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sexta-feira, 26 de abril de 2019

Amor Livre (A Voz Do Trabalhador 01/02/1915)

     Amor livre, não é, como alguns pretendem e outros julgam, as relações sexuais havidas de momento em praça pública, ou num andar registrado sob um número de polícia.
     Amor livre não é a necessidade de satisfazer um desejo natural, cumprindo uma exigência simplesmente fisiológica, aproveitando-se de uma oportunidade que o acaso dispõe no meio falso em que a sociedade vive.
     Amor livre não é uma união vulgar que por ae faz, quando da parte do homem existe o preconceito de nem dar o seu nome á companheira, porque entende que não é digna dele.
     Amor livre é o mais belo sentimentos l de assimilação da vontade do pensamento que se reúne em dois indivíduos de sexo diferentes. E' um todo formado pelo homem e pela mulher que se complementam, que buscam a vida em comum, sem dependências de códigos ou leis que determinem as suas funções, juntando-os por simples convenção social.
     Vivem juntos porque se querem, se estimam no mais puro, belo e desinteressado sentimento de amor; vivem juntos porque é essa a sua vontade, e não estão ligados por determinação alheia nem por interesses que a um digam respeito.
     Tão pouco se estremecem pelo único desejo de cópula, que é naturalmente uma conseqüência de aproximação e da afinidade de sentimentos.
     Quando existem incompatibilidades, quando por qualquer do outro, nada os força a viverem juntos, e não buscam leis de separação porque as não tiveram de junção.
     Amor livre é o mais vivo testemunho da sinceridade do amor que existe entre o homem e a mulher; no amor livre cessa em absoluto qualquer desconfiança que na atualidade existe, muitas vezes, entre casais.
     A dúvida, a desconfiança, a incerteza nunca poderão existir no amor livre porque o homem e a mulher não necessitam de recorrer, como agora, á dissimulação, á mentira, ao engano para encobrir muitas vezes no mais íntimo do seu ser, qualquer novo sentimento afetuoso que alguém possa ter merecido!
     Amor livre é a plena liberdade de amar e não a forma hipócrita de casamento em que o homem e a mulher ligados indissoluvelmente pelo casamento civil ou religioso são obrigados pelo preconceito a suportarem-se com enjôo, beijando-se em público com fel nos lábios e a mentira no coração, e ferindo- se por todas as formas e feitios na alcova conjugal.
     E ponha  nisto os olhos as mulheres que aceitam o poder despótico dos pais que as submetem pelo casamento este ou aquele de seu agrado, ou as que se entregam ao poder de um marido, que, conforme a lei o declara, será o seu dono e o seu tirano, embora seja muitas vezes um amigo sincero e até delicado.

Antonio C. Altavila

Extraído:
Jornal: A Voz do Trabalhador
Ano: VIII
Data: Rio De Janeiro — BRAZIL — 1 DE FEVEREIRO DE 1915 N.67
página: 2

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