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quinta-feira, 18 de julho de 2013

O EMPREGO DA VIOLÊNCIA (Luís Bertoni)

     Sendo justamente os anarquistas os inimigos mais decididos – pois que negam a autoridade precisamente porque ela significa violência sistematizada – criou-se em volta deles uma espécie de lenda que lhes empresta a intenção de pretenderem afirmar os seus princípios, sobretudo por meio da violência.
     Ora, é necessário esclarecer bem este ponto. Nunca temos deixado de aprovar, mesmo quando as leis excepcionais o vedaram, todos os atos de revolta individual ou coletiva que se oponham à violência da tirania lançando mão da violência defensiva.
     É evidente que, quanto maior é o grau de submissão aos opressores, mais dura é a opressão e que, para termos a esperança de vencer, é necessário combatermos com armas iguais, se não superiores. Diremos ainda que, para nós, o individuo, pela grande desproporção existente entre ele e a enorme potência estatal, esta plenamente justificado no recorrer, pela resistência, a todos os meios a seu alcance.
     Limitam-se os anarquistas ao emprego da violência para a destruição do regime da violência, que os esmaga; mas de modo algum concebem a organização de uma nova sociedade pela força. A obra renovação não se efetuará senão no sentido de ser eliminada toda a autoridade, não achando esta sua justificação senão na pretensa necessidade de manter o equilíbrio entre os interesses, o que significa continuarem a existir interesses opostos. Entretanto, choque de interesses significa luta de classes – quando a supressão destas é o verdadeiro objetivo, a obra revolucionaria não poderá interromper a sua trajetória.
     Temos sido sempre profundamente sinceros quando afirmamos que Anarquia quer dizer negação da violência. Mas suportá-la, mesmo sem para ela contribuir diretamente, significa, sem duvida alguma, deixar livre o campo. A passiva resistência tolstoiana tem grande e inegável valor moral; mas é evidente insuficiente. É preciso fazer o que o braço que nos vibra os golpes de espada pare, e não esperar que ele se canse de nos flagelar!
     Deixemos de lado os hipócritas que fingem não reconhecer que a dominação capitalista se mantém de pé unicamente graças ao emprego sistemático da violência, para se indignarem com a resistência adequada que aquela se contrapõe.
     Excetuando o curto período de luta entre um poder que declina e um poder que surge – período forçosamente anômalo e que todos almejam que seja o mais curto possível a violência é considerada como atributo exclusivo e característica função de governo. As piores atrocidades são devidas ás ordens dos representantes do Estado, em nome de uma verdadeira ou suposta maioria, mas quando muito, discutíveis sob o ponto de vista da oportunidade, da utilidade e da maneira de aplica-las; mais fica claro e patente que o poder significa ter toda a faculdade de se impor a outrem por meio da força.
     Como anarquistas, somente admitimos a violência quando aplicada contra a violência. Os nossos adversários de todas as tendências, entretanto, a concebem só a exclusivamente a serviço da autoridade.

Luís Bertoni

Livro: Anarquismo roteiro da libertação social
Autora: Edgard Leuenroth
Editora: Mundo Livre
Paginas: 50 á 51
Ano: 1963

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