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terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Revolução que os anarquistas procuravam

Pode-se proclamar sem nenhum receio de contestação que a verdadeira revolução não começou! Que não teve inicio sequer uma transformação convincente, capaz de mudar os costumes arcaicos, as formas de vida e abolir as hierarquias de classes, profissional e social, que separam, subdividindo em diversas camadas, os seres humanos.

A derrocada de um governo por razões subjetivas, emocionais, sem a existência de convicções ideológicas e de uma conscientização revolucionaria, não é revolução!

Revolução não se faz somente com espingardas na mão; é preciso que exista uma idéia revolucionaria no celebro de cada lutador!
Revolução não é a luta pelo poder nem é substituição de um governo por outro; isso é golpe de estado; troca de um político por um político, um militar por um civil ou um civil por um militar! É apear o que esta em cima para colocar em seu lugar o que estava em baixo! È inverter a ordem de luta e transformar a oposição em um governo e governo em oposição!
Revolução não é feita por um “conselho revolucionário” com um assento num palácio reunido a portas fechadas para decidir por toda a nação, em nome do povo que não foi ouvido, o que se pode ou não, o que se deve ou não se deve fazer! Predisposição autoritária, irracional de ditar ordens de cima para baixo!
Revolução não se faz por processos eleitorais, com a mudança de “lideres”, debates partidários, disputas entre partidos pela supremacia numérica de pastas a ocupar, controle dos meios de comunicação escrita e falada, imposição de censura das esquerdas em substituição às direitas ou vice-versa! Revolução não é “ordem” nem “desordem” no sentido clássico! Não é obediência irrefletida, concordância cega, respeito às leis acabam de substituir leis!

Revolução não se faz habitando luxuoso palácio. Tão pouco se faz revolução fugindo para o exterior com dinheiro acumulado às custas do trabalho do povo!
Revolução não é culpar os anarquistas pelos desacertos administrativos dos governos, nem se fará com ambições políticas.
Revolução não é perseguir e caluniar os vencidos, proferir ofensas pessoais, promover agitação de rua, inspirar manifestações por tudo e por nada com discursos candentes, com protestos, debates, chavões, “slogans”!
Revolução não é abrigo para vinganças pessoais, individuais ou coletivas, não é motivo para indiscriminadamente prender, assassinar, fuzilar, fazer lavagens celebrais determinar ilegalmente intenção em manicômio!
Revolução não é paralisação do trabalho, para obter somente aumentos salariais, com ou sem razão!
Revolução não se faz com ajuda econômica da Rússia, da China, dos países do mercado comum ou da América do Norte!

Revolução não é uma obra de militares ou civis, não tem cor, nem é exclusiva e ninguém, porque é uma obra transformadora e terá de ser de todos e de cada um!

Revolução é um acontecimento muito importante, de alcance ilimitado, em constante transformação, sempre e sempre evoluindo!
Revolução antes de tudo é uma idéia, um sentimento; é cultura; é trabalho e bem estar social distribuído eqüitativamente por todos! A revolução principia nos cérebros, evolui livremente fundamentada numa filosofia de vida generosa e positiva, baseada em sentimentos e ações que equilibram atitudes e movimentos, na harmonia que funde a natureza e o homem, que conhece e prepara personalidades emocionalmente autodisciplinadas, caracteres bem formados, cidadãos justos, capazes de produzir, participar, dar e receber.
Revolução é um estado de espírito, consubstanciado na liberdade responsável, no livre acordo, no apoio mútuo, na livre associação e na solidariedade humana. De maneira que a revolução vale tanto quanto os homens que lhe abrem o caminho, que lhe dão curso! Processa-se partindo da natureza – princípio e fim de todas as coisas; evolui com a cooperação voluntaria de todos, pela coordenação e administração do esforço manual e intelectual até alcançar o máximo de produção, da perfeição e da beleza. É um trabalho de todos em proveito de todos e de cada um!

O homem é um animal sociável, um competidor permanente que rechaça em principio os esquemas rígidos, absolutistas; e visualiza constante aperfeiçoamento, sempre em busca do belo, do harmonioso, de estágios de justiça social; por isso, é também um revolucionário permanente por excelência!
A revolução consciente, positiva, realista, só pode ter o homem – centro de todas as coisas – como figura mais importante, o traço de ligação na nova sociedade que nasce. Por conseguinte, revolução equivale a desenvolvimento de capacidade da criatura humana. A revolução consciente fomenta e desperta a grandeza de sentimentos, solidariedade entre os povos, cultiva todos os dias o amor ao próximo e a humanidade, como se cultivam a saúde e a vida. Na sua marcha, visa a integração de sentimentos e idéias capazes de tornar homem cada vez melhor, mais tolerante, compreensivo e justo. Sua meta é a grandeza do indivíduo pelo aperfeiçoamento constante, do simples para o composto, até atingi-la, no grupo, na sociedade, no plano econômico, social e humano, no plano intelectual e cultural!

(Voz Anarquista, Almada/Portugal, Dezembro de 1975)

Extraído:
Livro: Rebeldias – Volume 3
Autor: Edgar Rodrigues
Paginas: 170 á 172
Editora: Opúsculo Libertario

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