos a
vingá-los: os anarquistas. tais homens não ficam sentados no parlamento como o Sr Guesde e seus associados, mas, marcham até a guilhotina.
Assim, preparei uma bomba. Num certo momento, lembrei-me da acusação que havia sido feita
em Ravachol. E as vítimas inocentes? Mas logo resolvi esse problema. Os edifícios onde a Companhia Carmoux mantinha seus escritórios eram habitados apenas por burgueses: não haveria,
portanto, vítimas inocentes. Todos os burgueses vivem da exploração dos menos afortunados e
justos e deveriam pagar pelo seu crime; Assim, foi com a mais absoluta confiança na legitimidade do meu ato que deixei a bomba diante da porta dos escritórios da Companhia.
     Já falei aqui sobre a minha esperança de que, caso fosse descoberta antes de explodir,
minha bomba acabaria por detonar na delegacia, aonde aqueles que por acaso viessem a
sofrer ferimentos também seriam inimigos. Tais foram os motivos que me levaram a cometer
o primeiro atentado de que sou acusado.
     Vejamos o segundo: o incidente no Café Terminus. Eu acabara de voltar a Paris na época do
caso Vallant e fora testemunha da terrível repressão que se seguiu à explosão no Palácio
Bourbon. Vi as medidas draconianas que o governo decidiu tomar contra os anarquistas.
     Havia espiões, buscas e prisões por toda parte. Um grupo de indivíduos detidos indiscriminadamente, arrancados de seus lares e jogados nas prisões. Ninguém se preocupou em saber o que aconteceria às suas esposas e filhos enquanto esses camaradas permanecessem confinados. O anarquista já não era mais considerado um ser humano, mas uma besta selvagem que devia ser caçada sem tréguas enquanto a imprensa burguesa, escrava da autoridade, exigia em altas vozes que todos eles fossem eliminados. Ao mesmo tempo, panfletos e papéis libertários eram confiscados e aboliu-se o direito de reunião. Pior do que isso: quando parecia aconselhável livrar-se de um camarada, um informante deixava no seu quarto um pacote que, segundo ele, continha tanino; no dia seguinte procedia-se a uma busca com um mandato datado do dia anterior e encontrava-se uma caixa com um pó suspeito. O camarada era então levado a julgamento e condenado a 3 anos de prisão.
     Se quiserem saber se o que digo é verdade, perguntem ao espião miserável que consegui penetrar na casa do camarada Merigeaud!
     Mas tais métodos eram válidos pois atacavam um inimigo que havia espalhado o medo, e todos aqueles que tinham tremido de pavor queriam agora demonstrar coragem. Como coroamento dessa cruzada contra os heréticos, ouvimos o Ministro do Interior, Sr. Reynal, declarar na Câmara dos Deputados que as medidas tomadas pelo governo tinham implantado o terror entre os anarquistas. Mas isso ainda não era suficiente: um homem que nunca havia matado ninguém foi condenado à morte. Era necessário mostrar  ravura até o fim, e numa bela manhã ele foi guilhotinado. Mas, senhores da burguesia, ao fazer tais planos, vocês esqueceram do principal, prenderam centenas de homens e mulheres, violaram dezenas de lares, mas, fora dos muros da prisão, ainda restavam homens que vocês desconheciam eque observavam, escondidos nas sobras enquanto vocês caçavam anarquistas, esperando apenas o momento propício para que eles, por sua vez, pudessem caçar os caçadores.
     As palavras de Reynal eram um desafio arremessado aos anarquistas. O desafio foi aceito. A bomba encontrada no Café Terminus é a resposta a todas as violações à liberdade, às prisões, às buscas, às leis contra a imprensa, às deportações em massa, às guilhotinas. Mas - perguntarão vocês - por que atacar os pacíficos clientes de um café que estavam apenas sentados ouvindo música e que, não eram nem juízes, nem deputados, nem burocratas? Por quê? É muito simples. Os burgueses não faziam distinções entre os  anarquistas. Vailant, um homem que agia sozinho, jogou uma bomba; mais da metade de seus camaradas nem ao menos o conhecia mas isso não teve nenhuma importância; era uma perseguição em massa e qualquer pessoa que tivesse ligações com os anarquistas, por menor que fossem, deveria ser caçada. E já que vocês responsabilizam todo um partido pelas ações de um só homem atacam indiscriminadamente, nós também atacaremos sem escolher as vítimas. Acham talvez que devêssemos atacar somente os deputados que fazem as leis contra nós, os juízes que aplicam essas leis, à polícia que nos prende? Não concordo. Tais homens são apenas instrumentos. Não agem em seu próprio nome. Suas funções foram criadas pela burguesia como uma forma de defesa. Não são mais culpados que qualquer um de vocês.
     Esses bons burgueses que não tem qualquer cargo público, mas que colhem seus dividendos e vivem ociosamente graças aos lucros obtidos com o trabalho árduo dos operários, eles também devem sofrer a sua quota de vingança! E não só eles, mas todos aqueles que concordam com a ordem vigente, que plaudem os atos do governo e assim se tornam seus cúmplices; os funcionários que ganham três ou cinco mil francos por mês e que odeiam o povo com fúria ainda maior que a dos ricos, aquela massa estúpida e pretensiosa de gente que sempre escolhe o lado mais forte - em outras palavras, a clientela diária do Terminus e de outros grandes cafés! Foi por essa razão que ataquei ao acaso e não escolhi as minhas vítimas.
     Devemos fazer com que a burguesia entenda que aqueles que sofrem estão enfim cansados de sofrer. Começam a mostrar os dentes e quando atacarem serão tanto mais brutais quanto tiver sido a brutalidade usada contra eles. Eles não têm nenhum respeito pela vida humana porque os próprios burgueses já desmonstraram que não se preocupam com ela. Não cabe aos assassinos responsáveis por aquela semana sangrenta e por Fourmies considerar que os outros são os assassinos.
     Não pouparemos as mulheres e crianças burguesas porque as mulheres e crianças daqueles que amamos também não foram poupadas. Não deveríamos incluir entre as vítimas inocentes, as crianças que morrem lentamente de anemia nos cortiços porque não há pão em suas casas? As mulheres que vão se tornando cada vez mais pálidas trabalhando nas fábricas, esfalfando-se para ganhar alguns tostões por dia e podendo se considerar felizes se a pobreza não as levar à prostituição? Ou os velhos que foram tratados como máquinas durante toda a vida e que agora são lançados ao monte de refugos nos asilos, quando já não têm mais forças para trabalhar?
    Tenham ao menos a coragem de assumir seus crimes, cavalheiros da burguesia, e reconheçam que nossas represálias são totalmente válidas. É claro que não tenho ilusões.
     Sei que as massas ainda não estão preparadas para entender meus atos. Mesmo entre os operários pelos quais lutei, muitos ainda serão enganados pelos jornais e me condenarão como a um inimigo. Mas isso não importa. Não estou preocupado com o que os outros pensam de mim. nem ignoro o fato de que há muitos indivíduos que se dizem anarquistas mas que se apressam a negar solidariedade aos que pretendem difundir a ação. Eles procuram estabelecer uma diferença sutil entre os teóricos e os terroristas.
     Demasiadamente covardes para arriscar a própria vida, negam aqueles que têm essa coragem. Mas a influência que pretendem exercer sobre o movimento revolucionário é absolutamente nenhuma. Hoje o campo está aberto à ação, sem fraquezas ou desistências.
     Certa vez Alexander Herzen, o revolucionário russo, disse: "devemos escolher entre duas coisas: condenar e marchar para frente ou perdoar e dar meia volta no meio do caminho".
     Não pretendermos nem perdoar, nem voltar atrás e marcharemos sempre para frente, avançando até que a revolução, objetivo final de todos os nossos esforços, finalmente aconteça para coroar nosso trabalho com a criação de um mundo livre.
     Nessa guerra sem piedade que declaramos contra a burguesia, não queremos que ninguém tenha pena de nós. Matamos e sabemos suportar a morte. É portanto com indiferença que aguardo a sentença. Sei que minha cabeça não será a última que vocês cortarão: outras ainda irão rolar, porque os que morrem de fome começam a aprender os caminhos que levam aos cafés e aos restaurantes, aos Terminus e Foyots. Outros nomes serão acrescentados à lista sangrenta dos nossos mortos. Vocês podem ter enforcado em Chicago, decapitado na Alemanha, garroteado em Jerez, fuzilado em Barcelona, guilhotinado em Montbrison e Paris,
mas nunca conseguirão acabar com o anarquismo. Suas raízes são demasiadamente profundas, ele nasceu no coração de uma sociedade que está apodrecendo e se desintegrando.
     Representa todas as aspirações libertárias e igualitárias que se levantam contra a autoridade. Está em toda parte, o que faz que seja impossível controlá-lo. Acabará por matá-los a todos!

