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quinta-feira, 5 de maio de 2011

Socialismo: Ponto da Doutrina

Socialismo: Que foi? A que está reduzido?


Saído fora da especulação dos filósofos, do sonho dos utopistas, das revoltas da plebe, o socialismo anunciou-se ao mundo como uma boa nova da era moderna. Era ele uma promessa de civilização superior; era a rebelião contra toda a prepotência, contra toda injustiça; era abolição do ódio, da concorrência, da guerra; o triunfo do amor, da cooperação, da paz; era o advento da liberdade e do bem-estar para todos; a realização no futuro daquele éden que a fantasia dos povos e os poetas cheios de idéias ignorantes da historia tinha colocado na origem da humanidade.


Era a luta humana por excelência, e levando-se por sobre as pátrias e as raças, sobre as religiões e as escolas filosóficas, sobre as classes e as cartas, abraçava a todos os homens e mulheres nem santo ideal de igualdade e solidariedade. Não pedia a substituição de um partido por outro ou de uma classe por outra, nem por um advento do poder e à riqueza em um novo estado social, mas sim, a abolição das classes, a solidarização de todos os seres humanos no trabalho e no aproveitamento em comum. E os socialistas eram apóstolos, confessores e mártires. Sentiam levar em si mesmos um mundo. Tinham a consciência tornava os intrépidos, valentes e bons.


Ignorantes ou doutos, jovens ingênuos ou velhos restos de outras batalhas, parte escolhida do proletariado ou filhos da burguesia rebeldes à classe em que tinha nascido – que os seus privilégios de berço consideravam-nos como uma dívida que lhe impunha maiores deveres para a causa dos deserdados- eles tinham fé no bem e em si mesmos; amavam o povo; estavam ansiosos de ciência e de lutas; e firmes e decididos afrontavam as ironias e as calunias, as pequenas e as grandes perseguições, os cárceres, o desterro, a miséria, o patíbulo marchando sempre para frente.


Empenhados numa luta de morte contra todas as instituições políticas, econômicas, judiciais e universitárias do mundo burguês, chocando com todos os interesses e tanto prejuízos, devendo resistir a seduções e ameaças de todas as espécies, eles, tanto por repugnâncias natural contra os exploradores e mistificadores do povo, como pela tática de combate, separavam-se completamente de todos aqueles que não eram povo e não combatiam pela emancipação integral do povo.


Sós contra todos, escreviam em sua bandeira as palavras das consciências íntegras, ou palavras dos que têm fé em si e em sua própria causa, as palavras sagradas dos dias de batalha: “Quem não está conosco está contra nós”. E entendiam que estavam com eles todos os míseros, todos os oprimidos, todas as vítimas e todos aqueles que faziam própria a causa dos míseros e combatiam pela justiça, pela liberdade e pelo bem-estar geral, como sabiam que estavam contra eles todos os detentores e sustentadores e poder e todos aqueles que ao poder aspiravam.


Outro socialismo, outros socialistas não existiam.


E agora?


Agora existe um socialismo que serve para enganar o povo com promessas vãs, para mantê-lo dócil ou para que lhe sirva de escada; e há socialistas que se inclinam ante os ministros, que mentem aos companheiros, que prostituem ideais, consciências e programas para arrancar aos ingênuos um voto que os possa fazer escolher no seio da burguesia.


Ó socialistas atuais, homens simples e puros e quem ferve no peito o santo amor pelos homens!... Ó socialistas que pela adulação de falsos amigos defendestes os interesses da burguesia! Não vos envergonhais vendo a vossa bandeira arrastada no lodo.


Oh, não! Estes comerciantes do voto, estes comediantes da política já perderam a capacidade de se envergonharem. E vós, os que conservais ainda são vosso coração, regressai, se ainda podeis, ás varonis batalhas que expulsaram do mundo a propriedade individual e o governo, a miséria e a escravidão.



Errico Malatesta

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