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domingo, 21 de dezembro de 2014

Fuga e destino dos deportados após a Clevelândia

     A maioria dos anarquistas conseguiu fugir da colonia penal, mas nem todos sobreviveram à fuga, morrendo em péssimas condições de saúde. Domingos Passos conseguiu chegar em São Paulo e participou ainda de muitas assembléias e comícios em favor de Sacco e Vanzetti, desaparecendo depois, provavelmente vitima da policia politica que ainda funcionava no governo de Washington Luís.
     As cartas que chegavam à redação de A Plebe e que foram publicadas, mostravam que os militantes anarquistas evadiram-se da colônia penal em fins de 1925, permanecendo alguns meses em Belém ou Saint George até conseguirem recursos, que eram obtidos muitas vezes, por subcrições de companheiros do Sul ou mesmo à custa de trabalho semi- escravo na Guiana Francesa. É importante ressaltar que a fuga dos militantes não era  seguida de ausência nas atividades do cotidiano  revolucionário, eles procuravam suas bases e passavam a atuar na clandestinidade, como bem atesta a vida de Domingos Passos. Mesmo com o fim do estado de sitio, observamos o cerco ainda muito forte da polícia sobre os "desviantes" do padrão social estabelecido. O desaparecimento de Domingos Passos, já em 1927, atesta a manutenção da repressão aos ativistas.
     Importante mostrar que, após o mandato de Bernardes, os jornais mais aliviados da mordaça a que ficaram submetidos, promoveram uma série de reportagens, nas primeiras páginas, sobre o episódio de deportações.
     Os jornais O Globo, A Manhã e outros publicaram durante semanas, matérias bombásticas sobre a "tragédia macabra do Oiapoque" (A Manhã, 08/01/1927), que ficaram perdidas na memória dos que se aprofundaram na luta antibernardista. A historia de Clevelândia foi  praticamente ignorada pelos manuais, acadêmicos ou não, talvez por não representar um triunfalismo nos moldes da Coluna Prestes. Ou mesmo porque para lá foram mandados os "decadentes" anarquistas que, segundo as premissas do marxismo, já tinham esgotado suas táticas "artesanais" na sociedade capitalista brasileira, dando lugar à militância "conseqüente" dos comunistas, que passaram a reconhecer o Estado como interlocutor possível para sua revolução institucional partidária.
     É interessante notar que enquanto militantes anarquistas, como José Oiticica¹, foram presos e tiveram seus habeas-corpus negados em ultima instância no Supremo Tribunal Federal, o Partido do Comunista, embora ilegal no governo Bernardes, recebeu a concessão do júri supremo, para continuar suas reuniões. Fato suspeito, num momento de intolerância com os movimentos sociais no Brasil.

¹. Em 1925 o anarquista José Oiticica é preso e fica respectivamente, detido na Ilha Rasa, Ilha das Flores e na de Bom Jesus (In 45, p. 83).

Livro: Moral Pública & Martírio Privado
Autor: Alexandre Samis
Editora: Achiamé
Página: 58 á 59

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