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quinta-feira, 30 de novembro de 2017

A POSIÇÃO DO PROBLEMA POLÍTICO (PROUDHON)

     Como escolher... entre a propriedade e a comunidade, o federalismo e a centralização, o governo direto do povo e a ditadura, o sufrágio universal e o direito divino? Questões tanto mais difíceis, quando nos faltam exemplos de legisladores e de sociedade que tomaram como regra um ou outro destes princípios, e quando todos os contrários encontram, igualmente, a sua justificação na história.
     Tomem, para lei dominante da República, seja a propriedade, como Romanos, ou comunidade, como Licurgo, ou a centralização, como Richelieu, ou o sufrágio universal, como Rousseau; qualquer que seja o princípio que escolherem, desde que no vosso pensamento ele tenha prioridade sobre todos os outros, o vosso sistema está errado. Há uma tendência fatal para a absorção, para a depuração, para a exclusão, para o imobilismo, em direção à ruína. Não há uma revolução na humanidade que não possa ser explicada, com facilidade, por esse meio...
     Tal é, pois... A regra da nossa conduta e dos nossos Juízos: toda a doutrina que aspira secretamente à prepotência e à imutabilidade... que se lisonjeia por dar a última fórmula da liberdade e da razão, que... esconde, nas pregas da sua dialética, a exclusão e a intolerância... é mentirosa e funesta...
     Se, pelo contrário, admitirem, em princípio, que toda a realização, na sociedade e na natureza, resulta da combinação de elementos opostos e do seu movimento, a vossa conduta está bem traçada... : Toda posição tem por fim... Procurar uma combinação mais íntima... é um processo... ( Philos. du Prog., Cap. I.)

Extraído:
Livro: Nova Sociedade
Autor: Proudhon
Editora: Rés colecção substância
Páginas: 117 à 118

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A DINASTIA VERMELHA

     A tradição cometida por Lenine, contra os partidos e os trabalhadores, regada com sangue generoso do proletariado russo, em nome de quem sempre falou, sem nunca ter sido proletário, fez surgir diversas rebeliões, de 1917 a 1922, nalgumas regiões da Rússia. Umas, por ódio de raças; outras, para restabelecer a DEMOCRACIA,; na Ucrânia, para implantar as coletividades agrárias livres.
     Falando num "soviet" de bairro em Petrogrado, Gregori Zinoviv, exigiu o extermínio de 10 milhões de pessoas, dizendo: "Devemos ganhar para o nosso lado, 90 milhões dos 100 milhões de habitantes da Rússia. Quanto ao resto...tem que aniquilado".
     Nesse cálculos, ele próprio não se incluía, mais acabou, sendo também fuzilado.
     Dora Kaplan — expressão viva dos traídos e desesperados com esta onda de sangue, atenta contra a vida de Lenine.
     Em represália, Lenine manda matar 500 presos de Kronstadt.
     O ditador russo, tão sanguinário quanto Hitler, já havia semeado o terror, não contra a burguesia vê adeptos da monarquia, mas contra os socialistas revolucionários, os anarquistas, os anarco-sindicalistas e democratas da esquerda — idealistas capazes de lhe fazer sombra, servindo-se até de burgueses e monarquistas, para matá-los.
     Estava-se no 1.° de Março de 1921, e 15.000 marinheiros e trabalhadores, os mesmos que derrubaram Czar e conduziram o navio "AURORA", provocando a queda ao governo de Kerensky, reúnem-se em KRONSTADT — ilha perto de Petrogrado e fortaleza naval, condenam o terror vermelho e proclamam Lenine traidor da Revolução, o ditador, que nada fizera para derrubar o Czar, há muito vivendo de expediente fora da Rússia e que agora, afogava o proletariado em sangue!!!
     Ali nasceu o comité dos verdadeiros revolucionários russos, composto por Petritchevko, 1.° escrevente do Petropavlovsk; Yakovenko, telefonista do distrito de Kronstadt; Ossossoff, mecânico do SEBASTOPOL; Arhipoff, contra-mestre mecânico do PETROPAVLOVSK; Kupoloff, primeiro ajudante médico; Velchinin, marinheiro do SEBASTOPOL; Tonkin, operário eletricista; Romanenko, guarda artilheiro de reparação de navios; Orechin, empregado da 3.ª escola técnica; Valk, operário carpinteiro; Pavloff, operário em construção de minas marinhas; Baikoff, servente; Kilgast, timoneiro. (De "INVESTIA", n.° 10, de 12-3-1921).
     Para justificar a destruição dos 15 mil trabalhadores e marinheiros contra-revolucionários, Lenine e seu alto comando, dirigido por Trotsky, põem a correr notícias como "Os marinheiros são comandados por padres, guardas brancos e generais monárquicos!" — A calúnia correu salta até no exterior.
     E quem foi o vencedor da residência de Kronstadt? Foram os bolchevistas?
     Nada disso... Trotsky e Lenine, contaram com os serviços do general Mikhail Tukhachevsky, czarista e feroz reacionário, em troca do perdão.
     Comandando 60.000 homens escolhidos e forças de TCHEKA, o citado general, cercou a COMUNA e a luta foi cruel. Tiveram de tomar casa por casa.
     No dia 17 de Março, o general czarista Tukhachevsky, anunciava a Trotsky e a Lenine, que a tarefa terminará com 18.000 trabalhadores e marinheiros mortos!!!
     Lenine e Trotsky saíram vitoriosos, ao derrotarem o proletariado russo, que, vende-se traído nos seus objetivos, levantava-se em defesa dos seus direitos.
     Os proletários foram esmagados, fuzilados friamente, pelo general czarista. Miknail Tukhachevsky — assassino profissional, contratado em troca de sua vida, que lhe fora poupada, porém, não escapou também ao fuzilamento mais tarde, por ordem de Estaline, para não sobrar testemunha de vista.

