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sexta-feira, 25 de março de 2016

A Herança Grega

     Uma grande parte de nossa herança cultural e filosófica tem sua origem na Grécia antiga; nossa ciência, nossas idéias politicas, uma boa parte de nossa língua e muitos dos nossos costumes advém daquele grande florescimento que foi a gloria de Atenas por volta do ano 500 a.C. Muitos dos bens culturais que tanto estimamos levam os nomes gregos: democracia, aristocracia, psicologia, politica, êxtase, mistério; e numerosos termos médicos e ciêntificos são de origem grega. Diz que toda a filosofia desde a época grega não passou de uma nota de rodapé para Platão.
     Existe, porém uma nota escura na nossa herança grega raramente reconhecida ou entendida. A glória da Grécia que ainda ilumina nossa civilização foi comprada a um preço muito alto, um preço diariamente por cada um de nós e raramente atribuído à fonte.
     Começamos a questionar a forma patriarcal da cultura ocidental desafiando o sistema pela primeira vez a nossa herança grega. É verdade que os gregos honravam o feminino na figura de sete deusas correspondentes aos sete deuses; mas a vida do dia-dia na Grécia tinha uma estrutura patriarcal e a feminilidade sofreu um golpe doloroso que ainda não conseguiu recuperar-se. Grande parte de nossa vida emocional é constituída pela dor desta ferida ainda aberta.
     É inevitável que uma civilização "elevada" como a grega pagasse um preço igualmente elevado ou profundo. O feminino, desonrado em seu sofrimento, pagou o preço, enquanto o masculino recebia as glórias de suas conquistas. Talvez uma raça mais sábia tivesse pago este preço de sangue de uma maneira melhor, mas isto seria pedir que a humanidade como um todo não conseguiu realizar até hoje. Cabe agora a nós, a humanidade no atual estágio de evolução, pagar o preço e evoluir de uma maneira mais saudável do que as maneiras concebidas por nossos ancestrais.
     A Grécia não era a única a degradar o feminino. O mundo hebraico também negava o feminino, e as culturas menores mal chegaram a reconhecê-lo. Os hebreus, assim como os gregos, teoricamente prestigiavam o feminino. O Shekinah, a presença de Deus no mundo, era nada menos que a metade feminina de Deus. Mas, na prática, o judaísmo era uma instituição patriarcal que fazia o feminino pagar o preço pela portentosa realização masculina.
     Podemos agradecer por estas conquistas, pois o mundo ficaria consideravelmente mais pobre caso fossem destruídas. A ciência sereia derrubada; a medicina e todas as maravilhas mecânicas da nossa época desapareceriam. Estaríamos "adubando o campo arado", de acordo com Mefistófeles no Fausto de Goethe. Embora tenhamos começado a restabelecer o lugar da mulher no nosso mundo moderno, ainda não fizemos o suficiente para restaurar os valores femininos: o sentir, a paz, o contentamento e a perspectiva. Atualmente há vozes na sociedade que - para reduzir o sofrimento e a alienação - pleteiam o retorno à natureza. Gandhi, os amish, Rousseau, Thoreau, assim como os hoppies dos anos sessenta defendiam modos de vida mais simples para ficarmos mais próximos da mãe protetora, a Terra.
     Assim talvez aliviássemos a dor, mas perderíamos o que temos de melhor no mundo ocidental. Um jeito melhor seria pagar de maneira mais consciente o preço do que ganhamos e por esse preço-consciência ganhar o que há de melhor no gênio masculino. Caso venha uma era melhor, um milênio, ela emergirá desta apreciação consciente de ambos os valores e não do balanço violento do pêndulo de um extremo a outro.

Extraído:
Livro: Feminilidade Perdida e Reconquistada
Autor: Robert A. Johnson
Editora: Mercuryo
Paginas: 19 á 21

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