Emile Henry (in A Gazeta dos tribunais, 27-8 abril,1894.)

sábado, 1 de dezembro de 2012

Se achar bonita

É difícil se achar bonita,
Quando tudo ao seu redor te diz o contrário:
Zé povinho falando pra você emagrecer,
Aí você abraça as ideia dele,
Como se fosse ruim ser grande
Tem gente que é gorda de nascença sabia?

O meu corpo, carrega minha história,
Cada marca, estria, celulite, ruga, cicatriz que eu tenho
São marcas da vida, da vivência, do viver...

Mas eu tava falando,
Que é difícil se achar bonita,
E quando a gente começa a se sentir assim, bonita
A gente percebe que,
Se aceitar
É fazer uma revolução!

Falando nisso...

Quando outra pessoa se incomoda com a sua revolução é porque ainda não há coragem nela para se auto revolucionar, pois não é um processo fácil, é difícil e doloroso, em conversas percebemos vários aspectos, inclusive feministas, concebidos APENAS por pessoas magras cara, porque insistimos que o pessoal é político, assim como acreditamos que relacionamentos amorosos, amizades e QUALQUER relacionamento interpessoal é vivência e prática política sim. Pois nessas circunstâncias é onde reproduzimos o que aprendemos, o que estamos devolvendo as pessoas, e cara na moral não é fácil...

Percebemos várias feministas que ridicularizam ou simplesmente banalizam conversas e visões críticas sobre relacionamento, com seu discurso altruísta sobre, como estou acima dessas relevâncias, a classe social vem ANTES DE QUALQUER COISA, e não adianta ir contra esse FATO. São muitos fatores que namoram entre si, é complicado porque percebo que nessa miscelânea de fatores que citei é aí que congestionamos, porque por muitas vezes não há trabalhos de base,de formação, e aí incluo o seu irmão, o seu namorado, o seu pai e até o cara que mexeu com você na rua, tá ligada mina???

Por que não há só a questão de que o cara quer você como prisioneira dele, e sim porque sabe como você é linda tanto fisicamente, quanto intelectualmente, que não quer que qualquer imbecil lhe faça algum mal, porque ele ama você isso é protecionismo, não vejo ele com bons olhos e deixemos claro nosso posicionamento. Mas que o fato de tal percepção nos coloque num papel um pouco mais adulto e realista de parar de enxergar qualquer homem como inimigo, como reaça e como machista imutável, me percebi intolerante e autoritária, sim sou oprimida e minha voz por várias vezes só é ouvida no grito, porém a cultura do grito, desvaloriza as nossas idéias tão ricas em relacionamentos interpessoais pois, o grito agride.

Sei da minha dificuldade com grito, pois eu grito mesmo, a minha indignação me assiste, mas é preciso usar a dosagem do bom senso e crítico também parceira. Não acreditamos numa cartilha pré-definida muitas vezes por feministas européias, ou por feministas com realidades diferentes da nossas...é necessário um reflexão sobre isso e na boa é um tapa na cara e não é fácil admitir,certo????

Por várias vezes usei a palavra "fácil" por aqui, porque é a palavra que  em questões políticas que é a menos amiga, rs. Sei que quando nos negamos a aceitar qualquer tipo de opressão ficamos praticamente sozinhas, pois é difícil existirem de fato companheiros feministas, mas também sentamos o rabo numa zona de conforto, querendo algo pronto, sendo que talvez se nós FEMINISTAS não tivéssemos tido qualquer envolvimento com o estudo político, seriamos mulheres machistas felizes em nossos casamentos e namoros concebidos e idealizados por uma sociedade patriarcal. Acho até prepotência e mimo da nossa parte esse tipo de exigência, sabe porque, eu MULHER FEMINISTA, me percebi detectando todos os fatos machistas em meu relacionamento com meu companheiro, em que gritei seu machismo aos quatro ventos, mas talvez conte nos dedos as vezes em que eu dei alguma formação política, ou sentei num dia amena e de mais amor para estudarmos JUNTOS o feminismo, saca ????

Só denunciar o fato opressor, não o elimina. Há a necessidade de um amadurecimento feminista nesse aspecto, para que nossa luta avance, e para que os homens se sintam incluídos e que o o feminismo é para eles também. Percebo meus amigos libertários oprimidos por feministas, com medo de falar que acha bonito ou sexy - e sim sexy é diferente de sensualizar seus atos - unhas vermelhas, porque alguma mina imbecil e sectária acha que o cara está sendo machista...

Se o feminismo é o contrário de machismo que tratemos ele como ele é para mulheres e HOMENS. Porque espaço seguro NÃO EXISTE.e enquanto vc tratar caráter pelo gênero, eu não quero, não somo com você e não me sinto representada por tais idéias "feministas" porque essas são práticas imaturas e ingênuas, porque quando você mina pobre, negra, gorda, sabe que o contexto de CLASSE SOCIAL entra antes de qualquer contexto e se não houver estudo e compreensão disso, nossa luta ???

Vai ser utópica mesmo.

Extraído de:
  
http://gordasefeministas.blogspot.com.br/2012/11/se-achar-bonita.html

segunda-feira, 16 de julho de 2012

VIVER HARMONIOSAMENTE...

A covardia mental é a mais poderosa das armas reacionárias.
O caminho único do gênero humano, si não queremos ser devorados pela reação, pejada de violência cientifica e tecnocracia – é a “suprema resistência” à covarde domesticidade e à imbecilidade humana, aos exploradores da consciência, aos vendilhões de todos os templos.
Não sejamos livres-pensadores de rebanho, desses que protestam entre amigos, no seio da família ou nos recintos das Lojas teosóficas ou maçônicas, mas, casam-se na Igreja, são devotos de Sta. Terezinha, batisam os filhos, servem de padrinhos e testemunhas de casamentos, mandam rezar missas pelos seus mortos, celebram funeral religioso, confessam-se. Comungam na hora das aperturas, ou dão dinheiro para as cerimonias da Igreja, sob a capa covarde de dever social.
E, o que é pior, educam os filhos nos colégios religiosos e assistem à sua primeira comunhão – porque é “chic” e elegante e pretexto para reuniões mundanas.
A cada instante, ouço dizer que nem sempre a família está disposta a acompanhar os militantes.
E conheço delas que são a negação absoluta das doutrinas pregadas pelos seus chefes. Entretanto, tais militantes procuram ardorosamente fazer prosélitos e exigir que outros companheiros e principalmente outras companheiras se comprometam pela causa que eles defendem.
Essa incoerência equivale à do que prega para o publico, reservando-se o direito de não seguir os seus próprios conselhos.
Si a minha família não quer ou não pode seguir os meus sonhos de libertação humana, um dilema traça à minha consciência uma base de conduta. Si sou fraca e dominada pelos sentimentos afetivos limitados ao egoísmo da família de sangue – que nem sempre é a nossa família – que nem sempre é a nossa família – não tenho o direito de pregar ou exigir dos outros, aquilo que eu mesma não fui capaz de realizar. Retiro-me. Não me posso fazer agitador e militante.
Nada posso exigir, si não dou exemplo integral.
O segundo caminho é mais íngreme, é mais doloroso, é mais escarpado: coloco os interesses humanos, coloco a minha consciência acima da família, não a acuso nem defendo e reivindico para mim o direito á deserção.
Isolo-me da família e, pelo exemplo, demonstro que vivo individualmente em harmonia comigo mesma e ponho de acordo o pensamento e ação.
Não tenho o direito de impor ou exigir nem da família nem do próximo.
Mas, tenho o dever de reivindicar os meus direitos individuais, de ser livre, de desertar, de fugir de todos os detetives morais, cuja missão é dominar, é escravizar – para reduzir à rotina, à imbecilidade, à cretinice e à covardia.
Muitos menos me assiste o direito de formar uma família cuja educação eu descurei, e depois, vir impor o meu pensamento ás famílias dos outros, buscando prosélitos ou exigindo de outros consciências o lema das minhas verdades individuais.
“Cada qual só pode iluminar a si mesmo...” E, antes de exigir d quem quer que seja, eu tenho a obrigação de exigir de mim mesma, cuidando da minha própria realização.

