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sábado, 5 de janeiro de 2019

Lamentos de uma Burgueza

     Sou uma filha do povo, da classe baixa, sem instrução, mas estes não são motivos para que eu more na mesma casa da busguesia. Entrei como criada e antes dum  mes soube que a burguesa, com todos os seus brilhantes não tinha o que eu tenho, um campanheiro. Se queres saber o que ela tinha, leitor, continua lendo e depois veras se tem razão... Atenção, a burgueza fala, chora e maldiz.
     - Oh! Malditas sejam estas noites de verão em que  acho-me só para aspirar o perfume das flores, ouvir o murmurio das brizas noeturnas das folhagem, semelhantes ao estremecimento de beijos amorosos. Oh! na minha solidão temo o enervante calor das noite de verão: penetra em mim e circula vãmente pelas minhas veias! Tenho 28 anos, o tempo da velhice aproxima-se e nunca tive um só dia de amor e de liberdade. Amor! Liberdade! Hei de viver sem conhecer-vos? Malditos sejam os maridos violentos e libertinos, porque perdem suas mulheres! Amada, respeitada e considerada por meu marido, eu seria casta e boa, mas desdenhada e humilhada tornei-me irascível e vingativa. Não! não! Já resisti bastante ás ancias que me devoram.
     Fugirei desta casa, não sou dona de mim mesma e se meu marido obrigar-me a permanicer ao seu lado é é para gozar dos meus bens! Sim, fugirei desta desta casa, embora tenha que trabalhar. Patrão por patrão, que perderei? Isto é viver? arrastar os meus dias nesta opulenta casa, tumba dourada, cercada de arvores e de flores. Isto é viver? Não! não! Quero viver! quero sair deste sepulcro frio, quero ar, sol, espaço, quero o meu dia de amor e liberdade. Oh! se tornasse a ver aquele jovem que ás vezes passou a madrugada, por baixo deste terraço, onde venho respirardepois das minhas noites de insonia, a frescura matutina, Que belo rosto e que simpatico. Deve ser algum operario. Operario! E que imperta! As amantes do meu marido, muitas também são operarias. Oh! e não hei de ter nunca, por minha vez, um dia de amor e de liberdade?!...

Rosario Cevidani.

Extraido:
Jornal: A Voz do Trabalhador
ANNO I. N.7   Redação e Administração: Rua do Hospicio N. 144, Sobrado - Rio de Janeiro
Data: 6 de dezembro de 1908
Orgam semanal da Confederação Operaria Brazileira
Pagina 3

Extraído
Arquivos: A voz do Trabalhador
Orgam da confederação Operaria Brazileira
Coleção fasc-similar 1908 . 1915
Arquivos Edgard Leuenroth. Unicamp
Imprensa oficial do estado \ Secretaria de Estado da Cultura\ Centro de Memória Sindical
São Paulo - 1985

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