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sábado, 11 de maio de 2013

OS BRASÕES INÚTEIS DE ANNA LIBONATI AVENNA


     A história gaúcha, por razões óbvias, não guardou nenhum registro de sua passagem e de sua luta em Porto Alegre. Dir-se-ia que ela transitou pelos porões da cidade, pelos subterrâneos da metrópole, ali onde a luta de classes joga na cara da gente a violência descolorida de vidas que se estiolam na batalha desigual pela sobrevivência.
     Seu nome era Ana Libonati Avenna, era italiana e libertaria. Foi responsável pela primeira tentativa de organização sindical dos motoristas de praça de Porto Alegre, foi quem deitou as raízes do atual Sindicato dos Rodoviários do Rio Grande Do Sul. Veio da península Garibaldi depois de atuar, como enfermeira, nos campos de uma Europa devastada pela Primeira Guerra Mundial. Ali estivera, no fogo das batalhas, acompanhando o marido, o medico Alfredo Avenna. Revolucionaria, trazia nas mãos e nos olhos as marcas de um espetáculo que marcaria de vermelho a entrada deste pobre século XX.
     A Partir de 1918 essa militante é presença constante nos primitivos pontos dos motoristas da cidade. Falava da luta de classes, de solidariedade entre os explorados e pregava a necessidade de sua união. Desse trabalho nasce, nos anos vinte, a Associação dos Chaufeurs de Porto Alegre. E, 1926, como Jornalista-operária, Anna edita aqui O Automobilista, porta-voz dessa categoria profissional.
     Nascida em Nápoli, em 1877, essa líder rebelde descendia da alta nobreza napolitana. Tinha sangue azul, como se dizia antigamente. Pois bem: ao abraçar a causa dos operários gaúchos, Anna, como que reavaliando seu próprio destino, rasgou os brasões da família por considera-los inúteis.
     Além de enfermeira e jornalista da classe operaria, Anna Libonati foi também escritora, poetisa e teatróloga. Foi professora do extinto Colégio Voluntario da Pátria, colaboradora do Correio do Povo, atuou na ACM e foi presença destacada na maçonaria gaúcha, onde seus textos circulavam de mão e mão.
     Sua produção cultual doi extraviada. Seu romance, O Chaufeur, retratando do dia-dia dos primeiros motoristas de praça de Porto Alegre, foi perdido em São Paulo para onde foi levado por José Freitas da Silva para ser editado. Escreveu duas peças de teatro que foram representadas com sucesso no meio operário metropolitano: Um Casamento Gorado e Miséria e Nobreza. Faleceu aqui aos 84 anos, em 15 de setembro de 1961.
     Faleceu em termos: Anna Libonati Avenna, pelo seu pioneirismo, pela sua coragem, pela sua garra e pela sua densa humanidade, deve ser colocada na galeria das grandes mulheres que afloram, aqui, agarradas ao sonho de um mundo mais junto e fraterno.

Extraído do:
Os anarquistas do Rio Grande do Sul
Autor: João Bastista Marçal
Paginas: 43 á 44
Ano: 1995
Editora: Unidade Editorial Porto Alegre

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