*
* *

Já é tempo de comemorarmos Ferrer de outros modo. Não se educa com discursos. E, si as Escolas Modernas são fechadas pela policia clerical, cada um de nós tem uma pequena escola moderna dentro do lar e ... dentro de nós mesmos.
, si a educação do lar falhou. Repito, só há dois caminhos a seguir – si não queremos corar deante dos olhares perfurados das consciências clarividentes.
Ou resignar-se estoicamente em uma retirada honrosa e profunda iluminar-se a si mesmo, desertando da ação social por incapacidade – preparando-se para uma atitude futura mais coerente com os próprios ideias – e escravizar-se ao afeto da família, por fraqueza confessa, ou – desertar da família.
Ninguém tem o direto de impedir que eu me conheça e me realize – para o gesto individual isolado, para a harmonia integral isolado, para a harmonia integral entre o meu pensamento e a minha ação, e a “suprema resistência” ao espirito de autoridade incrustado no subconsciente da família e da sociedade.
E’ comodismo, quase sempre, essa desculpa de que a família não quer seguir a orientação da corrente ideológica que nos parece verdadeira: pode ter sido o nosso descuido, a nossa incúria, o nosso comodismo a causa do desacordo entre o que desejamos e o contraste dos desejos que orientam os nossos filhos.
E, si não temos confiança na educação, em se tratando da nossa família, é estranho que preguemos essa ou aquela educação para as famílias dos outros.
Gandhi acaba de dar ao mundo o mais belo, o mais heroico, o mais eficaz dos exemplos: perguntaram-lhe quais seriam os continuadores da sua obra de “suprema resistência” à reação burguesa-capitalista para a libertação da India, Gandhi respondeu: - a minha companheira e os meus filhos. Só assim temos o direito de procurar persuadir a companheira e os filhos dos nossos camaradas. Ou então, desertar...
Sejamos os desertores da família, os desertores sociais, o individualista livre – para pensar e sonhar e viver em harmonia com a nossa própria consciência.
Esperamos sempre que outros façam aquilo que nos dá prazer ou que não fomos capazes de realizar.
E’ utópica a sociedade ideal, sonhada pelos sonhos de equidade, enquanto não tenhamos, nós mesmos, realizado, dentro de nós, esse ideal e essa equidade.
Cada qual pode resolver o milagre de realizar o homem perfeito ou a mulher emancipada que as nossas ilusões criam no tipo futuro das sociedades ideais.
Conhecer-se ... educar-se... realizar-se ... Só pode semear, quem já colheu de si mesmo.
Para educar, é preciso ter-se educar a si próprio, na tortura gloriosa do domínio das paixões e dos espirito de autoridade.
Longe de mim a ideia de exigir a perfeição próximo, si u reconheço todas as minhas fraquezas e todos os meus defeitos, si me envergonho de não ter podido ainda burilar as arestas grosseiras da minha astuta interior e me apresentar em publico digna dos mais altos sonhos de beleza que palpitam dentro de mim.
Mas, quem pode afirmar que a minha vida não tem sido um esforço continuo para me conhecer e para me realizar?
Por isso mesmo, a maior homenagem que podemos prestar a Ferrer, como a todos os apóstolos e mártires do ideal de emancipação humana – pela educação – é a busca interior, é a realização da própria consciência no anseio do conhecimento – para o exemplo da força e do poder por sobre nós mesmo, na escalada de uma consciência sempre mais alta – voltada para o Amor e a Sabedoria.
“Conhece-te a ti mesmo”. Ainda é a divisa do Templo de Delfos.
“Conhece-te a ti mesmo” – “para aprenderes a amar” – é a suprema sabedoria, na escalada suprema em busca dos abismos de lus da nossa consciência profunda.
Cada um de nós tem seu caminho, as suas verdades, e sua vida...
Que cada qual se ilumine a si mesmo e realizará o milagre sem par de iluminar, pelo exemplo, as verêdas de todos os jovens corredores da lenda.

Só crio nessa educação...
Só crio nessa revolução...

Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica

Autora: Maria Lacerda De Moura

Paginas: 81 á 90

Ano: 1934

sexta-feira, 13 de julho de 2012

A ALMA FEMININA E’ A PRESA DILETA DAS GARRAS DO CLERO

Todos reivindicam a escola, como arma voltada para o futuro das suas ambições.
Todos querem todos se arrogam o direito à exploração da alma da criança.
E, no momento histórico que atravessamos, já o clero brasileiro se arregimentou para poluir a alma das gerações novas – através de ensino católico na escola nacional.
A mais alta homenagem que os intelectuais livres e proletários conscientes poderiam prestar a Ferrer, seria defender os filhos e a escola das garras do fascismo e do clericalismo, resíduos teratológicos da monstruosidade de uma evolução às avessas.
O mais, pensamento sem ação, discursos sem expressão na vida – palavras que o vento leva, orações vazias ou atitudes de políticos profissionais, demagogias retumbante de sons vazia de sentido, na exploração oportunista, para galgar posições ou satisfazer a vaidade pequeninas – através das multidões que aplaudem os histriões e os demagogos, tiranos e magaretes de carne humana.
falar apenas, é exibição ridícula. Estamos todos fartos de ouvir dissertar em torno de ideias maravilhosas e ver praticar as mais torpes baixezas.
Os homens já sabem ler no rosto uns dos outros a falsidade e o tartufismo.
Por que continuar eternamente a indignidade dessa comedia repugnante?
Os tempos são chegados de se colocar cada qual na arena ao lado de um dos dois exércitos gigantescos da moderna cruzadas.
Um deles defende a civilização do bezerro de outro, o progresso material, a técnica industrial, o passado, a Rotina, a Reação, a Autoridade da Fé Fascista ou Racista.
O outro saúda, nobremente, heroicamente, o alvorecer de uma Alba Nova – para respeito à vida, para o advento da Liberdade individual e a livre expansão da consciência Humana.
Não ha meio termo. Quem cala, acovarda-se, e é apostata de si mesmo.
Porque, a covardia e a imbecilidade humana não mais podem descer... rastejaram aos últimos degraus da baixeza e da miséria moral.
Honro-me, neste momento, de ocupar o lugar a que tenho direito, como consciência livre de quaisquer muletas, frente a todos os detetives sociais.
Honro-me de prestar a Ferrer a homenagem publica da minha imensa admiração.
Como mulher, sou-lhe profundamente reconhecida pela nobreza e pelo carinho com que pugnou pela educação racional feminina, para arrebatar o cérebro e o coração da mulher das garras do dogma, da superstição e da ignorância.
Demais, algumas mulheres notáveis, participarão da obra do eminente educador. E a sua gratidão e a sua ternura a Mlle. Meunier e a Soledad Villafranca, fazendo-as suas colaboradoras e considerando-as sempre com iguais direitos e como indivíduos de credor do afeto e do reconhecimento da mulher consciente.
Dizia o apostolo do ensino racionalista, referindo-se à mulher, que o mundo só caminhará para uma evolução mais alta, quando realizar o matriarcado moral, isto é, quando o impulso sentimental feminino contribuir diretamente para a conquista da consciência.
Como Ferrer compreendia a necessidade urgente de tirar partido da energia conservadora da mulher, não para cristalizar o seu pensamento em formulas rotineiras, mais para desperta-la para a vida e para beleza!
Explica a antítese flagrante, funda, repugnante na maioria dos seres humanos, homens mulheres, entre a inteligência e a vontade, donde derivam todos os males que nos oprimem, explica-a na origem do sentimento materno deturpado pela educação clerical.
Diz ele: “Esse sedimento primário dado por, nossas mães é tão tenaz, tão duradouro, converte-se de tal modo em medula de nosso ser, que, energias fortes, caracteres poderosamente reativos que hão retificado sinceramente de pensamento e de vontade, quando penetram de vez em quando recinto do eu, para fazer inventario de suas ideias, topam continuamente com a mortificante substancia de jesuíta que lhes comunicara a mãe.”
Essa é a tonica predominante da Obra de Ferrer: o desvelo com que ardorosamente procurou fazer sentir a necessidade arrebatar a alma feminina das garras do clericalismo voraz.
Queria a educação racional, mais, não podia dispensar, na mais vasta cultura, o sentimento humano. Porque, si Ferrer não disse, o pressentia com Rebelais: “ Ciência sem Consciência é a Ruína da alma.”

Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 75 á 80
Ano: 1934

quinta-feira, 12 de julho de 2012

VERSOS PARA O INTERNACIONALISMO

Produzir e partilhar
Entre o povo harmonia.
E nos lábios d@ operári@
Um sorriso de anarquia.

Trabalhamos em conjunto
Respeitando a sociedade
Que, com força, construímos
Ao buscar a liberdade.

Já findamos monopólios,
Hoje a terra é coletiva.
Nosso bem é bem de tod@s.
É de tod@s boa vida!

Hierarquias derrubadas,
Nada abaixo ou acima!
Ambiente igualitário
Com o fim da tirania.

O trabalho é ferramenta
De igualdade, de prazer!
Pois com ele permitimos
Que tenhamos mais lazer

E com a força do trabalho,
Que hoje é horizontal,
Produzimos mil sorrisos
Com o fim do patronal.

Sem fronteiras, sem barreiras
Que nos possam separar,
O lugar em que me encontro
Também é vosso lugar.

Numa paz jamais sentida
Quando então havia Estado,
Nós brindamos alegrias
Ao Socialismo Libertário!


Por Mao Punk
http://oourodamiseria.blogspot.com/

Da Falta de compromisso ao autoritarismo da disciplina

Em uma sociedade baseada na hierarquia escravocrata, não é de admirar que o conformismo, a resignação e o medo sejam uma constante. Prevalece o comodismo, mesmo entre aqueles que se autodeterminam “revolucionários” ou “anarquistas”, mas que se submetem a uma disciplina “quartelar” autoritária. Isso é um grave problema que se deve corrigir.
Ao assumir como anarquistas, muitos sem muitas referências culturais, históricas e sem se preocupar em entende-las, assumem a primeira rotulagem empregada e ao afirmarem anarquistas, estão na verdade, dizendo liberais, que não querem assumir nenhum compromisso social e só satisfazerem suas necessidades, sem nenhuma preocupação ao redor. Qualquer insinuação que é necessário agir de forma coletiva, ter compromisso social e uma associação com outros indivíduos para abolir a opressão e exploração, respondem com desconfiança e se afastam das lutas sociais de emancipação. Em muitos casos, agem de forma rebelde mas sem ser revolucionária e se tornam um nicho de mercado, com visuais próprios, linguagens, sons e estéticas estereotipantes, mas que continuam dentro de uma lógica de mercado, consumindo-se em toda uma rebeldia sem sombra de rompimento com o modelo dominante.
Podemos identificar também em outros casos, uma enorme dedicação no uso de entorpecentes lícitos e ilícitos, uma veneração por shows e eventos culturais e esportivos, mas quando se trata de assumir compromisso com ações simples, manifestações construtivas de uma nova proposta social, anarquista, sem lideres, de forma autogestionária, onde cada um é responsável conjuntamente do processo, poucos conseguem manter o compromisso de agir, de se manter dentro de uma metodologia anarquista, onde o equilíbrio e o respeito para com a vida, com os outros sere vivos é deixado de lado por um vício qualquer ou alguma ilusão capitalista.
Disso leva a um outro extremo que é a “disciplinamento do movimento anarquista”, onde a influência partidária e hierarquizante está muito presente. Em documentos, podemos ler que se descrevem como uma “minoria ativa”, que lembra a um trotskismo mal disfarçado. Usam de conceito “disciplinares”, como se ao usar um processo disciplinador e organizado sobre seus militantes compensasse o vazio da falta de compromisso desses militantes. É uma herança autoritária que devemos banir de nossos meios, assim como o liberalismo e a libertinagem que erroneamente se associam ao anarquismo. Em nenhum desses casos, os meios levaram aos fins que propomos, de uma vida sem opressão e sem exploração, onde cada ser vivo é igual a outro, e o fim de todas as classes sociais.
Na construção do anarquismo, devemos gerar, usar e compartilhar um compromisso pela erradicação das classes sociais, da abolição da propriedade, do fim da herança, produção e distribuição de riqueza entre tod@s na satisfação de suas necessidades. E nesse sentido, nenhuma disciplina pode ser aceita, já que pode ser usada como meio de controle sem nenhum compromisso, e como anarquistas, é algo inaceitável. Nos educando sempre, evitamos a necessidade do mandar e obedecer, mesmo de organizações que se digam “anarquistas organizadas”. Lutamos contra isso, e é sempre importante lembrar que qualquer união de pessoas, de base igualitária e princípios anarquistas já é uma organização. O fato de se reafirmar o caráter organizativo no meio anarquista; enfatizar que são “anarquistas organizados”, serve como um meio de segregação tipico de uma “partidarização” e vemos com grande decepção que em muitos casos conseguem se aliar com mais facilidade com partidos políticos do que com outros grupos anarquistas.
Entenda-se de resumo que nem a esbórnia leviana que muitos fazem pode ser considerada como parte de um movimento anarquista e nem uma rígida estrutura de alguns “iluminatis” anárquicos cheirando a troskalha pode igualmente ser levada como o movimento anarquista. Em ambos, há muito excesso, de uma lado, de uma total falta de compromisso com a luta e pelo outro de uma disciplina alienante em que o militante deixa de entender o que faz em prol de uma “organização minoritária vanguardista” ou em seus termos “minoria ativa” ou “agentes do vetor social”.
Dessa reflexão, chama-se a reflexão a história do anarquismo, da luta de nossa gente e de que nossos interesses em nada tem em comum com partidos, com o Estado, com religiões.
Nos vemos nas ruas, com compromisso, sem disciplina e sem irresponsabilidade!

sábado, 7 de julho de 2012

A covardia mental dos anti-clericais católicos...

