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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

VARLAN TCHERKESOFF

     Varlan Tcherkesoff descendia de uma antiga familia nobre da Geórgia. Ainda jovem, abandonou o lar paterno, em direção a Moscou, onde frequentou um instituto ginasial. Seu verdadeiro nome era Tcherkeskilli, que somente russificou no estrangeiro. Tcherkesoff conheceu, desde o alvorecer de sua juventude, o movimento revolucionário. O jovem aluno do ginásio residia em Moscou com estudantes mais adiantados, que lhe devotavam grande simpatia, em vista em sua presença conversavam sem reservas sobre todos os assuntos secretos.
     Foi assim que Tcherkesoff veio conhecer os problemas que então pretendiam a atenção da juventude socialista e revolucionaria.
     Era o período em que Tcherkesoff exercia poderosa influência sobre a juventude e quando o movimento  revolucionário havia dado origem à organização secreta "Terra e Liberdade".
     Tcherkesoff era o membro mais novo desse círculo.
     Depois da prisão de Tchernichevsky, em julho de 1863, a polícia de Alexandre 2.°, cujo suposto liberalismo despertara entre o povo algumas esperança, inclinou-se francamente para o racionalismo.
     A consequência desse fato foi, naturalmente, o progressivo desenvolvimento, nas agremiações da mocidade socialista, da convicção segundo o qual se tornava necessária uma solução violenta das grandes questões que a todos inquietavam.
     Tal convicção era fortalecida pela ideia de que as perspectivas de reformas governamentais em sentido liberal não passavam de meras ilusões.
     Dentre as agremiações de estudos moscovitas surgiu uma que começou a propagar a luta contra o tsarismo por meios violentos. Entre outras coisas, tratou da criação de uma imprensa clandestina e da liberdade de Tchernichevsky. Tcherkesoff fazia parte dessa agremiação. A ela também pertencia o conhecido revolucionário Karakosoff, que no ano de 1866 atentou contra o tsar Alexandre 2.°, sendo, em virtude desse gesto, sacrificado no cadafalso.
     Depois do atentado levado a feito por Karakosoff, a reação levantou novamente a cabeça.
     Antes a nova situação, os dirigentes tomaram novas medidas. Desde logo, todos os funcionários suspeitos de liberalismo, mesmos os maia moderados, foram detidos de seus cargos e substituídos por indivíduos conhecidos como reacionários.
     "O Contemporâneo", fora que teve em Tchernichevsky o seu colaborador mais notável, foi suprindo pelo governo. O estado de coisas em geral cada vez mais e mais retrogradava aos tenebrosos tempos de Alexandre 1.°.
     Tais medidas, porem, não aplacaram a revolta da juventude e de outras camadas da população. Os estudantes principalmente, estavam indignados contra os dirigentes, porque estes os importunavam constantemente com toda sorte de maquinações.
     Resolveram, por isso, exigir das " autoridades competentes":
     1. O direito de fundarem uma caixa de socorro para os estudantes pobres.
     2. O direito de se reunirem nas aulas para a discussão de assuntos de interesse comum.
     3. O levantamento da opressão policial que sobre eles pesava.
     Os revolucionários, entre os quais se encontrava Tcherkesoff, tentaram levar o movimento estudantil para o terreno politico.
     Seus esforços nesse sentido foram eficazes, tendo a favorecê-los as próprias arbitrariedade dos órgãos governamentais.
     Entre os pioneiros dessa  agitação destacou-se o professor Sérgio Netchaef, homem extraordinariamente enérgico, que conseguiu fundar uma organização revolucionária, sobre cujos componentes exerceu assombrosa influência pessoal.
     Devido às perseguições, Netchaef viu-se forçado a refugiar-se no estrangeiro, não interrompendo, apesar disso, suas relações revolucionarias com seus companheiros.
     Na Suíça entrou em contato com Bakúnine e seu ambiente, com qual, a princípio, colaborou ativamente.
     Em setembro de 1869, Netchaef voltou à Rússia, dedicando-se, ali, com mais intensidade, à organização das forças revolucionarias, apoiado por suas relações no estrangeiro. Antes, porém, que a organização tomasse vulto, em vista da eliminação do estudante Ivanoff pelos revolucionários, a atenção do governo voltou-se para ela.
     Por esse fato, maus de trezentas pessoas foram detidas e conduzidas perante os tribunais.
