Sou uma filha do povo, da classe baixa, sem instrução, mas estes não são motivos para que eu more na mesma casa da busguesia. Entrei como criada e antes dum mes soube que a burguesa, com todos os seus brilhantes não tinha o que eu tenho, um campanheiro. Se queres saber o que ela tinha, leitor, continua lendo e depois veras se tem razão... Atenção, a burgueza fala, chora e maldiz.
- Oh! Malditas sejam estas noites de verão em que acho-me só para aspirar o perfume das flores, ouvir o murmurio das brizas noeturnas das folhagem, semelhantes ao estremecimento de beijos amorosos. Oh! na minha solidão temo o enervante calor das noite de verão: penetra em mim e circula vãmente pelas minhas veias! Tenho 28 anos, o tempo da velhice aproxima-se e nunca tive um só dia de amor e de liberdade. Amor! Liberdade! Hei de viver sem conhecer-vos? Malditos sejam os maridos violentos e libertinos, porque perdem suas mulheres! Amada, respeitada e considerada por meu marido, eu seria casta e boa, mas desdenhada e humilhada tornei-me irascível e vingativa. Não! não! Já resisti bastante ás ancias que me devoram.
Fugirei desta casa, não sou dona de mim mesma e se meu marido obrigar-me a permanicer ao seu lado é é para gozar dos meus bens! Sim, fugirei desta desta casa, embora tenha que trabalhar. Patrão por patrão, que perderei? Isto é viver? arrastar os meus dias nesta opulenta casa, tumba dourada, cercada de arvores e de flores. Isto é viver? Não! não! Quero viver! quero sair deste sepulcro frio, quero ar, sol, espaço, quero o meu dia de amor e liberdade. Oh! se tornasse a ver aquele jovem que ás vezes passou a madrugada, por baixo deste terraço, onde venho respirardepois das minhas noites de insonia, a frescura matutina, Que belo rosto e que simpatico. Deve ser algum operario. Operario! E que imperta! As amantes do meu marido, muitas também são operarias. Oh! e não hei de ter nunca, por minha vez, um dia de amor e de liberdade?!...
Rosario Cevidani.
Extraido:
Jornal: A Voz do Trabalhador
ANNO I. N.7 Redação e Administração: Rua do Hospicio N. 144, Sobrado - Rio de Janeiro
Data: 6 de dezembro de 1908
Orgam semanal da Confederação Operaria Brazileira
Pagina 3
Extraído
Arquivos: A voz do Trabalhador
Orgam da confederação Operaria Brazileira
Coleção fasc-similar 1908 . 1915
Arquivos Edgard Leuenroth. Unicamp
Imprensa oficial do estado \ Secretaria de Estado da Cultura\ Centro de Memória Sindical
São Paulo - 1985
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