A homenagem máxima que nós autros podemos prestar a Ferrer, à sua vida heroica é não pactuar com os erros e os crimes de lesa-felicidade, sendo cumplices da reação clerical e da superstição dogmática dos que sufocam a razão humana e manietam a livre expansão da consciência.
Não sejamos maçons, ateus ou livres-pensadores de fachadas, discutindo problemas transcendentais apenas dentro de “lojas”, e educando (!) os filhos nos colégios de padres ou freiras, deixando que o clero todo poderoso e astuto se apodere das almas, da consciência, da dignidade humana das mulheres e das crianças, afins de cultivar a ignorancia – na rêde da imbecilidade e do servilismo, no acarneiramento da domesticidade – para aprisionar toda a sociedade dentro dos cofres fortes do poder temporal dos magnatas e dentro do tartufismo espiritual da Santa Madre Igreja Catolica Romana.
A força do clero reside nas concessões de todos os livres-pensadores de rebanho, machos e ateus que frequentem a Igreja – por dever social...
Não nos rotuleos de anti-clericais indo à missa açambarcador, comparecendo a batizados ou entronizações de santos, ou TE-Deum ou procissões, casamentos religiosos ou extrema-unção – multiplicando o numero de covardes mentais que pasmam as suas ações em desacordo com as suas ideias, porque seremos responsáveis pelo fascismo, pelo terror que, como um polvo, ameaça garrotear a liberdade e estrangular a consciência.
Nenhum de nós seria capaz de sair daqui para assistir um fuzilamento de uma criatura humana, por mais víl bandido que fosse, porquanto nos repugna o espetáculo do martírio de quem quer que seja.
Pois bem: vai-se à igreja por dever social, sabendo-se que o seu papel ´o abastardamento da consciência, certos de que as virtudes teoligais são a hipocrisia, o tartufismo e a cupidez, cientes de que o clero sufóca as energias latentes do indivíduo, cultiva calculadamente a ignorância e é sustentáculo da perversidade, moralmente, legalmente organizada. O crime da Igreja, massacrando as energias latentes da juventude e acovardando a consciência humana é muito mais feroz, é muito mais repugnante que o crime da policia fuzilando o corpo.
Porque a mim me poderiam tirar a vida, mais, ninguém, absolutamente ninguém me pode fazer a voz da consciência.
E a coragem de convicções se imortaliza na vida intelectual, embora todos os fuzilamentos.
Chegamos à fatalidade inexorável do dilema: ou nos acovardamos deante da invasão clerical internacional, ameaçando-nos com todas as torturas físicas e morais da inquisição moderna, quiçá mais perversamente requintada, ou teremos de assumir a atitude digna e nobre e heroica de um Ferrer, para opôr um dique moral ao extravasar da loucura e da ferocidade clerical piedosa – a querer ressuscitar a noite de mil anos dos Torquemadas e dos Autos da Fé.

Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 71 á 74
Ano: 1934

terça-feira, 26 de junho de 2012

A FARSA ELEITORAL

Emprega-se hoje< geralmente, esta expressão para designar, em sentido restrito, a ação classe operaria, sem interpostas, pessoas, com os meios que lhe são próprios (greve, boicotagem, sabotagem, etc.).
Mas analisando a ideia, vê-se facilmente que a ação sem interpostas pessoas, isto é, sem delegação de poder, tem aplicação em todos os campos, no econômico e no politico, tanto contra patrões como contra as autoridades; abrange várias formas de atividade e resistência e não é senão o anarquismo considerado como método.
E o método é o mais importante par um partido ou movimento, o que, sobretudo o distingue, pois não basta boas intenções: é preciso saber o meio de as pôr em prática, de lhes dar realidade, A máxima: Todos os caminhos vão dar em Roma – não tem senso comum. Há os que vão dar a um abismo. A ação direta, no sentido mais largo, pode ser violenta ou pacífica, individual ou coletiva, mas deve sobretudo ser contínua, de cada dia, em qualquer das suas formas, e em todas as duas fases, propaganda, organização, realização.
Agindo-se, praticam-se erros, dão-se passos falsos, golpes incertos. Quem caminha arrisca-se tropeçar; sobretudo quando se começa a falta à experiência, a musculatura e elasticidade. Mas todos esses erros, incertezas, inabilidades, tropeços, são corrigidos pelo exercício, pela própria pratica da ação, pela critica serena e acertada. Pensamento e ação.
O que é necessário ter bem presente é que a ação não pode ser substituída. Só a ação produz o fato, só ela mantém, Até os conservadores inteligentes o reconhecem (exemplo: Jean Cruet, A vida do direito e a impotência das leis).
Ainda suponho que a lei não fosse a expressão das classes dominantes, pelo monopólio da riqueza, do poder e da influencia, ela seria pelo menos inútil, pois viria reduzir a fórmulas estreitas e incompletas, permanentes de cada individuo e das coletividades interessadas origina e alimenta, em cada minuto e em cada metro quadrado de território. Todos os dias vemos direitos, escritos nas leis, desprezados por falta de resistência, E a lei é a mesma!
E é ainda necessário evitar o que pode contradizer desviar, diminuir a ação direta, a emancipação por suas próprias mãos. Nos queremos uma revolução social, isto é, não “emancipar o povo”, mais que ele se emancipe, tome conta dos seus direitos, não se deixe roubar e mandar, não delegue poderes, organize e administre diretamente a produção.
Ora, nada ataca mais esta obra de emancipação própria, de esforço pessoal, do que o parlamentarismo e o eleitoralismo, desvio de energias e de organização, portas abertas a todas as corrupções, a toda infiltrações de ideias e interesses estranhos.

Não Vote! Se for pra voltar, Vote NULO e não se iluda, Vote NULO e vai pra LUTA!
“A nossa classe nada tem nada o que perder, a não ser as algemas!”

domingo, 10 de junho de 2012

A EXPLORAÇÃO DA CRIANÇA COMO UNIDADE INDUSTRIAL: E’ A OBRA DA ESCOLA.

A análise histórica da Escola, feita por Ferrer, é uma pagina admirável de psicologia da organização social.
Não há nenhum interesse pela evolução mental ou pela sensibilidade estética dos indivíduos considerados em si mesmos.
A instrução faz parte da técnica comercial moderna sob o aspecto da concorrência internacional.
Ferrer o sabia e o dizia com a coragem de convicções que sempre o caracterizou.
Prejudicados se fechava cada vez mais na Espanha inquisitorial contra essa consciência livre, incorruptível e heroica.
E, na vida como na obra educacional, Ferrer monstrou-se à altura dos seus sonhos. E repetia: “todo aperfeiçoamento significa a supressão de uma violência”, ou afirmava: “a violência é a razão da ignorância”, postulado que poderia ser invertido: a ignorância é a razão da violência, e então, chegaríamos às conclusões de Gandhi...

Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 69 á 70
Ano: 1934

A EDUCAÇÃO BURGUESA-CLERICAL-CAPITALISTA NECESSITA APENAS E TARTUFOS.

Dento do largo aspecto educacional sonhado por Ferrer não pedia ele, com Froebel: “Vivamos para as crianças. ”
Aproximou-se mais de Ellen Key na sua beleza livre espontânea, quando dizia: “Deixemos que as crianças vivam por si mesmas.”
Sentia que a disciplina vem de dentro para fora e que todo constrangimento moral ou toda afirmação ou negação categórica provoca no espírito da criança uma reação capaz de a prejudicar na sua evolução mental e sentimental influindo de modo deprimente na formação de seu caráter.
Demais, a falta de caráter, a fraqueza de convicções e a covardia de não pensar em voz alta vem dos choques de afirmações e negações categóricas em torno da criança, entre as pessoas respeitáveis das suas relações e que, indiferentemente, inconscientemente, vão plasmando a sua mentalidade covarde ou a tartufismo da sua atitude servil, ao sabor ambiente.
Mais tarde, torcerá o raciocínio, empregará sofismas – simplesmente para estar bem com todos, para agradar todas as convicções farisaicas dos senhores respeitáveis.
Assim é na sociedade.
Pouquíssimos indivíduos que reagem por si mesmos contra essa educação que desviriliza o caráter e corrompe a consciência.

Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 67 á 68
Ano: 1934

A RAZÃO NÃO TEM O DIREITO DE SUFOCAR O SONHO

Nunca ninguém conseguiu matar no cérebro e no sentimento humano a tendência às metafísicas. De onde Viemos? Para onde vamos? O que significa o universo? Por que razão relam os mundos em orbita matemáticas através do espaço? Porque razão os astros é perfeitamente idêntico ao átomo da célula no meu sangue? Porque razão o meu Plexus Solar ou cérebro abdominal é a antena poderosa de um radio vivo que recebe do Cosmos as impressões e as transmite ao Cérebro através de glândula que é toda luz?
São incógnitas que hão de sempre acicatar as novas inquietações de insatisfeitos.
E é essa uma das facetas maravilhosas do nosso complexo psíquico.
Reduzir a inquietude a preconceito religioso é um crime e um preconceito mais vulgar. Metafísica não é religião.
A religião é uma muleta para os fracos e ignorantes, Não basta, não satisfaz à curiosidade dos que escalaram mais alto.
Também a ciência oficial nada pode explicar das coisas transcendentais. Paira à superfície. Cultiva o preconceito do saber absoluto. E não e não responde às nossas interrogações, à inquietação do nosso espírito insatisfeito.
A metafísica livre de peias religiosas, a metafísica que nada afirma é o poema e a terra da promissão dos nossos sonhos de cavaleiros andantes do infinito. A duvida, a incerteza, o anseio de saber mais, a esperança de decifrar o indecifrável, a nostalgia através de tempo e para além do espaço, um poema de luz interior iluminando a consciência, a lei de causa e efeito no mundo moral, sonhar que a vida é eterna, fugir do hoje, aqui e agora é deslumbramento de liberdade – para escalar o espaço e saltar por cima das misérias sociais.
O próprio Comte, Sébastien Faure, todos os sinceros não poderão libertar-se das cogitações metafísicas. O homem é um animal que sonha fora a terra. E’ a característica mesma do seu anseio de liberdade.
A utopia anárquica, o poema da libertação absoluta de todos os detetives sociais – não passa de um magnífico sonho metafísico – a que os verdadeiros revolucionários, no sentido filosófico que mais se aproxima das nossas verdades interiores, deram a aparência de realidade no mundo das realidades...
Sufocar, matar essa tendência do espírito humano é impossível. O que se pode conseguir é o charlatanismo – ou a petulância das negativas sistemáticas dos presunçosos ou a afirmativa sectarista dos ignorantes de espírito estreito.
Negar como afirmar é erro lamentável e prova cabal de tendência autoritária e mandonismo.
Nesse erro doloso estão caindo revolucionários de todos os matizes evanguardistas. A critica a esses iconoclastas e criadores de religiões novas é digna da pena de Max Stirner (“O Único e sua propriedade”,) embora até ele não tenha escapado, criando a religião do Único... nos seus excessos de demolição.
A Deusa Razão – já ocupou os altares religiosos do misticismo do materialismo histórico...
E a Deusa Razão é bem ignorante e pouco modesta...
Mudam-se apenas os nomes dos deuses: os crimes de lesa-liberdade de consciência continuam a ser perpetrados diante de outros altares.
A mim, não me satisfaz a esterilidade do materialismo econômico.

Para além da Neutralidade

A Escola Moderna de Ferrer vai além do ensino laico, além da neutralidade.
Definiu-a Soledad Villafranca, nas seguintes expressões:
“Ensino racionalista, quer dizer o ensino que tem como meio a razão e como guia a ciência; como guia a ciência; como ainda não disse a ultima palavra sobre qualquer assunto, resulta que o ensino racionalista não tem programa fixo. Pelo contrario.”
“Ao ensinar todos os dias is fenômenos físicos do universo e sociais da humanidade, fá-lo com a especial reserva de que só tem mérito os sentidos admitem e a experiência sanciona.”
E os nossos sentidos, deturpados pela civilização, nos enganam todos os dias...
No período seguinte a contradição é flagrante. Diz ela:
“O ensino racionalista tem por fim ensinar todas as verdades experimentais, por contrarias que sejam às ideias admitidas anteriormente.”
Há verdades experimentais, fatos comprovados e cujas causas, cuja simples explicação a ciência não descobriu. E não se podem negar fatos comprovados, nem mesmo compreendidos, embora não tenham sido decifrados, nem mesmo compreendidos pelos luminares da ciência humana oficial. Nega-los sistematicamente ou procurar esconde-los ou não querer ver, é absurdo igual às afirmações dogmáticas das revelações religiosas.
Como é mais nobre confessar o estado mental a ignorância diante dos fatos e colocar o ponto de interrogação inquieto e torturante, curioso diante de tais incógnitas!
Essa é a neutralidade que eu compreendo na Escola Nova. Não a neutralidade entre erro dogmático e a verdade cientifica.
Essa não é possível.
E Ferrer achava mesmo que os livros escolares devem tratar de todos esses problemas, falar de assuntos religiosos ou de dogmas sociais. O ensino racionalista pode e deve discutir tais problemas com o fim de desembaraçar o cérebro da criança de rotinas ou superstições, do tradicionalismo no erro e dos ídolos das organizações sociais.
Assim também compreendeu Naquet, falando de Ferrer, no prefacio ao livro de Ferrer, no prefacio ao livro de Wollian Heaford: O professor não pode ser neutro. Não poderia oscilar entre a verdade e o erro. O seu dever absoluto quando ensina as verdades cientificas, consiste em ensiná-las como a observação, a experiência e o raciocínio que concatena os fatos, as revelaram, sem se importar si fere ou não os detentores do desenvolvimento intelectual que se curvam sob o peso dos dogmas de há muito condenados. ”
Vê-se bem claramente que a neutralidade condenada é a que se refere à tolerância excessiva para com os dogmas e o sectarismo religioso do Cristianismo, cujas religiões e seitas predominam no Ocidente.
Nada tem que ver essa atitude necessária de independência e liberdade de pensar e dizer, contra o erro que escraviza a mente humana – com a atitude filosófica de dúvida e inquietação diante das maravilhas dos complexos psíquicos, diante do infinito da ignorância humana ou em face da multiplicidade assombrosa de fenômenos que se desenrolam na fantasmagoria da Natureza, através das leis universais de atração.
E uma infinidade de sonhos de sonhos há de povoar a mente dos homens que alçaram muito alto as suas inquietações, perscrutando os abismos de luz e sombra das almas ou penetrando o pensamento no labirinto fantástico dos mundos que vão rolando infinito além.

Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 57 á 65
Ano: 1934

A MAGIA DAS PALAVRAS

De uma parte o sim dogmático querendo impor o erro renascendo todos os crimes de lesa-felicidade humana. De outra parte o não dogmático querendo destruir no coração dos homens a beleza maravilhosa do “sorriso de duvida e da musica dos sonhos...”
Duas forças que se vão se chocar ferozmente na reivindicação dos seus supostos direitos de conservar estupidamente ou se destruir impiedosamente.
E os homens e as mulheres não encontrarão a paz, não saberão o que é felicidade em nenhuma das duas facções que se degladiam, cada qual defendendo a sua verdade, uma verdade falsa, que esta sendo “organizada” em altares disfarçados, onde pontificam ídolos vorazes a devorarem, sangrentos, as energias morais dos utopistas ou sectários “escultores de montanhas...”
E Ferrer, intuitivo, pressentiu que o não dogmático tem a mesma força destruidora do sim dogmático.
Era apenas o apostolo do livre exame, da escola cientifica, racionalista.
Ferrer sabia que “todo valor da educação reside no respeito da vontade física e intelectual da criança. Assim como em ciência não há demonstração possível, senão por meio do fato, assim também não é verdade a educação, senão a que está isenta de todo o dogmatismo, a que deixa à própria criança a direção de seu esforço e que não se propõe senão a ajudá-la na sua manifestação. O educador impõe, obriga, violenta sempre. O verdadeiro educador é o que, contra as suas próprias ideias e os seus desejos, pode defender o aluno, apelando, em maior grau, para as próprias energias do educado.”
Ferrer acreditava no poder da educação, porque estava convencido de que “todo aperfeiçoamento significa a supressão de uma violência”. Por isso, esperava da ciência a libertação da criança.
Si não viu o problema em toda a sua espantosa complexidade, bem viu muitas das suas faces.
Afastar de junto da criança quaisquer paixões partidárias, as quais despertam o ódio, o sectarismo pró ou contra, o exclusivismo, o espírito de autoridade e a violência – esse é o caráter da Escola Moderna e que não tem sido realmente compreendido pelos revolucionários extremados.
Ferrer confessou mesmo evitar as palavras “anarquia”, “comunismo anárquico” ou “ideias libertárias” nos seus tratados de educação.
O que ele pretendia era libertar a própria criança de todas as cadeias, inclusive da cadeia mais forte do preconceito de estar de posse da verdade única...
E’ a feita mais nobre, mais alta do seu apostolado, e daí a dificuldade do ensino verdadeiramente desprendido do sectário do sim dogmático – dos religiosos de todos os matizes e do não dogmático dos não menos religiosos – que pontificam como sacerdotes infalíveis no altar da Deusa Razão...

Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 53 á 56
Ano: 1934

FERRER ACREDITAVA NA RAZÃO E NA CIÊNCIA...

Para Ferrer, o ensino racionalista cientifico há de persuadir aos futuros homens e mulheres que nada devem esperar de nenhum ser privilegiados (fictício ou real); e que tudo quanto é racional devem esperar de si mesmos e da solidariedade livremente aceita e organizada.
O seu engano está em acreditar na “organização”do amor e da bondade...
Ferrer tinha a convicção de que “sem uma absoluta reforma dos meios educacionais, não será possível orientar a humanidade para porvir.”
E, em síntese, o grande educador formulava o programa:
“A Escola Moderna pretende combater quantos prejuízos dificultem a emancipação total do individuo, e, para isso adora o racionalismo humanitário que consiste em inculcar na infância o órfã de conhecer a origem de todas as injustiças sociais para que, reconhecendo-as por si mesma, possa logo combate-las e se lhes opor.
“O ensino racionalista e cientifico da Escola Moderna há de quanto seja favorável à liberdade do indivíduo e à harmonia da coletividade, mediante um redimem de paz, amor e bem estar para todos, sem distinção de classes nem de sexos.”
Neste trecho está contida toda a ingenuidade santa do apostolo e do precursor.
Ferrer esperava o advento do Eden na terra. A sua fé se devotava ente o racionalismo puro e ante a ciência pura.
Si há uma aparência ou uma nesga de Verdade nas suas convicções sinceras, os fatos vão demonstrando o contrario.
A ciência é o Molóc moderno.
A civilização do bezerro de ouro vai morrer de apoplexia cientifica.
As guerras de hoje obedecem a uma técnica absolutamente cientifica. E duas ou três mais que se repitam, dirigidas como foi a ultima, pelos sábios dos laboratórios de química, física, bacteriologia – não ficará do gênero humano senão ruínas e escombros, destroços e esqueletos de maquinas e de homens.
E, si a guerra ainda não estalou – é de medo de tanta ciência...
O santo precursor da Escola Nova morreu sem conhecer o Molóc da Civilização.
Viu que a sociedade e a sua santa célula – os governos – têm medo do cultivo intelectual, são contra o desenvolvimento cultural das massas e se esforçam por conservar na ignorância as multidões, afim de que, através das crenças religiosas organizadas, um “freio” domestique o rebanho humano.
E, de tal modo, que possam exercer impunemente a tirania e o despotismo do espírito de autoridade contra o direito à Liberdade.
Mas, por outro lado, de certo viu também que o comercio, a industria, os meios rápidos de comunicação obrigam os povos a se prepararem para o assalto à concorrência comercial.
E os governos têm necessidade de melhores operários para melhor posição no mercado de oferta e procura da organização social capitalista.
Daí o desequilíbrio das sociedades modernas – o espírito de autoridade dos dominadores – contra o anseio de liberdade das massas populares oprimidas, de um lado dirigidas pelas consciência livres ou enganadas pelo tartufismo farisaico dos políticos profissionais – à cata posição espetaculosas no cenário do mandonismo, conseguidas à custa de ludibriar as massas com a demagogia da oratória retumbante de palavras e vazia de sinceridade.
E como contra choque, a necessidade econômica e a conquista de mercados a exigir de cada país a formação de um exercito inteligente de operários para suplantar a produção e a industria das outras nações.
Do choque entre a necessidade absoluta da autoridade política e policial para a manutenção do Estado e da necessidade de formação de um proletário capaz e produzir inteligentemente – surgiu a crise moderna e o nacionalismo absolutista.
E’ esse choque terrível que fará ruir a civilização do bezerro de ouro.
Não se pode conceber proletariado inteligente, consciente e escravizado. São duas coisas que se chocam.
Daí a reação tremenda dos tempos modernos: de uma parte o fascismo com todos os horrores da perversidade organizada, a deitar as garras por sobre o gênero humano, dentro do espírito medieval, buscando impor de novo os Autos de Fé e a Santa Inquisição de Igreja.
De outra parte as reivindicações proletárias eivadas de excessos racionalistas para opor um dique à crendice, à ignorância e à superstição.

Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 47 á 52
Ano: 1934

FERRER – PEDAGOGO E EDUCADOR INDESEJÁVEL...