     Tcherkesoff, que em questão se encontrava em  Moscou, conseguiu um passaporte para Netchaef, preparando-lhe para uma nova fuga para além fronteiras. Pouco tempo depois, caiu ele mesmo nas mãos dos esbirros, permanecendo na prisão, desde fins de 1869 até 1871, ano em que teve lugar o grande processo.
     Desterrado para Sibéria, Tcherkesoff fugiu de Tomsk e refugiou-se no estrangeiro.
     Primeiramente, estacionou, durante algum tempo, el Londres; depois, dirigiu-se a Suíça francesa, onde travou amistosas relações com James Guillaume, Kropotkine, Cafiero, Malatesta, e muitos outros expoentes do anarquismo, decidindo-se, dai por diante, à propaganda desta doutrina.
     No congresso da Federação de Jura, em 1880, colocou-se contra os coletivistas, ao lado dos que defendiam os comunismo libertário, cujo a filosofia abraçou por todo o resto de sua vida.
     Durante a sua permanência em Genebra, Tcherkesoff fez prolongadas viagens à França, onde por esse tempo começava a desenvolver-se o movimento libertário.
     Durante a sua permanência em Genebra, Tcherkesoff fez pro-se na contingência de sair da França, encaminhando-se pouco depois, para o Oriente. Desde 1883 até 1892, percorreu sucessivamente a Rumânia, a Turquia, a Ásia Menor, preocupando-se, desde estes países, em fomentar a propaganda subversiva em sua região natal. Durante a sua estadia no Oriente, Vistou uma ou duas vezes a Geórgia, para estabelecer ali relações secretas com os revolucionários.
     Em 1892 Tcherkesoff voltou à Europa Ocidental, habituando, com alguns intervalos, sempre em Londres. Entre os emigrantes russos da parte oriental dessa metrópole, era uma das personalidades mais conhecidas, e um dos mais atacados propagandistas do anarquismo. Tcherkesoff acompanhou com particular atenção o movimento do nascente sindicalismo revolucionário francês, sobre o qual escreveu no jornal "Freedom", de Londres. Ele esperava desse movimento uma reanimação de idéias da ala revolucionaria da primeira internacional.
     Como escritor, Tcherkesoff revelou-se brilhantemente, colaborando principalmente nos jornais " Freedom", "Temps Nouveaux", " Tieb e Volta", porém seus artigos foram traduzidos na imprensa libertária de quase todos os países. As suas duas series de artigos publicados sob as respectivas epígrafes, "Pages d'histoire socializt" e no "Neues Lebem", foram mais tarde publicados em forma ampliada e traduzidos em diversos idiomas.
     Mesmo quando não se pudessem aceitar todas as conclusões das obras de Tcherkesoff, é forçoso reconhecer ter ele demonstrado com clareza que muitas idéias que haviam sido consideradas como férreos elementos do marxismo, como por exemplo a "concepção materialista da historia", a " teoria da mais-valia", etc., eram já conhecidas dos socialistas da França e da Inglaterra muito antes de serem Marx e Engels influenciados na redação de suas teorias por outros socialistas, como Considerant, Proudhon, Thompson, Buret, e outros.
     Essas provas valeram-lhe muitos ataques de Plekanof, Kautzky, e outros coriféus, do marxismo, porém teve a satisfação de ver o conhecido marxista italiano Labriola confirmar, publicamente, que havia chegado, depois da leitura do escrito de Victor Considérant, "Princípios do Socialismo" (manifesto da democracia do século 19), à convicção de que Marx e Engels não desenvolveram um só pensamento original no seu conhecido "Manifesto Comunista".
     Pessoalmente, Tcherkesoff era um caráter completamente honesto e um homem extraordinariamente afável. Todos os que entraram em contacto em esse homem modesto, sempre em condições materiais precárias, só terão nesse particular uma apreciação unânime.
     Quando, em 1905, explodiu a primeira revolução na Rússia, Tcherkesoff correu para a sua pátria, porém a reação vencedora apagou rapidamente todas as esperanças, e Tcherkesoff teve a felicidade de fugir a tempo em direção ao estrangeiro.
     Pouco depois de estalar, em 1917, a revolução russa, Tcherkesoff voltou à Rússia. Atuou principalmente em sua terra natal, na Geórgia, mas teve que fugir novamente do país depois da contra-revolucão bolchevista. O resto de sua agitada vida passou-o em Londres, que, com o decorrer dos anos, para ele se tornou uma segunda pátria.

Rudolf Rocker

Livro: Erros e contradições do Marxismo
Autor: Varlan Tcherkesoff
Editora: Mundo Livre
Paginas: 27 à 31

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