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sexta-feira, 24 de abril de 2015

AS MULHERES NA TRAGÉDIA DE CHICAGO (01-05-1886 \ 11-11-1887)

     Faz em 11 de novembro do ano em curso 94 anos, quase um século, que o proletariado sofreu um dos maiores duros golpes de sua historia.
     A tragédia começou na Praça Haymarket, América do Norte, quando elementos libertários discursavão perante uma multidão de cerca de 340 mil trabalhadores que pretendiam co horas de 8 horas de trabalho.
     O lema dos oradores do 1º de Maio de 1886, era:
     "Oito horas de Trabalho!"
     "Oito horas de Repouso!"
     "Oito horas de Educação!"
     Seu desfecho foi um saldo de 100 mortos e feridos e a coordenação à morde por enforcamento, Jorge Engel e Augusto Spies; 2 à prisão perpétua: Miguel Schwab e Samuel Fielden; e Oscar Neebe a 15 anos de prisão.
     Muita gente contribuiu para que a tragédia perpetrasse: O Chicago Time com sua campanha sórdida contra os operários; a polícia; o falso testemunho do Capitão John Bonfield e dos civis Setinger, Jassen e Shea; o questionamento dos 979 jurados; a crença reacionária do promotor publico Grinnell e do Juiz Gary, e a obdiência cega dos carrascos.
     O enforcamento deu-se às 11:50 horas do dia 11 de novembro de 1887 e a 25 de junho de 1893, o governador do estado de Illinois, Johan P. Altgeld anulou a condenação e ordenou a libertação de 3 prisioneiros, mas as vidas de Lingg, Parsons, Fischer, Engel e Spies não foram devolvidas.
     Muitas mulheres acompanharam esta tragédia emocionante, inclusive a esposa e os filhos de Parson e a mãe de Luiz Lingg.
     O próprio Oscar W.Neebe declarou perante o tribunal: "Não estive no Comício da Praça Haymarket."
     "Não nego que eu estive entre os padeiros e cervejeiros de Chicago, na luta pela conquista de melhores salários e redução da jornada de trabalho."
     "Tenho esposa e filhos; se souberem que seu pai esta morto, enterrá-lo-ão. Poderão ir até à cova e sentar-se a seu lado, mas não poderão sentar ir à penitenciaria ver seu pai, condenado por um crime que nada tinha."
     Mostrando-se a uma grandeza impressionante a mãe de Luiz Lingg escreveu-lhe: "Depois de tua morte continuarei tão orgulhosa de ti como estou hoje." Declarou mais: "se eu fosse homem, teria feito o mesmo que tu." E  sua tia declarou à imprensa: "Suceda o que suceder, não te mostre débil diante desses miseráveis."
     Por essa época (1886) chegava a Rochester, Estados Unidos, a jovem Emma Goldman, 17 anos de idade, nascida na província russa de Kovno. Tocada pela campanha das 8 horas de trabalho, impressionada com a oradora socialista Joana Grei, em defesa dos Mártires de Chicago, adere ao anarquismo. Tornou-se uma oradora vigorosa e como Joana Grei defende ardorosamente a inocência dos 5 libertários enforcados em novembro de 1887.
     Em 1893, exatamente no mesmo ano em que se reconhecia publicamente a inocência dos 8 condenados e punha-se em liberdade 3 deles, Emma Goldman era condenada em Nova Iorque a um ano de prisão por defender as idéias daqueles mártires.
     Morreu quando ia completar 71 anos de idade, a 14 de maio de 1940, em Toronto, Canadá, e os seus admiradores sepultaram-na ao lado do túmolo dos mártires de Chicago responsáveis pelas convicção libertárias da imigrante russa, transformada no curso dos anos, uma das mais combatidas propagandistas do anarquismo.
     Tocada emocionalmente pelos acontecimentos do 1° de Maio de 1886, outra jovem de 17 anos, Voltairine de Cleyre (1869-19912), nascida em Michigan, Estados Unidos, filha de pai francês, fez-se anarquista e começou a defender as idéias dos Mártires de Chicago.
     Morreu anarquista convicta e feminista como Emma Goldman.
     Por suas idéias, Voltarine de Cleyre conheceu os horrores das prisões americanas, mas nem os rigores dos cárceres nem as perseguições das autoridades lhe alteraram a conduta ou dobraram  a grandeza do seu caráter, forjado no calor das doutrinas libertárias defendidas e programadas pelos Mártires de Chicago em pleno tribunal, que tanto a impressionaram e fizeram dela uma idealista.
     Mas no caso mais polêmico ligado aos Mártires de Chicago é a da jovem aristocrática, Nina Stuart Van Zant, que no curso de processo se apaixonou pelo anarquista Augusto Spies, autor do pronunciamento gravado no Monumento erigido no Cemitério de Waldheine, Canadá, onde repousam os restos dos cinco libertários: "Não tardará o dia em que o nosso silêncio será mais eloqüente do que as nossas vozes que acabais de sufocar."
     Tão logo começou a caçada aos anarquistas pela policia americana, no dia 4 de maio de 1886 a imprensa burguesa redobrou a campanha de difamação contra os elementos da vanguarda proletária, acusando principalmente os anarquistas e os operários membros da Primeira Internacional dos Trabalhadores.
     Denúncias, acusações e calúnias postas a correr pela prensa de Chicago sacudiu e convidou o povo a tomar posições contra e a favor dos prisioneiros libertários.
     Indiferentes ao plano maquiavélico da burguesia e das autoridades, os anarquistas portavam-se com a maior dignidade,  à altura da ideologia que defendiam.
     Um dos gestos que impressionou profundamente as camaradas popular e liberal foi o de Albert Parsons. No dia da explosão (veja-se o livro A Bomba, de Frank Harris), conseguiu fugir para Wisconsin, onde ficou a salvo dos perseguidores, Mas quando soube das acusações contra os seus companheiros voltou voluntariamente para Chicago e foi entregar-se em pleno tribunal, juntando-se a eles e dizendo: "Se é necessário subir também ao cadafalso pelos direitos dos trabalhadores, pela causa da liberdade, e para melhorar a sorte dos oprimidos, aqui estou."
    A intensidade das denúncias burguesas e policiais, os debates em torno da greve de 1° de Maio e as declarações firmes, as convicções corajosas, serenas e conscientes dos anarquistas, levou a jovem aristocrática Nina Stuart Van Zantd a trocar cartas com Augusto Spies e a visitá-lo diariamente na prisão, apaixonando-se pelo homem e pelas  suas idéias.
     Muita gente começou então a visitar os prisioneiros e, uma massa de trabalhadores, por solidariedade.
     Diante da corrida inesperada, as autoridades baixaram ordem limitando as visitas ás esposas e ás mães dos presos.
     Nina ficou impedida e não hesitou um instante: propôs casamento a Augusto Spies para como esposa poder visitá-lo até ao último dia de sua vida. Casaram-se!
     E quando seus familiares e a gente do mundo social a criativa por se apaixonar e casar com um anarquista condenado a morte, a jovem Nina Stuart Van Zantd respondia: - "Prefiro a censura desta sociedade, cuja moral não lhe permite compreender um verdadeiro amor alimentado também pela afinidade de idéias e pela desgraça, a casar-me com algum velho vicioso e inválido, possuidor de grandes riquezas, merecendo desses 'moralistas' muitas felicitações."
(Gazeta do Sul - 14-11-1981)

Extraído:
Livro: O Homem em Busca da Terra Livre
Autor: Edgar Rodriguês
Editora: VJR Editores Associados
Paginas: 142 á 145

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