Ferrer não foi integrado ainda no lugar a que tem direito, como criador da Escola Nova. Compreende-se: luta de classe...luta de poderes. Ferrer é um desertor da burguesia. E’ o crime que a burguesia não pode perdoar.
Nunca Ferrer distinguiu burguesia de proletários, ricos ou plebeus, homens ou mulheres: era humano, sentiu a dor universal, lutou contra a mediocridade cultivada pela educação.
E os pedagogo de laboratório, de experimentações cientificas ou educacionais na cobaia humana... Ressentem-se, quais todos, da diátese burguesa...
E Ferrer é afastado cuidadosamente do quadro social dos educadores modernos. Está por de mais próximo de nós para que o Estado ou a escola oficial o passa prestigiar, prestando-lhe as homenagens do estilo.
Aliás, a Nova Republica Espanhola, por engano (porque é muito criança e quer fazer garbo do seu liberalismo...) já se penitenciou perante o apostolo e mártir do ensino racionalista. E está na regra: homenageia a Ferrer porque esta morto, e persegue os vivos coerentes com ideias do mártir e apostolo de Escola Nova.
Demais, o Estado, filho das organizações sociais, defendido, protegido, mantido pelas quatro castas da civilização moderna – o capitalista, o militar, o sacerdote e o político – dos quais, o capitalistas e o padre exercem predomínio absoluto, movendo os cordéis do imenso “guignol” social, o Estado obedece e acata as deliberações e a atitude farisaica da Igreja Romana – a mais admiravelmente organizada de todas as organizações sociais do mundo hodierno.
Ferrer é filho espúrio e moral social. Porque, defender os interesses do proletariado ou pretender colocar em igualdade de condições sociais, em igualdade de direitos com a burguesia, é quase ofensa aos brios invertidos das classes parasitarias, as quais vivem á custa do trabalhador, certas de que gozam de um direito divino...
Ferrer praticou mãos um crime inominável de ser absolutamente sincero e defensor, incondicionalmente, a criança – contra a escola religiosa e contra a escola oficial.
Derrubou dois altares... Iconoclasta, quebrou dois ídolos ferozes, desencadeando a tormenta por sobre o seu destino heroico.
“Nem Dogmas, Nem velhos usos, porque uns e outros representam formulas que prendem a vitalidade mental dentro dos limites impostos pelas exigências das fases transitórias da evolução social.”
“O cérebro do individuo deve ser o instrumento da sua vontade”
“Querendo que as verdades da ciência brilhem com o seu próprio brilho e ilumine cada inteligência por tal modo que, postas em prática, possam trazer felicidade ao gênero humano, sem exclusões indignas, nem exclusivismos repugnantes.”
Esse é o verbo de Ferrer.
Ser humano assim é ser ingênuo.
E a ingenuidade santa é o apanágio dos apóstolos e dos precursores e anunciadores.
Que diferencia, por Exemplo, entre Ferrer e Emile Durkheim, cujos livros de sociologia e educação constituem o breviário da Escola Nova! Tome-se um dos seus livros, por acaso, Educação e Sociologia e, em duas palavras, é doloroso verificar como os expoentes máximos da pedagogia moderna estão a serviço da reação, da sociedade e do estado.
Diz Emile Durkheim: “A educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança, certo numero de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança particularmente destina.” Em resumo: “a educação á a socialização da criança.”
E’ lamentável simplesmente. E Durkheim não observa apenas o fato geral de cada sociedade ou cada Estado se aproveitar da sua autoridade para se aproveitar da sua autoridade para fazer a criança instrumento das suas ambições políticas ou sociais, Durkheim aplaude e acoroçoa essa atitude. Defende a sociologia burguesa dos acomodados...
O Prof. Paul Fauconnet, da Sorbonne (!) estudando, elogiando a obra de Durkheim, defendendo-a da critica séria, conclui, com um sofisma: “Si preparar uma pessoa é atualmente o fim da educação, e si educar é socializar, concluamos que . E’ esse precisamente o seu pensamento,”
Jogo de palavras...
O que a malicia de todos esses “sociólogos” e “professores” deseja é a socialização das massas e a individualização deles, a exceção para os tipos do escol... Parasitário. São os super-homens, os super- elefantes da cultura e dos privilégios.
Durkheim é muito claro:
“Não é admissível que a função de educador possa ser preenchida as garantias de que o Estado, e só ele, pode ser juiz. Não se compreende uma escola que possa reclamar o direito de dar uma educação antissocial”
Pena não poder dispor de tempo para analisar, neste momento, mais profundamente, o pensamento de Durkheim.
Para mim, nestes dois períodos o sociólogo prestou-nos um auxilio inestimável: A sua lógica simples fez ver que todo ensino contrario ao Estado é o filho dileto da sociedade...
Assim, qualquer Estado aproveita-se da sua autoridade, da força para defender a sociedade ou o partido político que tem o poder nas mãos. Ir contra a prepotência do Estado que faz da escola o meio de assegurar a sua hegemonia ou de um partido – é o dever dos verdadeiros revolucionários, de todos os seres humanos que amam a liberdade e respeitam os direitos da criança.
Dukheim diz ainda:
“E’ forçoso escolher: si se dá alguma importância à existência da sociedade – e nós acabamos de ver o que ela representa para o individuo – é preciso que a educação assegure, entre os cidadãos, suficiente comunidade de ideias e de sentimentos, sem o quê nenhuma sociedade subsiste; e, para que a educação possa produzir esse resultado, claro está que não pode ser inteiramente abandonada ao arbítrio dos particulares”.
Pois bem, meus camaradas, foi esse espírito burguês, estreito, de Durkheim – um dos mais notáveis pedagogos modernos – foi esse espírito estreito que matou Ferrer!
Quais de nós deseja que subsista esta sociedade de vampiros?
Quem de nós aplaude o Estado moderno, a ressurreição do nacionalismo fascista ou qualquer ditadura implacável na defesa incondicional de um partido político dominante?
A socialização da criança como postulado de educação é um crime bárbaro que a humanidade terá que pela lei de causa e efeito.
Quantos séculos ainda de erros e crimes de lesa-humanidade terão de viver nos filhos, espoliados hoje na escola da fosca e da brutalidade?!
Ferrer morreu com a consciência Iluminada porque não cometeu tais crimes.
Ferrer acreditava no avento de uma sociedade melhor, pó isso – respeitou a alma da criança.
Como todos os anarquistas sinceros, apontava o Estado como o maior responsável pela ignorância humana.
Não via claramente que à Sociedade é que deveria culpar dos desmandados e da mediocracia Estatal.
Porque o estado não é mais do que o rebento querido da Sociedade.
“Não tememos dize-lo: queremos homens capazes de evolucionar incessantemente; capazes de destruir, de renovar constantemente os meios e de renovar-se a si mesmos; homens cuja a independência intelectual seja a força suprema, que se não sujeitem jamais a ninguém; disposto sempre a aceitar o melhor, ditosos pelo triunfo das ideias novas e que espirem a viver vidas múltiplas em uma só vida.”
“A sociedade teme tais homens: não se pode, pois, esperar que queira jamais uma educação capaz de os produzir.”
Aí, viu Ferrer a sociedade como mãe do Estado...
Mau grado, a sua consciência tentou ir contra a corrente social. Esse é o verdadeiro educador.
Mais, Duekheim, cujos os livros andam por aí a fora traduzidos como obras notáveis de pedagogia, defendendo a sociedade rotineira e cheia de privilégios odiosos, chega a dizer que “nem basedow, nem Pestalozzi, nem Froebel eram grandes psicolagos. O que ha de comum e saliente nas doutrinas desses pedagogos, é o respeito à liberdade interior, - esse horror por toda e qualquer compressão, esse amor ao homem e por consequência à criança, em que se funda o moderno individualismo”. Durkheim os censura!...
Sim, porque Durkheim prega uma educação fascista na qual o Estado, a serviço de um ditador qualquer, decreta a escola-comunidade e prepara a juventude na selvajaria e na brutalidade para o assalto ao poder e ao do ministro. Durkheim aproxima-se tanto do fascismo como do bolchevismo na sua doutrina a sociologia – para a socialização ou do coletivismo até mesmo na consciência... na defesa da sociedade formada pelo mais forte grupo que souber se defender...
A sua pedagogia se presta a todos os partidos... E’ a pedagogia de vencer pela força bruta...
E nega o senso psicológico em Basedow, em Froebel e em Pestalozzi, justamente porque sua pedagogia é anti-natual e criminosa . Vejamos por exemplo, esse postulado de Durkheim :
“O homem que a educação deve realizar, em cada um de nós, não é o homem que a natureza fez, mas o homem que a sociedade quer que ele seja; e ela o quer conforme reclama a sua economia interna. (Educação e Sociologia, tradução de Lourenço Filho,p.102).
Essa educação do Estado e da Sociedade é o maior atentado, o mais inominável contra a dignidade do ser humano.
E’ simplesmente monstruoso afastar o homem da natureza e a natureza não se deixa enganar. Estamos justamente, no caos da civilização contra a natureza, pagando erros da lei de causa e efeito.
Justamente, todo educador que se presa, todo homem que vê e sente a degradação do nosso regime social – deve sonhar uma educação puramente antissocial em defesa da integridade da consciência livre.
Foi esse alto crime de traição de Ferrer... Respeitando a individualidade da criança, queria cada vez mais a libertação humana.
Cultivou a fé inquebrável na obra educacional – porque viveu pouco para ver o resultado imediato do seu esforço de educador. Não teve tempo de chegar à conclusão do que esperam em vão, após anos e anos de sacrifícios inauditos, os frutos da incorruptibilidade do caráter, depois de haverem semeado, na alma jovem dos estudantes, a semente sã e pura e generosa e fecunda da coragem heroica de ser algo além de um numero no rebanho social servil e domesticado.
Porque a imbecilidade e a covardia impedem a evolução em linha reta, sempre para frente.
Dão saltos de séculos à retaguarda... e encarceram a Liberdade e Sufocam a consciência humana.
A juventude promete. A idade madura se acovarda na apostasia do caráter, no abastardamento do respeito a si mesmo.
E a intelectualidade é a hetaira cínica do mundo moral.
Ferrer talvez o soubesse
Por isso, insurgiu-se contra a imoralidade dos prêmios e castigos, contra os rótulos e as Academias, contra as chapetas e os amuletos sociais:
“Encontramos na sociedade, homens de toda condição e de diferentes idades que não teriam dado um passo nem feito o menor esforço, si não tivessem a intima convicção de que todos os seus méritos lhes seriam contados e pagos, um dia, integralmente”.
“Os homens de governo sabem disso perfeitamente, já que obtêm tanto dos cidadãos, por meio das recompensas, adiantamentos, distinções e condecorações que outorgam. E’ isso um resto vivaz do cristianismo. O dogma da gloria eterna inspirou a Legião de Honra. A cada passo na vida encontramos prêmios, concursos, exames e prebendas: haverá algo mais triste, mais feio ou mais falso?”
Ferrer tinha confiança demais na educação racional. Não chegou a compreender que cada qual de nós só pode iluminar a si mesmo... E que todos os verdadeiros expoentes da alta cultura, da Sabedoria e da beleza, os granes Artistas, os grandes pensadores, os nobres instrutores da Humanidade foram todos autodidatas e tiveram de reagir, corajosamente, contra a educação que receberam da sociedade.
Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 27á 42
Ano: 1934