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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

COMO FALAVA UM SÁBIO



     Eu não creio, como vós, que a revolução seja feita de cima, principalmente pela intervenção dos homens de sacrifício e de boa vontade. A revolução será feita, sobretudo de baixo, pelos homens cuja gravitação natural é para um estado novo. Se a palavra interesse não fosse de ordinário tomada à má parte, eu diria que a revolução será feita pelos que tem interesse em fazê-la; mais prefiro dizer que ela fará por acomodação natural do homens ao seu meio normal. Que isto dizer que não contemos com o apoio de todas as pessoas de bom coração que, lutando contra os seus próprios interesses pessoais, servem à causa da multidão? Sem duvida que não. Eu não esqueço que todos os que pelos seus escritos deram nome aos grupos de reivindicações, eram pessoalmente interessados em que se mantivessem os privilégios, eram pessoalmente interessados em que se mantivessem os privilégios. Mas se eles formularam idéias, graças á sua instrução superior, não lhes cabe o prazer de baixo estão de acordo. Daí haver nestes uma enorme superioridade de força.
     Por elevado que seja o nosso ideal, ele é bem pouca coisa em comparação com os progressos imagináveis. Seria, pois, da nossa parte um logro, se, a pretexto de possibilismo, estivéssemos apaixonados pela nossa concepção de uma sociedade justa e nos saracoteássemos para obter falsas reformas, mas ou menos edulcoradas de um tantito de justiça. O que nós temos a fazer, durante esta vida de um dia, é dizer com honestidade e simplicidades o nosso pensamento e incitar com todas as nossas forças a realização do que nós julgamos ser a verdade. Sem duvida, a historia diz-nos bem alto que a nossa revolução por mais leal e energética que desejamos, não passará de uma revolução mínima e ficar-se-á provisoriamente em reformas, porque a lei paralelogramo das forças é verdadeira em historia como em mecânica; mas, ao menos, teremos empregado todos os nossos esforços para que resultantes seja tão próxima quanto possível da linha reta. São todas as forças ligadas a resistência, que levam a humanidade a seguir o caminho obliquo em vez do caminho direto.
     No ponto de vista revolucionário fujo de preconizar a violência, e fico desolado quando alguns amigos, arrastados pelas paixões, se deixam levar pela idéia de vingança, tão pouca cientifica, estéril, Mas a defesa armada de um direito não é a violência; se é verdade, como julgo, que o produto de um trabalho comum deve ser propriedade comum, reivindicar o que nos pertence não é fazer apelo à violência; se é verdade, como julgo, que ninguém tem o direito de se apropriar da liberdade de outrem, aquele que se revolta permanece dentro do seu direito estrito.
     Assistindo a este massacre que se chama de civilização e que lança os povos sobre os tacões de reis, os pobres nos laminadores das fabricas dos ricos, e as crianças nas faces de monstros, eu não posso deixar de gritar: “Revolta! Revolta!”, porque tenho o sentimento da solidariedade para com todos os que sofrem. É por amor que eu dou este grito, que não é, acredite um grito de ódio.
     O fato de a sociedade atual se tornar coisa impossível de poder qualificar-se de falência contínua, perpétua, assim, no seu conjunto, como nos seus grupos nacionais ou familiares, não prova, confesso, que o nosso sonho de equidade seja realizável. É verdade isso. E, porque o é, respondo simplesmente: ou nós podemos realizar esse sonho para toda a sociedade, e nesse caso devemos trabalhar com energia; ou só podemos realizá-lo para um pequeno numero e, nesse caso, ainda devemos trabalhar. Por que se não há de fazer desabrochar um pequeno oásis de paz, de respeito mútuo, de igualdade, no meio do deserto imenso?
     É pelo caráter pessoal que se faz a verdadeira propaganda. As menores idéias expostas por impotentes ou fracos parecem destituídas de importâncias e de virtudes. Cabe-vos a vós pô-las em relevo, fazê-las acolher com simpatia, dado o ímpeto da vossa coragem, a elevação do vosso pensamento e a dignidade da vossa vida.

Da Correspondência de Elisée Reclus

Extraído:

Livro: Um Século de Historia Político-Social em Documentos II
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: Achiamé
Ano: 2007
Pagina: 125 á 127

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