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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Carta de Kropotkine em defesa dos Martires de Chicago

“Senhor editor do New York Harald,
A sentença de Chicago indica que o conflito, está tomando na América, uma proporção mais aguda e uma mudança mais bruta que jamais houve na Europa. As primeiras páginas desta história começam como ato de represálias inimagináveis. Uma boa dose de vingança, sem nenhum fato concreto, é o que se pode concluir do processo de Chicago.
Li com muita atenção os dados da causa (processo), conferi detidamente os indícios e as evidências, e não êxito em assegurar que semelhante sentença só aconteceria na Europa depois que todas as acusações fossem apreciadas e concluídas sua veracidade por um conselho de guerra da raiz da derrota, no caso comuna de Paris, de 1871 ou do terror branco da restauração borbónica de 1815, tempos atrás.
Mas é evidente, conclue-se imediatamente que nenhum dos SETE acusados jogou bomba alguma. Está por demais provado que alguns condenados nem assistiram ao comício de Haymarket e outros já se tinham retirado quando a policia furiosamente atacou a multidão. E mais: o promotor de justiça não sustenta que uma bomba foi jogada por algum dos SETE acusados, e sabe-se que desse gesto acusam outra pessoa que não está sob a ação de justiça.
Só Spies é acusado de ter entregado uma mecha para arear fogo a bomba: é o único homem acusado pelo testemunho de um tal de GILMER, cuja péssima reputação é demasiadamente conhecida como mentiroso, confirmado por DEZ pessoas que haviam estado com ele e não viram nada. Além disso, o mesmo GILMER declarou ter recebido dinheiro da polícia.
Depois dos acontecimentos de Haymarket, os legisladores de Illinois promulgaram uma lei contra dinamiteiros e, está pronta a promulgar outra lei contra toda a classe de conspiradores. Segundo esta última lei, qualquer ato ilegal, ainda que tenha fins legais, será considerado como criminoso; acaba, pois de ser destruído um dos principais artigos da constituição. Segundo reza a futura lei, qualquer incidente que resulte um ato ilegal, será também considerado como delito.
Na base não precisa provar que a pessoa comete um ato ilegal, pode ter lido artigos e ouvido discursos que aconselhavam cometê-los, e agora todos esses artigos e discursos serão responsáveis por atos delituosos.
Fica virtualmente suprimida a liberdade de falar e de escrever. Do mesmo modo a lei francesa reconhece uma relação direta entre o incitamento por meio da palavra falada ou escrita no ato executado.
A nova lei de Illinois me interessa pouco em si mesma e só desejo que conste o seguinte:
SETE anarquistas de Chicago foram condenados à morte graças a um SIMULACRO da lei que ainda não era, em 1886, quando se cometeram os “delitos” em causa; a referida lei foi proposta e aprovada com o propósito de ser aplicada no processo de Chicago e, seu primeiro efeito será MATAR SETE ANARQUISTAS.
Sou de você afetuosíssimo.
Pedro Kropotkine ”. (¹)

1. A carta de Pedro Kropotkine, deu-me o companheiro e meu amigo pessoal Victor Garcia, residente em Caracas – Venezuela, alguns anos antes de falecer. Também a Divulgou, na revista RUTA de 1° de maio de 1965, uma publicação da federação Ibérica de Juventudes Libertárias. Recentemente ofereci uma cópia à Robson Achiamé para divulgar na Revista Letralivre. Em junho de 2005, vi a carta de Kropotkine inserida no livro “Primeiro de Maio” de Ricardo Mella, organizado pelo “Núcleo de Pesquisas Marques da Costa” sem nenhuma referência ás origens, Edição Achiamé, Rio de Janeiro.

Extraído do livro “Rebeldias – Volume 3” de Edgar Rodrigues editora Opúsculo Libertário paginas 128 à 130.

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