Extraído:
Livro: Deus Vermelho
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: Porto
Página: 83 á 85
Ano: 1978

terça-feira, 28 de novembro de 2017

A JUSTIÇA, PRINCÍPIO REVOLUCIONÁRIO ( PROUDHON)

     O tempo das raças iniciadora passou. O movimento não renascerá na Europa, nem do Oriente, nem do Ocidente...
     Ele não pode vir senão de uma propaganda cosmopolita, defendido. Por todos os homens... sem distinção, nem raça, nem língua.
     Qual será a sua bandeira? Só pode ser uma: a Revolução, a Filosofia, a Justiça. Revolução é o nome francês... filosofia é o nome germânico; que justiça se torne o nome cosmopolita...
     Qual é o princípio fundamental, orgânico, regulador, soberano das sociedades? É a Religião, o Ideal, o Interesse? É o Amor, a Força, a Necessidade ou a Higiene? Há sistemas e escolas para todas estás afirmações.
     Este princípio, para mim, é a Justiça.
     —É a essência da Humanidade.
     Que tem sido ela, desde o princípio do mundo?
     —Quase nada.
     Que deve ser ela?
     —Tudo.
     (De la Just. dans la Rév. Phil. Popular.)
     Sendo a igualdade a lei da natureza, do mesmo modo que a lei da justiça, e sendo as promessas de uma e de outra idênticas, o problema, para o economista e para o homem de Estado, já não é saber se a economia será sacrificada à justiça ou  a justiça sacrificada à economia; ele consiste em descobrir qual será o melhor partido a tirar das forças físicas, intelectuais, econômicas, que o génio incessantemente descobre, a fim de restabelecer o equilíbrio social, perturbado pelas particularidades de clima, de geração, de educação, de doenças, e por todos os acidentes de força maior...
     É uma tarefa bem delicada conciliar o respeito devido às pessoas com as necessidades orgânicas da produção; respeitar a igualdade, sem pôr em perigo a liberdade ou, pelo menos, sem impor à liberdade outros entraves que não sejam o Direito. Tais problemas requerem um ciência à parte, objetiva e subjetiva ao mesmo tempo, metade fatalidade e metade liberdade. (De lá Justice dans la Rév., Les Biens.)

Extraído:
Livro: A Nova sociedade
Autor: Proudhon
Editora: RÉS colecção substância
Página: 14 á 15

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A JUSTIÇA, LEI DA FILOSOFIA (Proudhon)

