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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Rafael Fernandez: fora do anarquismo não há salvação

     Ultimo militante anarquista da velha guarda na Grande Porto Alegre. Afiador de facas (amolador) e tradutor Seu primeiro trabalho foi nas minas de Brilbão, na Espanha, Sua terra, onde nasceu no povoado de San Juan de Torres, Em 1900. Já militante, atuou na Argentina, nos anos vinte, trabalhando entre os camponeses e posteriormente como cozinheiro em Buenos Aires.
     Rafael Fernandez chegou em Porto Alegre em julho de 1927, ligando-se ao grupo que editava A Luta. Tinha então 27 anos, Seus companheiros de caminhada são Jesus Ribas, Anastácio Gago Filho, Francisco Diz, Daniel Conde e Frederico Kniestedt, entre outros.
     Posteriormente foi trabalhador nas minas do Butiá, onde ajudou a criar o movimento sindical. Voltando na organização dos canteiros, como então se chamavam os trabalhadores da construção civil. Logo depois de Trinta, adotou a sua profissão definitiva: amolador. Foi uma opção claramente política: “Adotei essa profissão por duas razões fundamentais: primeiro porque me deixava livre, para sempre, da figura do patrão; segundo porque me deixava mais tempo para ler”, dizia Rafael Fernandez.
     Extremamente humilde, Rafael não se considerava um militante, mais “um homem a serviço de suas idéias”. Na realidade, nesse meio século, de 1930 a 1980, ele percorreu Porto Alegre em todas as direções com seu carrinho de amolador. Casualmente estava sempre por perto onde havia qualquer tipo de agitação operaria, levando seu verdadeiro material de trabalho: A luta, A Plebe, Ação Direta, Dealbar, etc. Isto lhe custou, entre outras violências, dois meses no Presídio do Gasômetro, em 1930.
     Atuando com Jesus Ribas, seu patrocínio, dirigiu com este o Centro de Cultura, Artístico e Cultural Euclides da Cunha, nos anos cinqüenta , do qual foi tesoureiro. Suas informações foram preciosas para a elaboração deste livro, Morou na cidade de Viamão de 1958 a 1988, quando faleceu. Continuava Fiel e arraigado aos seus princípios: “Fora do anarquismo não há salvação”, me afirmou reiteradas vezes.

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     O jornal libertário “O Inimigo do Rei”, de setembro de 1982, trouxe este texto seu:

O Dinheiro

     Há uma mentalidade subjugada, escrava do dinheiro e que não vê nada realizado sem esse Molok escravizador da vida humana. Cada coisa deve ser comprada.
     O trabalho: verdadeiro deus que salva a humanidade da fome, da miséria e de todas as pragas. Este deus está subjugado ao deus-dinheiro. Instrumento inventado pelos usurários para escravizar a humanidade. E aí o temos. Escraviza física, intelectual e moralmente.
     A humanidade vendo sua força de trabalho, sua honra, sua liberdade, e tudo o que tem para adquirir esse elemento (o dinheiro) que não faz nada, a não ser manter escravas a todos nós.
     Quantos crimes? Quanta miséria gerada pelo dinheiro? Será que a humanidade não poderia suprimir esse elemento de escravidão?


Livro: Os anarquistas no Rio Grande do Sul
Autor: João Batista Marçal
Editora: Unidade editorial porto alegre
Ano: 1995
Pagina: 61 á 63

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