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domingo, 10 de junho de 2012

A RAZÃO NÃO TEM O DIREITO DE SUFOCAR O SONHO

Nunca ninguém conseguiu matar no cérebro e no sentimento humano a tendência às metafísicas. De onde Viemos? Para onde vamos? O que significa o universo? Por que razão relam os mundos em orbita matemáticas através do espaço? Porque razão os astros é perfeitamente idêntico ao átomo da célula no meu sangue? Porque razão o meu Plexus Solar ou cérebro abdominal é a antena poderosa de um radio vivo que recebe do Cosmos as impressões e as transmite ao Cérebro através de glândula que é toda luz?
São incógnitas que hão de sempre acicatar as novas inquietações de insatisfeitos.
E é essa uma das facetas maravilhosas do nosso complexo psíquico.
Reduzir a inquietude a preconceito religioso é um crime e um preconceito mais vulgar. Metafísica não é religião.
A religião é uma muleta para os fracos e ignorantes, Não basta, não satisfaz à curiosidade dos que escalaram mais alto.
Também a ciência oficial nada pode explicar das coisas transcendentais. Paira à superfície. Cultiva o preconceito do saber absoluto. E não e não responde às nossas interrogações, à inquietação do nosso espírito insatisfeito.
A metafísica livre de peias religiosas, a metafísica que nada afirma é o poema e a terra da promissão dos nossos sonhos de cavaleiros andantes do infinito. A duvida, a incerteza, o anseio de saber mais, a esperança de decifrar o indecifrável, a nostalgia através de tempo e para além do espaço, um poema de luz interior iluminando a consciência, a lei de causa e efeito no mundo moral, sonhar que a vida é eterna, fugir do hoje, aqui e agora é deslumbramento de liberdade – para escalar o espaço e saltar por cima das misérias sociais.
O próprio Comte, Sébastien Faure, todos os sinceros não poderão libertar-se das cogitações metafísicas. O homem é um animal que sonha fora a terra. E’ a característica mesma do seu anseio de liberdade.
A utopia anárquica, o poema da libertação absoluta de todos os detetives sociais – não passa de um magnífico sonho metafísico – a que os verdadeiros revolucionários, no sentido filosófico que mais se aproxima das nossas verdades interiores, deram a aparência de realidade no mundo das realidades...
Sufocar, matar essa tendência do espírito humano é impossível. O que se pode conseguir é o charlatanismo – ou a petulância das negativas sistemáticas dos presunçosos ou a afirmativa sectarista dos ignorantes de espírito estreito.
Negar como afirmar é erro lamentável e prova cabal de tendência autoritária e mandonismo.
Nesse erro doloso estão caindo revolucionários de todos os matizes evanguardistas. A critica a esses iconoclastas e criadores de religiões novas é digna da pena de Max Stirner (“O Único e sua propriedade”,) embora até ele não tenha escapado, criando a religião do Único... nos seus excessos de demolição.
A Deusa Razão – já ocupou os altares religiosos do misticismo do materialismo histórico...
E a Deusa Razão é bem ignorante e pouco modesta...
Mudam-se apenas os nomes dos deuses: os crimes de lesa-liberdade de consciência continuam a ser perpetrados diante de outros altares.
A mim, não me satisfaz a esterilidade do materialismo econômico.

Para além da Neutralidade

A Escola Moderna de Ferrer vai além do ensino laico, além da neutralidade.
Definiu-a Soledad Villafranca, nas seguintes expressões:
“Ensino racionalista, quer dizer o ensino que tem como meio a razão e como guia a ciência; como guia a ciência; como ainda não disse a ultima palavra sobre qualquer assunto, resulta que o ensino racionalista não tem programa fixo. Pelo contrario.”
“Ao ensinar todos os dias is fenômenos físicos do universo e sociais da humanidade, fá-lo com a especial reserva de que só tem mérito os sentidos admitem e a experiência sanciona.”
E os nossos sentidos, deturpados pela civilização, nos enganam todos os dias...
No período seguinte a contradição é flagrante. Diz ela:
“O ensino racionalista tem por fim ensinar todas as verdades experimentais, por contrarias que sejam às ideias admitidas anteriormente.”
Há verdades experimentais, fatos comprovados e cujas causas, cuja simples explicação a ciência não descobriu. E não se podem negar fatos comprovados, nem mesmo compreendidos, embora não tenham sido decifrados, nem mesmo compreendidos pelos luminares da ciência humana oficial. Nega-los sistematicamente ou procurar esconde-los ou não querer ver, é absurdo igual às afirmações dogmáticas das revelações religiosas.
Como é mais nobre confessar o estado mental a ignorância diante dos fatos e colocar o ponto de interrogação inquieto e torturante, curioso diante de tais incógnitas!
Essa é a neutralidade que eu compreendo na Escola Nova. Não a neutralidade entre erro dogmático e a verdade cientifica.
Essa não é possível.
E Ferrer achava mesmo que os livros escolares devem tratar de todos esses problemas, falar de assuntos religiosos ou de dogmas sociais. O ensino racionalista pode e deve discutir tais problemas com o fim de desembaraçar o cérebro da criança de rotinas ou superstições, do tradicionalismo no erro e dos ídolos das organizações sociais.
Assim também compreendeu Naquet, falando de Ferrer, no prefacio ao livro de Ferrer, no prefacio ao livro de Wollian Heaford: O professor não pode ser neutro. Não poderia oscilar entre a verdade e o erro. O seu dever absoluto quando ensina as verdades cientificas, consiste em ensiná-las como a observação, a experiência e o raciocínio que concatena os fatos, as revelaram, sem se importar si fere ou não os detentores do desenvolvimento intelectual que se curvam sob o peso dos dogmas de há muito condenados. ”
Vê-se bem claramente que a neutralidade condenada é a que se refere à tolerância excessiva para com os dogmas e o sectarismo religioso do Cristianismo, cujas religiões e seitas predominam no Ocidente.
Nada tem que ver essa atitude necessária de independência e liberdade de pensar e dizer, contra o erro que escraviza a mente humana – com a atitude filosófica de dúvida e inquietação diante das maravilhas dos complexos psíquicos, diante do infinito da ignorância humana ou em face da multiplicidade assombrosa de fenômenos que se desenrolam na fantasmagoria da Natureza, através das leis universais de atração.
E uma infinidade de sonhos de sonhos há de povoar a mente dos homens que alçaram muito alto as suas inquietações, perscrutando os abismos de luz e sombra das almas ou penetrando o pensamento no labirinto fantástico dos mundos que vão rolando infinito além.

Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 57 á 65
Ano: 1934

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