     A lei da minha filosofia... Procurá-la-ei... Numa relação entre mim e um outro eu que não seja eu...
     Eu que qualquer homem, meu semelhante, é um eu; penso igualmente que os que os animais... São também eus, de uma dignidade inferior, é certo, mas criados no mesmo plano... Como já não faço uma demarcação nítida entre o animal e a planta, entre esta e o mineral, pergunto a mim mesmo se os seres inorgânicos não são ainda... Membros dum eu de que ignoro a vida é as operações.
     Sendo pois o ser classificado em eu e não-eu, que posso eu fazer de melhor, nesta ambiguidade antológica, senão tomar para o ponto de partida da minha filosofia a relação, não de mim a mim mesmo... mas de mim a um outro eu, o que já não constitui uma dualidade metafísica... Mas uma dualidade real, viva...
     Agindo assim... tenho a vantagem,  descendo da humanidade para as coisas, de nunca perder de vista o seu legítimo conjunto... Enfim, presume-se racionalmente que a lei que rege os indivíduos entre si rege também os objetos, pois que, sem isso, haveria contradição entre a natureza e a Humanidade.
     Tomemos pois por certo que... Este princípio deve ser, ao mesmo tempo, subjetivo e objetivo, formal e real, inteligível e sensível, deve indicar uma ligação do eu ao não eu, deve ser dualista como a própria observação filosófica...
     Qual é então essa ideia, ao mesmo tempo objetiva e subjetiva, real e formal, de natureza e de humanidade, de especulação e de sentimento, de lógica e de arte, de política e de economia; inteligência prática e inteligência pura, que rege, ao mesmo tempo, o mundo da criação e o mundo da filosofia; sobre a qual são construídos um e outro; ideia, enfim, que dualista pela sua fórmula, exclui entretanto qualquer anterioridade e qualquer superioridade e abarca, na sua síntese, o real e o ideal? É a ideia de justiça...

Extraído:
Livro: A Nova sociedade
Autor: Proudhon
Editora: RÉS colecção substância
Página: 168 á 169

A JUSTIÇA NA HUMANIDADE : DEFINIÇÃO (Proudhon)

     Segundo as manifestações da consciência universal e da ciência... Está justiça deve ser  em nós qualquer coisa de perderável e de real — indicando uma relação de conexidade e de solidariedade... pelo menos dois termos, duas pessoas unidas pelo respeito comum da sua natureza, diferentes e rivais para todo o resto...
     O homem, em virtude da razão de que é dotado, tem a faculdade de sentir a sua dignidade na pessoa do seu semelhante como na sua própria pessoa, de se afirmar ao mesmo tempo como indivíduo e como espécie.
     A Justiça é o produto desta faculdade: é o respeito, espontaneamente sentido e reciprocamente garantido, da dignidade humana, em qualquer pessoa e em qualquer circunstância em que ela se encontre comprometida, e em qualquer risco a que nos expõe a sua defesa...
     Estar pronto, em qualquer circunstância, a tomar com energia — em caso de necessidade, contra si próprio – a defesa dessa dignidade, eis a Justiça.
     Isso equivale a dizer que, pela Justiça, cada um de nós se sente ao mesmo tempo como pessoa e coletividade, indivíduo e família, cidadão é povo, homem é humanidade...
     Da definição de Justiça deduz-se a do direito e do dever. Sentir e afirmar a dignidade humana, primeiro em tudo o que se relaciona com nós próprios, depois na pessoa do próximo, e isto sem reconhecimento de egoísmo como sem qualquer consideração de divindade ou comunidade: eis o Direito.
     O direito é, para cada um, a faculdade de exigir dos outros o respeito da dignidade humana na sua pessoa: o dever, a obrigação para cada um de respeitar está dignidade noutrem.
     No fundo, direito é dever são termos idênticos, visto que são sempre a expressão do respeito, exigível ou devido: exigível, porque ele é devido; devido, porque ele é exigível; só diferem, no sujeito: eu ou tu, em quem a dignidade está comprometida. (Justice, Les Personnes.)
     Sociedade, Justiça, Igualdade são três termos equivalentes, três expressões que se traduzem. (1.er mémoire, capital.V.)
     A Justiça é a fórmula da sociedade. (Capac. Pol.,liv. II, cap. V.)
     A Justiça é, pois, uma faculdade da alma, a primeira de todas, a que constitui o ser social. Mas ela é mais do que uma faculdade: ela é uma ideia, implica uma relação, uma equação. Como faculdade, é suscetível do desenvolvimento: é este desenvolvimento que constitui a educação da humanidade. Como equação, não apresenta nada de antinómico... e como toda lei... ela é altamente inteligível. É através dela que os factos da vida social, indeterminados pela sua natureza e contraditórios, se tornam susceptíveis de definição e de ordem. ( Justice, Les Personnes.)

Extraído:

Livro: A Nova sociedade
Autor: Proudhon
Editora: Rés
Página: 173 á 174